Bíblia De Estudo Prazer Da Palavra, 47 — 2coríntios: 2coríntios 72643n

©Israel Belo de Azevedo, 2021-2022

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ISBN: 978-65-89202-52-3

Bíblia de Estudo Prazer da Palavra

Coordenação Editorial

Israel Belo de Azevedo

Revisão

Itamar Alves e Amurabe de Andrade

Designer Gráfico

Leila Simões

Editora PRAZER DA PALAVRA

Rio de Janeiro 2021

www.prazerdapalavra.com.br

ANTES DO COMEÇO

A Bíblia é a história do amor de Deus para com o ser humano. Por isto, as Sagradas Escrituras garantem: “Deus é amor” (1João 4.8).

Cada capítulo da Bíblia tem o propósito de descrever este amor, demostrado em quatro grandes momentos:

A criação do mundo, dos animais e dos seres humanos (Gênesis 1-2)

A escolha humana pela rebeldia contra Deus e a promessa de Deus que enviaria o Messias para resgatar a humanidade e reconciliá-la com Deus (Gênesis 3; Isaías 52.13-15 e 53.1-12; Salmos 2, 22 e 110)

A missão do Messias realizada entre sua vinda a nós e a sua volta para o Pai (João 1; Hebreus 1-3; Filipenses 2)

A promessa divina da volta de Jesus para estabelecer o novo céu e a nova terra (João 14; Apocalipse 21-22)

A PROMESSA MESSIÂNICA — A Bíblia foi escrita para nos falar do

Messias Jesus, do que viria (como prometido no Antigo Testamento) e do que veio e voltará (como relatado no Novo Testamento).

No Antigo Testamento há várias profecias sobre o Messias. Entre essas, algumas estão nos Salmos (como os Salmos 2, 22 e 110) e na profecia de Isaías (sobretudo os capítulos 52 e 53). Os autores do Novo Testamento citam 28 trechos dos Salmos, que nos lembram que a Bíblia é sempre um convite à salvação por meio de Jesus Cristo. Entre os louvores messiânicos, o Salmo 2 é citado em Romanos 13.33 e Hebreus 1.5 e 5.5; o 16 é referido em Atos 2.31 e 13.35. Jesus, na cruz, cita o Salmo 22.

A VINDA REALIZADA DO MESSIAS — O Messias veio. Todo o Novo Testamento foi escrito para contar a história desta vinda e do convívio do Filho de Deus com o ser humano. Os Evangelhos são as notícias do que Jesus fez. O primeiro capítulo de um desses evangelhos (João) faz um resumo magistral:

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (João 1.1).

“E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (João 1.14).

O autor aos Hebreus resume o ministério de Jesus com a seguinte nota:

“Antigamente, Deus falou, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos

profetas, mas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e pelo qual também fez o universo” (Hebreus 1.1-2).

A VOLTA PROMETIDA DE JESUS — Em sua carta aos Filipenses, o apóstolo Paulo relata que Deus se tornou carne em Jesus em toda a plenitude, vivendo como homem completo, mas retomou sua condição de Deus completo depois da ressurreição e ascensão (Filipenses 2.5-11).

Jesus mesmo falou que deixaria seus amigos por um tempo (João 14), mas voltaria, como aprendemos no último livro da Bíblia (Apocalipse 21-22).

Mesmo antes da vinda do Messias, pela fé que imagina e crê, muitos poetas da Bíblia falaram dele e disseram como desenvolveria sua missão salvadora entre nós.

Os 66 livros da Bíblia são a história da salvação, contada em prosas e poesias, cartas e genealogias, parábolas e alegorias, decretos e sabedorias, registros e profecias.

2Coríntios

Capítulos: 13

Versículos: 257

Tempo para leitura: 30 minutos

A epístola de 2Coríntios pode ser resumida como um texto por meio do qual o apóstolo Paulo pretende defender a sua autoridade apostólica diante da comunidade de Corinto. É justamente nesta apologia da autoridade apostólica de Paulo que está a singularidade deste texto, pois na mesma é possível perceber um pouco da personalidade do apóstolo e do entendimento que o mesmo tem de seu ministério. Estamos diante do seu texto mais autobiográfico, mais que Gálatas, por exemplo, em que há muito material deste tipo.

Ao falar do ministério apostólico, Paulo nos oferece um pouco de sua própria personalidade. Em sua segunda carta, que complementa a primeira, o apóstolo Paulo trata da natureza de nossa aliança com Cristo (2Coríntios 1-3) e de nosso corpo, espiritualmente falando (2Coríntios 4-7).

Em sua correspondência, Paulo orienta sobre a oferta a ser enviada aos irmãos de Jerusalém, que avam por um momento difícil (2Coríntios 8-9). Depois

mostra de onde vem sua autoridade como líder das comunidades que foram surgindo na Grécia e (hoje) Turquia (2Coríntios 10-11).O ponto alto é a narrativa de sua experiência pessoal em que, tendo um problema (“espinho na carne”), pediu uma intervenção de Deus para o livrar, mas recebeu uma resposta absolutamente confortadora: “Paulo, a minha graça lhe basta”; é tudo o que você precisa (2Coríntios 12.9).

Embora a palavra “cruz” não apareça, o objetivo de Paulo nesta carta é mostrar como ela deve ser o centro da vida cristã, sempre a partir da humildade, não do orgulho. O apóstolo restabelece a doutrina (em seu sentido conceito e prática) que estava sendo esquecida pelos irmãos, ameaçados por pregadores em busca de prestígio e dinheiro.

É nesta carta que mais sabemos do sentimento de Paulo em relação ao seu ministério. 2Coríntios pode ser organizada em cinco partes:

Parte 1 (2Coríntios 1.1-14) — SAUDAÇÕES.

Parte 2 (2Coríntios 1.15-7.16) — O DESEJO de uma terceira viagem a Corinto.

Parte 3 (2Coríntios 8.1-9.15) — A COLETA, com as orientações de como deve ser realizada, sob a coordenação de Tito.

Parte 4 (2Coríntios 10.1 a 13.10) — A DEFESA, apresenta não como algo pessoal, porque tem o objetivo de preservar a unidade e a pureza da igreja.

Parte 5 (2Coríntios 13.11 a 13.14) — A GRAÇA TRINITÁRIA, com sua despedida.

Se em 1Coríntios usa de ironia, em 2Coríntios este recurso está presente, convertendo-se em sarcasmo. Um cuidado a ser tomado é que, na questão da linguagem, Paulo usa palavras em diferentes sentidos. Assim, ele se diz “louco” e sensato ao mesmo tempo; ele reconhece ser “fraco” e “forte” ao mesmo tempo. A leitura cuidadosa, no entanto, deixa tudo claro.

PARA SABER MAIS

GARLAND, David. 2Corinthians. Nashville: Broan & Holman, 1999.

PLUMMER, Alfred. Corinthians: Critical and Exegetical Commentary. Edinburgh: T. & T, Clark, 1914.

THISELTON, Anthony C. 2Corinthians: a short exegetical and pastoral commentary. Eugene, OR: Cascade Books, 2019.

2Coríntios

2Coríntios 1 - 2Coríntios 2 - 2Coríntios 3 - 2Coríntios 4 - 2Coríntios 5 2Coríntios 6 - 2Coríntios 7 - 2Coríntios 8 - 2Coríntios 9 - 2Coríntios 10 2Coríntios 11 - 2Coríntios 12 - 2Coríntios 13

Segunda Carta de Paulo aos Coríntios

Parte 1 (2Coríntios 1.1-14) — SAUDAÇÕES. Na segunda carta de Paulo aos Coríntios, Paulo menciona Timóteo como colaborador no momento em que escrevia a carta, dirigida primariamente à igreja de Corinto, mas para ser lida em toda a região da Acaia (no norte da Grécia).

2Coríntios 1

Prefácio e saudação

¹ Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus, e o irmão Timóteo, à igreja de Deus que está em Corinto e a todos os santos em toda a Acaia.

² Que a graça e a paz de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo estejam com vocês.

1.2 — Paulo cita Timóteo por lhe ter servido como amanuense (secretário) na preparação da carta e também para tê-lo como alguém que estava de acordo com o conteúdo da correspondência. Ele o chama de irmão, como fizera com Sóstenes na primeira carta à mesma igreja (1Corínitos 1.1). E prosseguiu se referindo ao seu filho na fé,Timóteo, nas aberturas das correspondências com os Colossenses e com Filemon. Certamente em algumas vezes em que falava “nós” (como em 1.8), Paulo incluia Timóteo. Quanto a Acaia, era uma das duas províncias romanas da Grécia e ficava no sul, banhada pelos mares Egeu e Jônico; a outra era a Macedônia, ao norte. Essa divisão istrativa foi criada

pelo imperador César Augusto oito décadas antes (no ano 27 a.C.). Corinto era a capital da Acaia, onde moravam Estéfanas (1Coríntios 16.15-18) e Febe (Romanos 16.1-2).

Acaia

Ação de graças

³ Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdias e Deus de toda consolação!

1.3 — Paulo começa sua carta com uma doxologia (isto é, uma bênção). Só aqui ele faz isto e dá um tríplice atributo a Deus. Esta saudação é trinitária, porque exalta o Deus Pai, o Deus Filho e o Deus Espírito, uma vez que a palavra que usava para “consolação” é “paraklesis” (παρακλησις), similar a “parakletos”, que é como Jesus chama o Espírito Santo (cf. João 14 a 16).

⁴ É ele que nos consola em toda a nossa tribulação, para que, pela consolação que nós mesmos recebemos de Deus, possamos consolar os que estiverem em qualquer espécie de tribulação. ⁵ Porque, assim como transbordam sobre nós os sofrimentos de Cristo, assim também por meio de Cristo transborda o nosso consolo. Se somos atribulados, é para o consolo e a salvação de vocês; se somos consolados, é também para o consolo de vocês. Esse consolo se torna eficaz na medida em que vocês am com paciência os mesmos sofrimentos que nós também amos.

1.6 — Como se recordasse as situações de sofrimento em que foi consolado, o apóstolo convoca os coríntios a serem agentes de consolação para os que sofrem. Neste sentido, devem seguir o exemplo de Paulo, que os consolou. O Evangelho não traz apenas honra e alegria, mas também vergonha e tristeza. Paulo fala de sua experiência dupla, a de sofrer e ser consolado, a de ver o sofrimento do outro

e consolar. Neste ministério, nosso modelo é Jesus, que nos consola. Esta experiência de ser consolado não é para ficar retida, mas compartilhada.

⁷ A nossa esperança em relação a vocês é sólida, sabendo que, assim como vocês são participantes dos sofrimentos, assim também serão participantes da consolação.

1.7 — Apesar das atitudes de muitos em Corinto, Paulo não desiste deles. Eram salvos porque tinham recebido e abraçado a mensagem da cruz, onde Cristo sofreu. Por isso, são agora convocados a serem agentes de consolo, por meio da unidade, não da divisão. Eles não deviam se afundar no egoísmo, porque consolar é também interceder pelo outro, defender o outro.

⁸ Porque não queremos, irmãos, que vocês fiquem sem saber que tipo de tribulação nos sobreveio na província da Ásia. Foi algo acima das nossas forças, a ponto de perdermos a esperança até da própria vida. De fato, tivemos em nós mesmos a sentença de morte, para que não confiássemos em nós mesmos, e sim no Deus que ressuscita os mortos, ¹ o qual nos livrou e ainda livrará de tão grande morte. Nele temos esperado que ainda continuará a nos livrar, ¹¹ enquanto vocês nos ajudam com orações a nosso favor, para que, por muitos, sejam dadas graças a Deus a nosso respeito, pelo benefício que nos foi concedido por meio da súplica de muitos.

1.11 — O apóstolo relata os sofrimentos pelos quais ou desde a carta anteriormente enviada. Ele menciona os tempos difíceis vividos na Ásia, uma província controlada pelo Senado romano, não pelo palácio imperial. Seu território englobava a parte ocidental do que é hoje a Turquia, com as ilhas do mar Egeu. Paulo não diz que tribulação ou. Pode ter sido a confusão provocada pelo ourives Demétrio em Éfeso (Atos 19.23–20.1). Pode ter sido a forte oposição vinda dos judeus (narrada ao longo de Atos 20 a 21). Pode ter sido alguma enfermidade. Paulo pode também estar usando um termo genérico, sem nenhum evento específico. O que ele informa é que a situação foi

desesperadora e pensou que fosse morrer e não poderia continuar sua missão. No entanto, a experiência não o enfraqueceu, porque aumentou sua confiança em Deus. Esta confiança continuava e Paulo contava com as orações dos irmãos de Corinto em seu favor. Quanto à expressão “sentença de morte”, não deve ser entendida no sentido literal mas metafórico para significar “decisão”, no caso, uma resposta negativa que Deus lhe deu a um pedido feito. Pode ter a ver com o pedido para que lhe fosse retirado o espinho na carne; ele pediu mas a sentença (decisão) de Deus foi diferente. Ele pediu a intervenção de Deus, mas Deus agiu de outra maneira, totalmente inesperada. Depois, no entanto, por causa das orações dos irmãos, o livramento veio. Nós não sabemos qual foi a aflição, mas os coríntios sabiam e oraram pelo apóstolo.

A sinceridade de Paulo

¹² Porque a nossa glória é esta: o testemunho da nossa consciência de que com simplicidade e sinceridade de Deus, não com sabedoria humana, mas na graça divina, temos vivido no mundo, especialmente em relação a vocês. ¹³ Porque nenhuma outra coisa escrevemos para vocês, a não ser aquilo que vocês leem e entendem. E espero que vocês entendam completamente, ¹⁴ como também já nos entenderam em parte, que seremos a glória de vocês, assim como vocês também serão a nossa glória no Dia de Jesus, nosso Senhor.

1.14 — Paulo enuncia o problema dos coríntios: era o orgulho (“kauchema”, em grego). Eles deviam parar de exaltar a si mesmos e ar a depender da graça que os salvara. Deviam parar de olhar para si mesmos e olhar mais para Paulo, que seguia o modelo de Jesus, que se humilhara embora pudesse se exaltar (cf. Filipenses 2). Quando esteve entre eles e quando lhes escreve, Paulo o faz com simplicidade e transparência, apesar de alguns deles torcerem suas palavras.

“Dia de Jesus” é o dia da volta de Jesus para julgar mortos e vivos. A expressão (às vezes, sintetizada numa só palavra “dia”, como em 1Coríntios 3.13) vem dos

profetas do Antigo Testamento (como em Amós 5.18) e Paulo a repete várias vezes, ora como “Dia de Jesus” (Filipenses 1.6, 1.10 e 2.16), ora como “Dia do Senhor” (1Coríntios 1.8 e 5.5, 1Tessalonicenses 5.2 e 2Tessalonicenses 2.2). Nesse dia de juízo alguns coríntios entenderão que Paulo os amou, como alguns deles já tinham entendido. Se havia algum orgulho, era o de amar e serem amados, nenhum outro.

Parte 2 (2Coríntios 1.15 a 7.16) — O DESEJO. Em que o apóstolo anuncia que pretende voltar a Corinto, antes de se dirigir a Jerusalém. Nesta parte, Paulo descreve o tesouro do evangelho, através do qual a fragilidade humana se torna poderosa pela presença do Espírito Santo, visando alcançar outras pessoas com o ministério da reconciliação.

Paulo explica a sua demora em ir a Corinto

¹⁵ Com esta confiança, eu queria primeiro ir encontrar-me com vocês, para que tivessem um segundo benefício. ¹ Queria, ao ar por aí, dirigir-me à Macedônia, e da Macedônia voltar a encontrar-me com vocês, sendo então encaminhado por vocês para a Judeia.

1.16 — Em 1Coríntios 16.7, Paulo informa que não queria fazer uma visita breve (“de agem”) por Corinto, mas permanecer lá por mais tempo e dali seguir para Jerusalém com as ofertas (“benefícios”) dos irmãos. Sua ausência deixara um vazio, que acabou sendo preenchido por homens inescrupulosos, aos quais chamaria de “superapóstolos” (11.5 e 12.11), como os demonstravam as informações chegadas de lá.

Paulo, então, escreveu duas cartas. A primeira se perdeu e a segunda (que temos no Novo Testamento como 1Coríntios) foi levada por Timóteo. Alguns aceitaram os conselhos de Paulo e outros não, gerando uma divisão. Paulo

mudou seus planos e fez uma viagem rápida a Corinto. Um grupo o enfrentou e a outra parte não o defendeu. O apóstolo preferiu voltar para Éfeso, de onde escreveu outra carta (a terceira, também perdida e que foi levada por Tito, seu assistente ministerial). Neste ínterim, muitas dificuldades lhe sobrevieram na Ásia Menor, uma península entre os mares Negro, Egeu e Meditarrâneo, no oeste da Turquia moderna.Tito continuava entre os coríntios para “garantir que se arrependessem, reforçar o compromisso deles com Paulo e estimular a participação na coleta em favor dos pobres entre os santos de Jerusalém”. Certamente, Paulo aguardava uma resposta positiva à sua carta pelos lábios de Tito, com quem pretendia se encontrar em Trôade, onde havia boas oportunidades para a pregação do Evangelho. De fato, a chegada de Tito com boas notícias sobre o arrependimento da maioria e sobre o amor deles por Paulo foram de grande conforto (7.6-15). “A carta tinha reparado a brecha”. Paulo respondeu escrevendo a quarta carta, segunda para nós, e “enviou Tito de volta com dois outros irmãos para completar a coleta (8.6-22)”. (Cf. GARLAND, David. 2Corinthians. Nashville: Broan & Holman, 1999.

Ásia Menor

¹⁷ Ora, ao querer isso, será que agi com leviandade? Ou, ao tomar decisões, será que decido segundo a carne, de modo que haja em mim, simultaneamente, o “sim, sim” e o “não, não”? ¹⁸ Mas, como Deus é fiel, a nossa palavra, dirigida a vocês, não é “sim e não”. ¹ Porque o Filho de Deus, Jesus Cristo, que foi anunciado entre vocês por nós, isto é, por mim, Silvano e Timóteo, não foi “sim e não”; pelo contrário, nele sempre houve o “sim”. ² Porque todas as promessas de Deus têm nele o “sim”. Por isso, também por meio dele se diz o “amém” para glória de Deus, por meio de nós. ²¹ Mas aquele que nos confirma juntamente com vocês em Cristo e que nos ungiu é Deus, ²² que também pôs o seu selo em nós e nos deu o penhor do Espírito em nosso coração.

1.22 — Alguma oposição persistia. Alguns talvez achassem que não tiveram coragem de ir pessoalmente a Corinto e enviara uma carta. Paulo defende a decisão que tomou. Ele não estava sendo covarde ou dúbio, dizendo ora uma coisa (“sim”), ora outra (“não”). Eles deviam se lembrar que, quando estivera na cidade pela primeira vez, junto com Silvano e Timóteo, fora bem aceito, de modo que aceitaram o Evangelho. Ele continuava o mesmo. Todos deviam saber que Paulo não buscava a aprovação deles, porque já estava aprovado por Deus.

Esta verdade é destacada pelo apóstolo por meio de duas metáforas: “selo” e “penhor”. Ser selado por alguém era, na antiguidade, ser propriedade de alguém. Ele e os coríntios eram propriedades de Deus, e a Ele deviam servir. Dar algo como “penhor” se assemelha, nos dias de hoje, ao sinal dado numa transação; depois do sinal, o negócio está garantido. Deus já pagou por nós na cruz e continua pagando, para que continuemos sendo sua propriedade. “Para Paulo, “o dom do Espírito é uma parte da redenção da pessoa inteira; é o início do processo que terminará quando os crentes forem revestidos dos seus ‘corpos espirituais’ (isto é, quando entrarem no modo de existência determinado apenas pelo Espírito Santo”. (FEE, Gordon. God’s Empowering Presence: The Holy

Spirit in the Letters of Paul. Ada: Baker, 2009.

²³ Eu, porém, por minha vida, tomo Deus por testemunha de que foi para poupar vocês que ainda não voltei a Corinto. ²⁴ Não que tenhamos domínio sobre a fé que vocês têm, mas porque somos cooperadores da alegria de vocês. Porque, pela fé, vocês estão firmes.

1.24 — Paulo evitou ir a Corinto, não por medo, mas para que não piorasse as coisas com sua presença direta. Ele não era dono deles, apenas um pregador. E deu certo o modo de ele agir.

2Coríntios 2

¹ Porque decidi por mim mesmo o seguinte: não voltar a me encontrar com vocês em tristeza. ² Porque, se eu entristeço vocês, quem me alegrará, senão aquele a quem tenho entristecido? ³ E escrevi isso para que, quando eu for, não seja entristecido por aqueles que deveriam me alegrar, confiando em todos vocês de que a minha alegria é também a alegria de vocês.

2.3 — Para evitar mais sofrimento, Paulo concluiu que devia retardar uma visita a Corinto. A presença dele poderia gerar mais tristeza e ele decidiu evitá-la.

⁴ Porque lhes escrevi no meio de muitos sofrimentos e angústia de coração, com muitas lágrimas, não para que vocês ficassem tristes, mas para que soubessem do amor que tenho por vocês.

2.4 — Que carta gerou em Paulo tantos “sofrimentos e angústias”? Pensam alguns que foi uma carta que acabou perdida. Pensam outros que foi aquela que conhecemos como 1Coríntios. Não temos como saber com certeza, mas a maioria dos estudiosos prefere a primeira opção, o que implica dizer que o apóstolo escreveu não apenas duas, mas três ou quatro cartas aos coríntios. No verso 4, talvez por que o criticassem por estar retardando sua ida à cidade, o apóstolo lembra ainda que esteve muito ocupado com as aflições enfrentadas na Ásia Menor (1.8-10), embora soubesse que sua agenda era controlada por Deus (1.12). Na verdade, ele ponderara (2.1) que uma visita poderia agravar a tensão e decidira deixar esta viagem para outro momento.

O perdão para o arrependido

⁵ Ora, se alguém causou tristeza, não o fez a mim, mas, para que eu não seja demasiadamente áspero, digo que em parte causou tristeza a todos vocês. Basta-lhe a punição imposta pela maioria. ⁷ De modo que, agora, pelo contrário, vocês devem perdoar e consolar, para que esse indivíduo não seja consumido por excessiva tristeza. ⁸ Por isso, peço que vocês confirmem o amor de vocês para com ele.

2.8 — Quando Paulo esteve com os coríntios, um membro da comunidade o ofendeu publicamente, questionando grosseiramente sua liderança. O problema se tornou maior porque a maioria se calou, como se concordasse. Pode ser que o questionamento tenha sido o de recusar a orientação de que o incestuoso devia ser afastado (1Coríntios 5.1-5). Decorrido algum tempo, esse irmão se arrependeu. Paulo o perdoou. No entanto, nem todos o fizeram. O apóstolo pede que o irmão seja perdoado e consolado. Em suas cartas, Paulo usa dois verbos para o ato de perdoar: “aphiēmi” e “charizomai”. Aqui, contudo, ele usa “charizomai”, palavra vinda de “charis”, graça. A punição alcançara seus efeitos e o irmão não precisava mais ser mantido afastado, mas tratado com graça.

E foi por isso também que eu lhes escrevi, para ter prova de que, em tudo, vocês são obedientes. ¹ A quem vocês perdoam alguma coisa, eu também perdoo. Pois o que perdoei, se é que perdoei alguma coisa, eu o fiz por causa de vocês na presença de Cristo, ¹¹ para que Satanás não alcance vantagem sobre nós, pois não ignoramos quais são as intenções dele.

2.11 — Paulo espera que os coríntios sejam obedientes a Jesus Cristo, o que demonstrariam seguindo a orientação recebida sobre a disciplina ao irmão pecador. Se assim agisse, haveria unidade entre o fundador da igreja e a comunidade. Agindo assim, não dariam lugar à confusão, que está sempre a serviço de Satanás. É a unidade na igreja que faz com que o mundo creia, como ensinou Jesus (João 17.21).

A intranquilidade de Paulo em Trôade

¹² Quando cheguei a Trôade para pregar o evangelho de Cristo, vi que uma porta se havia aberto para mim, no Senhor. ¹³ No entanto, não tive tranquilidade no meu espírito, porque não encontrei o meu irmão Tito. Por isso, despedindo-me deles, parti para a Macedônia.

2.13 — Trôade, a antiga Tróia dos gregos, estava a 1.000 km de Corinto. Fica hoje na Turquia e tinha à época uns 40.000 habitantes. Nesta cidade, Paulo teve a visão em que era chamado para pregar na Macedônia (Atos 16.6-10), de onde agora escrevia. Ele percebeu que, a partir de Trôade, o evangelho poderia avançar mais rapidamente pela Ásia Menor, mas não se sentiu seguro para continuar sem a companhia de Tito.

Trôade

A vitória em Cristo

¹⁴ Graças, porém, a Deus, que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo e, por meio de nós, manifesta a fragrância do seu conhecimento em todos os lugares. ¹⁵ Porque nós somos para com Deus o bom perfume de Cristo, tanto entre os que estão sendo salvos como entre os que estão se perdendo. ¹ Para com estes, cheiro de morte para morte; para com aqueles, aroma de vida para vida. Quem, porém, é capaz de fazer estas coisas?

2.16 — O evangelho é o poder de Deus para a salvação dos que o aceitam (Romanos 1.16) e para a perdição (“cheiro de morte”, aqui) dos que o rejeitam. Demanda, portanto, decisão. Para falar da salvação, Paulo usa duas metáforas: triunfo e fragrância ou perfume. Triunfo (“thriambeuo”) alude à procissão com a qual um general vencedor entrava triunfalmente em Roma, cercado pelos cativos que agora seriam escravos dos homens livres, indicando assim sua vitória completa na campanha militar que liderara. Há uma diferença: o general é Cristo e os salvos por ele são escravos, indicando a humildade (não glória) dos seguidores de Jesus. Vivendo nesta humildade, todos veriam a “fragrância” (“osme”) do Evangelho e seu cheiro ou perfume (“euodia”) se espalharia.

¹⁷ Porque nós não estamos, como tantos outros, mercadejando a palavra de Deus. Pelo contrário, em Cristo é que falamos na presença de Deus, com sinceridade e da parte do próprio Deus.

2.17 — Não “mercadejar” é agir com integridade. Na feira, os comerciantes

dividiam seus produtos em pedaços para ficarem mais baratos. Paulo quer entregar o evangelho como ele é: integral. Sua finalidade não é financeira. Ele não prega por dinheiro. Ele não prega para viver. Ele vive para pregar.

2Coríntios 3

O ministério da nova aliança

¹ Estamos começando outra vez a recomendar a nós mesmos? Ou será que temos necessidade, como alguns, de entregar cartas de recomendação para vocês ou pedi-las a vocês? ² Vocês são a nossa carta, escrita em nosso coração, conhecida e lida por todos. ³ Vocês manifestam que são carta de Cristo, produzida pelo nosso ministério, escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, nos corações.

3.3 — Em Corinto, exibir prestígio e riqueza era um hábito muito praticado, especialmente porque a prosperidade era uma grande possibilidade. Permanecem registros de pessoas que construíram colunas em que informavam que custearam a construção com recursos próprios. Desse modo, pretendiam ser reconhecidos. Paulo diz que não precisa apresentar suas credenciais aos seus irmãos. O evangelho ali pregado era a sua melhor credencial. Por meio da pregação de Paulo, os coríntios foram regenerados pelo Espírito Santo e seus corações de pedra foram transformados em corações de carne (conforme a promessa em Ezequiel 36.26).

⁴ E é por meio de Cristo que temos tal confiança em Deus. ⁵ Não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa capacidade vem de Deus, o qual nos capacitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito; porque a letra mata, mas o Espírito vivifica.

3.6 — Por causa de Cristo, temos segurança (“confiança”) para viver. Não precisamos nos exibir em busca de aplausos; não precisamos de cartas de

apresentação. Por causa do Espírito Santo somos capacitados para pregar e viver o Evangelho, a “nova aliança” que Deus apresentou na cruz de Jesus. A nova vida é possível por causa do Espírito Santo, não por causa de nossa competência pessoal. Por Ele podemos interpretar o Antigo Testamento à luz de Cristo. O Espírito Santo nos capacita para ver o Antigo Testamento apontando para Cristo, a velha lei sendo substituída pela graça, a morte sendo vencida pela vida.

⁷ E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de glória, a ponto de os filhos de Israel não poderem fixar os olhos na face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, ainda que fosse uma glória que estava desaparecendo, ⁸ como não será de maior glória o ministério do Espírito? Porque, se o ministério da condenação teve glória, em muito maior proporção será glorioso o ministério da justiça. ¹ Pois, neste particular, o que era glorioso já não tem mais glória diante da glória atual, que é muito maior. ¹¹ Porque, se o que estava desaparecendo teve a sua glória, muito mais glória tem o que é permanente.

3.11 — Paulo lembra a história de Moisés quando esteve com o Deus Eterno no monte Sinai (cf. Êxodo 34.29-35). O apóstolo compara os ministérios de Jesus e de Moisés, para mostrar que a glória manifesta na cruz era superior. Aquela “estava desaparecendo”, isto é, era ageira e seria substituída pela graça em Jesus, “que é muito maior”, especialmente pela “justiça” (isto é, justificação pela fé em Cristo) que produz.

¹² Tendo, pois, tal esperança, agimos com muita ousadia. ¹³ E não somos como Moisés, que punha um véu sobre o rosto, para que os filhos de Israel não pudessem fixar os olhos no fim daquilo que estava desaparecendo. ¹⁴ Mas a mente deles se endureceu. Pois, até o dia de hoje, o mesmo véu permanece sobre a leitura da antiga aliança; não foi tirado, pois só em Cristo ele é removido. ¹⁵ Mas, até hoje, quando Moisés é lido, o véu está posto sobre o coração deles. ¹ Quando, porém, alguém se converte ao Senhor, o véu é tirado. ¹⁷ Ora, este Senhor é o Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade. ¹⁸ E todos nós, com o rosto descoberto, contemplando a glória do Senhor, somos

transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, que é o Espírito.

3.18 — Paulo se detém num aspecto da história de Moisés no monte Sinai. Quando desceu, teve que pôr um véu sobre o seu rosto. Sem este véu, a glória de Deus vista em Moisés consumiria o povo. De fato, a lei (com a qual Moisés desceu do monte) mata, mas a graça gera vida. O apóstolo lamenta que os judeus de sua época ainda olhavam para Moisés apenas, quando podiam olhar para Moisés e Cristo, para aquele para ver o seu pecado, para este para ser perdoado. Os judeus se recusavam a tirar o véu por ainda estarem com medo. Estavam presos, quando podiam ser livres. Se recebessem Cristo no coração, podiam experimentar a liberdade que o Espírito Santo produz. Paulo conclui que não precisamos cobrir o rosto com o véu porque somos livres em Cristo, que, através do seu Espírito, nos transforma para que nos pareçamos cada vez mais com Cristo, uma obra do Espírito do Senhor Jesus.

2Coríntios 4

Tesouro em vasos de barro

¹ Por isso, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi dada, não desanimamos.

4.1 — O resumo do capítulo é, negativamente, não desanimemos ou não desistamos, e, positivamente, fiquemos firmes, certos de que a misericórdia de Deus, que nos alcançou, continuará a nos sustentar.

² Pelo contrário, rejeitamos as coisas ocultas que trazem vergonha, não agindo com astúcia, nem adulterando a palavra de Deus. E assim, pela manifestação da verdade, nos recomendamos à consciência de todos na presença de Deus.

4.2 — Quem vive na consciência da presença de Deus, não vive nas trevas fazendo coisas que, descobertas, trazem vergonha ao Evangelho e incredulidade no Evangelho. Quem vive na consciência da presença de Deus não mente.

³ Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que ele está encoberto, ⁴ nos quais o deus deste mundo cegou o entendimento dos descrentes, para que não lhes resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus.

4.4 — Embora pregado, o Evangelho permanece desconhecido ou rejeitado por

muitos cujo entendimento está cego espiritualmente. Esta cegueira espiritual é realizada pelo “deus deste mundo”, expressão exclusiva desta carta. Paulo não dá nome a esse deus, mas fica subentendido que é Satanás, em seu poder limitado, porque foi derrotado na cruz, mas ainda devastador. Os que recebem o Evangelho. não o recebem porque foram predestinados, mas porque foram chamados e livremente aceitaram. Os que não recebem a graça, não a recebem porque não foram escolhidos previamente, mas porque prefiram dar ouvidos a Satanás, com o qual são também condenados. Esses cegos espirituais não refletem a vida de Jesus, porque seguem os padrões do mundo.

⁵ Porque não pregamos a nós mesmos, mas a Jesus Cristo como Senhor e a nós mesmos como servos de vocês, por causa de Jesus. Porque Deus, que disse: “Das trevas resplandeça a luz”, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Jesus Cristo.

4.6 — Paulo se apresenta como “servo” (“doulos”) dos coríntios, isto é, como alguém totalmente dedicado a eles, completamente a serviço deles. É a humildade que autentica um ministério, não a ostentação, própria dos falsos apóstolos que tentavam devorar a igreja.

⁷ Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que se veja que a excelência do poder provém de Deus, não de nós. ⁸ Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; ficamos perplexos, porém não desanimados; somos perseguidos, porém não abandonados; somos derrubados, porém não destruídos.

4.9 — Os salvos por Jesus têm um tesouro, o poderoso evangelho. Mas eles não podem se orgulhar porque seu tesouro está guardado num jarro de barro, que é frágil e barato, e deve se conservar maleável (cf. Jeremias 18.4). Há uma tensão aqui: riqueza/pobreza, força/fragilidade. Esta tensão reflete a realidade do reino de Deus, que JÁ veio, MAS AINDA não se consumou. A vitória é certa, mas ainda não aconteceu. É por isto que, mesmo iluminados pelo Espírito Santo, ainda amos por tribulações, perseguições e quedas. Por causa do poder de

Deus, essas experiências não são capazes de nos angustiar ou desanimar. Apesar das dificuldades, sabemos que Deus não nos abandona, porque continuamos protegidos por Ele. Esta certeza deve gerar em nós humildade e alegria.

Convite à Vida

MAS NÃO

(2Coríntios 4.6-10)

Somos vasos de barro que guardam porções

da esplêndida luz do rosto de Jesus

que jorrou naquele dia da cruz

para aquecer agora os nossos corações.

Alvos do amor excelente de Deus,

em tudo vivemos para que a glória seja

daquele que todo o peso sobre si deseja

para que não derrube nenhum dos filhos seus,

mesmo que venha pesada a tribulação,

nos deixe angustiados a pressão

e perplexos diante de tanta interrogação,

que chegue forte a injusta perseguição

e do mal com força nos bata a mão.

Sabemos que em nós vive o Criador

Para não nos deixar no vale do desânimo

Para não nos deixar no túnel do desespero.

Sempre saberemos que em nós vive o Redentor

Para não nos deixar na curva do desamparo

Para não nos deixar no duro chão da derrota

Sempre temos conosco o nosso Consolador.

¹ Levamos sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a vida dele se manifeste em nosso corpo. ¹¹ Porque nós, que vivemos, somos sempre entregues à morte por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal. ¹² De modo que em nós opera a morte; em vocês, a vida.

4.12 — Nossa vida permanece firme quando reconhece que a morte de Jesus a transformou. “Levar no corpo o morrer de Jesus” é viver na consciência de que fomos salvos na cruz de Jesus. Quando vivemos (espiritualmente) com Jesus, morremos para os desejos da carne. Quando morremos para os nossos desejos, a alegria da salvação nos preenche. Quando morremos para os nossos pecados, as pessoas notam o poder da graça de Jesus.

¹³ Tendo, porém, o mesmo espírito de fé, como está escrito: “Eu cri, por isso falei”, também nós cremos e, por isso, também falamos, ¹⁴ sabendo que aquele que ressuscitou o Senhor Jesus também nos ressuscitará com Jesus e nos apresentará juntamente com vocês. ¹⁵ Porque tudo isso é para o bem de vocês, para que a graça, multiplicando-se, torne abundantes as ações de graças por meio de muitos, para a glória de Deus.

4.15 — Antes de repetir uma parte de seu credo de fé (sobre a ressurreição),

Paulo busca o apoio das Escrituras do Antigo Testamento citando o salmo 116.10. O sofrimento por causa do Evangelho tem que ser visto na perspectiva da graça que alcança dos outros e da glória que damos a Deus.

Viver pela fé

¹ Por isso não desanimamos. Pelo contrário, mesmo que o nosso ser exterior se desgaste, o nosso ser interior se renova dia a dia. ¹⁷ Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um eterno peso de glória, acima de toda comparação, ¹⁸ na medida em que não olhamos para as coisas que se veem, mas para as que não se veem. Porque as coisas que se veem são temporais, mas as que não se veem são eternas.

4.18 — Se olharmos para as aflições com a nossa perspectiva, desanimaremos. Se olharmos para o sofrimento com a perspectiva da eternidade com Cristo, perseveraremos. Na perspectiva da eternidade, nossa vida é apenas um momento. Nós somos uma unidade em que o “ser exterior” (corpo) e o “ser interior” (alma) estão juntos. É da natureza do corpo se desgastar. É uma possibilidade para a alma se fortalecer.

Paulo explicitará esta tensão nos primeiros versos do capítulo 5.

2Coríntios 5

Ausentes do corpo e presentes com o Senhor

¹ Pois sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos da parte de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos humanas, eterna, nos céus. ² E, por isso, neste tabernáculo gememos, desejando muito ser revestidos da nossa habitação celestial; ³ se, de fato, formos encontrados vestidos e não nus. ⁴ Pois nós, os que estamos neste tabernáculo, gememos angustiados, não por querermos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida. ⁵ Ora, foi o próprio Deus quem nos preparou para isto, dando-nos o penhor do Espírito.

5.5 — Paulo nos encaminha para a esperança por meio de dois pares de metáforas.

“Casa terrestre” e “Tabernáculo” são imagens para o nosso corpo. No caso do “tabernáculo”, a palavra remete às tendas em que os hebreus moravam nos seus primeiros séculos; João 1 usa a mesma imagem para falar da encarnação de Jesus.“Habitação celestial” e “Edifício nos céus” são imagens para os lugares onde viveremos após a nossa ressurreição. O céu é um lugar, mas isto não quer dizer que tenha casas ou prédios, como os temas aqui.

Na teologia paulina, diferentemente da cosmovisão grega, “o ser humano não é imortal porque possua ou seja uma alma. Ele se torna imortal porque Deus o transforma ao ressuscitá-los dos mortos”. (Cf. HARRIS, Murray. Resurrection and Immortality: Eight Theses. Themelios. Volume 1, Issue 2, Spring, 1976.)

Com esta perspectiva em mente, devemos saber que, quando nossa imperfeita vida na terra chegar ao fim, continuaremos a viver de modo perfeito no céu. Por enquanto, aqui sofremos e desejamos o tempo em que não mais sofreremos, quando Cristo nos receber na eternidade. Este é o nosso permanente desejo. Queremos receber a promessa que o próprio Deus Eterno nos deu, como o seu Santo Espírito nos conforta todos os dias aqui.

Por isso, temos sempre confiança e sabemos que, enquanto no corpo, estamos ausentes do Senhor. ⁷ Porque andamos por fé e não pelo que vemos. ⁸ Sim, temos tal confiança e preferimos deixar o corpo e habitar com o Senhor. É por isso que também nos esforçamos para ser agradáveis a ele, quer presentes, quer ausentes.

5.8 — Vivemos pela esperança, embora nossa realidade seja marcada pelos gemidos, que nos fazem sentir angústia. Tudo isto acontece por que estamos “no corpo” (isto é, vivendo na terra), logo “ausentes do Senhor” (isto é, ainda não estamos na presença de Jesus no céu). Pela fé, sabemos que chegará o tempo da nossa plenitude. Não precisamos ver para crer. Porque cremos, sabemos que iremos “habitar com o Senhor” Jesus. Seja na terra, seja no céu, tudo faremos para agradar a Jesus.

¹ Porque é necessário que todos nós compareçamos diante do tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo.

5.10 — Todos participaremos do juízo final, em que Cristo será o juiz.

O zelo apostólico de Paulo

¹¹ E assim, conhecendo o temor do Senhor, procuramos persuadir as pessoas, mas somos plenamente conhecidos por Deus. E espero que também sejamos reconhecidos na consciência de vocês. ¹² Não queremos novamente nos recomendar a vocês; pelo contrário, estamos dando uma oportunidade para vocês se orgulharem por nossa causa, para que tenham o que responder aos que se gloriam na aparência e não no coração. ¹³ Porque, se enlouquecemos, é para Deus, e, se conservamos o juízo, é para vocês. ¹⁴ Pois o amor de Cristo nos domina, porque reconhecemos isto: um morreu por todos; logo, todos morreram. ¹⁵ E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.

5.15 — Paulo reconhece que nem todos concordam com ele ou o apreciam, mas está seguro de que o Deus Eterno o conhece e aprova. E é o que lhe importa, embora gostasse de ser reconhecido pelos coríntios também. Eles deveriam parar de pensar nele como “louco” ou “racional”, mas mirar o propósito dele: servir por amor a Jesus, que, ao morrer em nosso lugar, nos arrancou do egoísmo.

¹ Assim que, nós, daqui por diante, a ninguém conhecemos segundo a carne; e, se antes conhecemos Cristo segundo a carne, já agora não o conhecemos deste modo. ¹⁷ E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já aram; eis que se fizeram novas.

5.17 — Por causa da morte de Cristo na cruz, somos novas pessoas. Não mais nos relacionamos com as pessoas de modo egoísta (“na carne”), mas de modo desprendido. Temos agora um novo modo de pensar e agir, inclusive sobre Cristo. No ado, (no tempo das “coisas antigas”) Paulo mesmo o perseguiu, mas se tornou um seguidor dele. Antes da experiência de sua conversão, Paulo não considerava Jesus como Messias, mas agora o considera e é assim que vive por ele.

O ministério da reconciliação

¹⁸ Ora, tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, ¹ a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não levando em conta os pecados dos seres humanos e nos confiando a palavra da reconciliação.

5.19 — Paulo agora sabe que Jesus veio para nos reconciliar com o Pai. Jesus chamou a Paulo e a nós para o ministério da reconciliação. “Não levar em conta os pecados” é perdoar os pecados. Se nós formos ministros da reconciliação, o mundo crerá que “Deus estava em Cristo”, isto é, que foi por meio de Cristo que a salvação se tornou real.

² Portanto, somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por meio de nós. Em nome de Cristo, pois, pedimos que vocês se reconciliem com Deus. ²¹ Aquele que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós, para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus.

5.21 — Mais uma vez, Paulo sintetiza o credo cristão: na cruz, Deus pôs sobre Jesus as culpas que eram nossas para nos fazer “justiça”, isto é, nos perdoar. Assim devemos todos viver como pessoas reconciliadas com Cristo.

2Coríntios 6

¹ E nós, na qualidade de cooperadores com ele, também exortamos a que vocês não recebam em vão a graça de Deus. ² Porque ele diz:

“No tempo aceitável escutei você

e no dia da salvação eu o socorri.”

Eis agora o tempo oportuno! Eis agora o dia da salvação!

6.2 — Paulo conclui o seu raciocínio sobre a reconciliação e cita Isaías 49.8, para pedir aos coríntios que a levem a sério. Esta era uma boa hora para uma mudança de atitude, que levassem em conta a obra da salvação na cruz, que não podia ser anulada (cf. 1Coríntios 1.17)

³ Não queremos dar nenhum motivo de escândalo em coisa alguma, para que o ministério não seja censurado. ⁴ Pelo contrário, em tudo nos recomendamos a nós mesmos como ministros de Deus: na muita paciência, nas aflições, nas privações, nas angústias, ⁵ nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns, na pureza, no saber, na paciência, na bondade, no Espírito Santo, no amor não fingido, ⁷ na palavra da verdade, no poder de Deus; pelas armas da justiça, tanto para atacar como para defender; ⁸ por honra e por desonra, por infâmia e por boa fama; como enganadores e sendo verdadeiros; como desconhecidos, mas sendo bem-conhecidos; como se estivéssemos morrendo, mas eis que vivemos; como castigados, porém não mortos; ¹ como entristecidos, mas sempre alegres; como pobres, mas enriquecendo a muitos;

como nada tendo, mas possuindo tudo.

6.10 — Em lugar de se dividirem ou de rejeitarem Paulo, os coríntios (ou alguns deles com estes reprováveis comportamentos) deviam olhar para toda a vida dele. Se o fizessem, veriam suas atitudes a favor do Evangelho. A lista que elabora, como parte do seu curriculum vitae, é imensa e a em revista as muitas situações por que ou, algumas das quais requerem uma nota explicativa:

“Paciência” — Entre as virtudes, está a paciência (verso 4) e a perseverança (verso 6); a NAA repete paciência, mas no grego as palavras são diferentes. No verso 4, é

υπομονη > hupomone, que salienta a perseverança; no verso 6, é μακροθυμια > makrothumia, que põe foco sobre a tolerância.

“Vigílias” são noites sem dormir por causa do trabalho para o sustento financeiro. “Jejuns” pode ser horas dedicadas à oração ou à falta de tempo para comer; trata-se da mesma palavra νηστεια > enesteia para “fome”, que podia ser motivada pela falta de dinheiro para comprar comida.

“Saber” é o conhecimento que vem do estudo.

“Espírito Santo”, aqui, é a busca de um comportamento santo em todas as áreas da vida.

“Armas de justiça” são os recursos que Deus nos dá para uma vida santa, recursos sempre dignos, quando somos atacados e quando somos desafiados a defender a nossa fé, sempre de modo honrado.

“Honra e desonra”, “infâmia” e “boa fama”, quando humanas, não importam, porque o que vale é ser aprovado por Deus.

“Como enganadores e sendo verdadeiros” e “como desconhecidos, mas sendo bem conhecidos” são alusões aos ataques sofridos em Corinto pelo apóstolo.

“Como se estivéssemos morrendo” é uma referência aos riscos que correu ao longo de seu ministério.

“Como entristecidos” trata de como se sentiu entre eles, quando foi desafiado em público (cf. 2.1.3), e também em outras situações por seu amor a Cristo.

“Pobres, mas enriquecendo” evidencia que Paulo não ficou rico por causa do Evangelho, com o qual enriqueceu a muitas pessoas que o aceitaram. Esta alegria ninguém lhe tira. É “tudo” que ele precisa.

¹¹ Ó coríntios, temos falado com toda a franqueza e estamos de coração aberto para vocês. ¹² Nosso afeto por vocês não tem limites; vocês é que estão limitados em seu afeto por nós. ¹³ Ora, como justa retribuição — e falo a vocês como a filhos — peço que também vocês abram o seu coração para nós.

6.13 — O que Paulo quer é que os coríntios, a quem ama como sendo seus

filhos, sejam amorosos, não rancorosos. Uma forma de abrir o seu coração é abrir os seus ouvidos para os ensinos oferecidos com “franqueza” pelo apóstolo; havia um problema para o qual deviam atentar e que Paulo lhes ensinara na primeira carta: era a idolatria, condenada em 1Coríntios 8 e 10.

Nenhuma comunhão com os descrentes

¹⁴ Não se ponham em jugo desigual com os descrentes. Pois que sociedade pode haver entre a justiça e a iniquidade? Ou que comunhão existe entre a luz e as trevas? ¹⁵ Que harmonia pode haver entre Cristo e o Maligno? Ou que união existe entre o crente e o descrente? ¹ Que ligação há entre o santuário de Deus e os ídolos? Porque nós somos santuário do Deus vivo, como ele próprio disse:

“Habitarei e andarei entre eles;

serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.”

¹⁷ Por isso, o Senhor diz:

“Saiam do meio deles e separem-se deles.

Não toquem em coisa impura, e eu os receberei.”

¹⁸ “Serei o Pai de vocês, e vocês serão meus filhos e minhas filhas”, diz o Senhor

Todo-Poderoso.

6.17 — A que “jugo desigual” Paulo se refere? Embora alguns usem esta pergunta retórica para reprovar o casamento entre um cônjuge com um não crente, Paulo trata aqui dos relacionamentos vindos da área profissional que implicavam em concessões à idolatria. Assim, os coríntios não deveriam se relacionar com as prostitutas dos templos pagãos, nem participar das festas nesses templos. Não deveriam ainda se fazer presentes nos jantares sociais onde havia carnes sacrificadas a ídolos, como era comum nas casas dos seus patrões ou colegas de negócios. Os cristãos pertencem a Cristo, não ao maligno (ou “Belial”, termo usado no Antigo Testamento para “malvado”). O cristão é um santuário de Deus. Quanto às citações do Antigo Testamento, a primeira é de Levítico 26.12, repetida em Ezequiel 37.27. A segunda vem de Isaías 52.11. A terceira consta do discurso feito por Natã a Davi (2Samuel 7.14 e 1Crônicas 17.13).

2Coríntios 7

¹ Portanto, meus amados, tendo tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus.

A alegria de Paulo pelos coríntios

² Pedimos que vocês nos acolham em seu coração. Não tratamos ninguém com injustiça, não prejudicamos ninguém, não exploramos ninguém. ³ Não falo para condenar vocês. Porque eu já disse que vocês estão em nosso coração para, juntos, morrermos e vivermos. ⁴ Estou sendo bem franco com vocês e tenho muito orgulho de vocês. Sinto-me grandemente confortado e transbordo de alegria em meio a toda a nossa tribulação.

7.4 — Paulo encerra sua argumentação para uma vida santa, dizendo que ela deve ser um desejo do coração. Ele se alegra por antecipação, seguro que será atendido e terá fim sua tristeza (“tribulação”) por causa do comportamento dos coríntios.

A chegada de Tito

⁵ Porque, quando chegamos à Macedônia, não tivemos nenhum alívio. Pelo contrário, em tudo fomos atribulados: lutas por fora, temores por dentro. Porém Deus, que consola os abatidos, nos consolou com a chegada de Tito. ⁷ E não somente com a chegada dele, mas também pelo consolo que recebeu de vocês. Ele nos falou da saudade, do pranto e do zelo que vocês têm por mim,

aumentando, assim, a minha alegria.

7.7 — O apóstolo retoma sua narrativa de viagem com a qual se ocupara brevemente em alguns versículos anteriores (2.12-13 e 7.5–6). Até o verso 16, seu foco é a reconfortante experiência de Tito em Corinto.

Tito era um não-judeu, natural de Creta (uma ilha do Mar Egeu e estudioso de filosofia e poesia. Uma vez convertido ao cristianismo, tornou-se um colaborador muito próximo de Paulo, a quem no ano 49 acompanhou a Jerusalém, mas não foi circuncidado (Gálatas 2.3). Alguns o identificam com Tício Justo (Atos 18.7), mas devem ser pessoas diferentes. Paulo o menciona dez vezes nesta carta, mas também se refere a ele em 2Timóteo 4.10. Uma das suas cartas lhe é dirigida.

Paulo o envia no ano 56 a Corinto, saindo de Éfeso. Ele volta com boas notícias, levando o apóstolo a escrever esta segunda correspondência. Mais tarde, ajudou Paulo a coletar dinheiro para a oferta a ser enviada aos irmãos de Jerusalém. Mais tarde, foi enviado por Paulo à Dalmácia, na hoje Croácia (2Timóteo 4.10). Quando ele se encontrou com o apóstolo na Macedônia, serviu-lhe de consolo em meio a muitas dificuldades (ou “lutas por fora, temores por dentro”). O próprio Tito estava feliz com o que vira em Corinto.

Macedônia

⁸ Porque, mesmo que eu tenha entristecido vocês com a minha carta, não me arrependo — embora já tenha me arrependido, pois vi que aquela carta os deixou tristes, ainda que por breve tempo.

Dalmácia

Mas agora me alegro, não porque vocês ficaram tristes, mas porque essa tristeza os levou ao arrependimento. Pois vocês foram entristecidos segundo Deus, para que, de nossa parte, não sofressem nenhum dano. ¹ Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do mundo produz morte. ¹¹ Vejam quanto cuidado produziu em vocês o fato de serem entristecidos segundo Deus! Que defesa, que indignação, que temor, que saudade, que zelo, que desejo de punir o culpado! Em tudo vocês se mostraram inocentes neste assunto. ¹² Portanto, embora eu tenha escrito aquela carta, não foi por causa daquele que fez o mal, nem por causa daquele que sofreu a afronta, mas para que fosse manifesto entre vocês, diante de Deus, o cuidado que vocês têm por nós. ¹³a Foi por isso que nos sentimos consolados.

7.13 — A razão da alegria era que Paulo tinha escrito uma carta para advertir os coríntios porque estavam sendo coniventes como alguém da igreja que era “culpado” de algo grave que tinha cometido, mas não narrado por Paulo. Pode ter sido o “incesto” referido em 1Coríntios 5.1 ou pode ter sido uma grosseria contra ele quando esteve em Corinto. O fato o levou a lhes escrever uma carta dura, que se perdeu. Como o efeito sobre seus leitores demorou a se concretizar, Paulo chegou a pensar que errara ao enviá-la, mas agora via que agira corretamente em função do resultado obtido. Na verdade, ele provou uma “tristeza segundo Deus”, que é quando há sincero arrependimento, que foi o que aconteceu.

¹³b E, acima desta nossa consolação, muito mais nos alegramos pelo contentamento de Tito, porque todos vocês trouxeram refrigério ao espírito dele. ¹⁴ Porque, se falei a ele com certo orgulho a respeito de vocês, não fiquei envergonhado. Pelo contrário, como tudo que falamos a vocês era verdade, também os elogios que, na presença de Tito, fizemos a respeito de vocês se mostraram verdadeiros. ¹⁵ E o grande afeto que ele tem por vocês aumenta cada

vez mais, quando ele se lembra da obediência de todos vocês, de como o receberam com temor e tremor. ¹ Alegro-me porque, em tudo, posso confiar em vocês.

7.16 — A alegria de ambos era motivada pelo fato que os coríntios finalmente tinham obedecido à Palavra de Deus, o que ficou demonstrado quando Tito esteve entre eles. Quanto “orgulho” (“kauchaomai“), aqui é “alegria intensa” ou “prazer pessoal”. É como se concluíssem que valeu a pena todo o esforço (seja a carta de Paulo, seja a viagem de Tito).

Parte 3 (2Coríntios 8.1-9.15) — A COLETA. Em que Paulo anuncia a chegada próxima de Tito, precedendo-o, e orienta como deve ser feita a coleta a ser realizada por seu enviado e outros dois anônimos colaboradores. O apóstolo põe o foco na motivação com a qual a oferta levantada será levada a Jerusalém.

2Coríntios 8

Generosidade nas ofertas

¹ Também, irmãos, queremos que estejam informados a respeito da graça de Deus que foi concedida às igrejas da Macedônia.

8.1 — A narrativa sobre os efeitos da viagem de Tito a Corinto continua, com a preparação para a participação na grande coleta que estava em curso para ser enviada a Jerusalém. A generosidade dos coríntios se vira também na Macedônia. Os capítulos 8 e 9 tratam desta oferta. Não é fácil tratar de dinheiro na igreja, mas “Paulo trata do tema com habilidade e sua longa exposição mostra como o planejamento e a istração são importantes para o sucesso de qualquer ministério. Paulo se engaja no evangelismo como um missionário da linha de frente atuando nas trincheiras. Ele é um pastor sensível e um teólogo sábio. Ele é um visionário que planeja um projeto mundial com enormes ramificações teológicas. Ele também é um que não se esquiva de lidar com detalhes essenciais, oferecendo perspectivas teológicas estimulantes para aqueles que se tornaram indiferentes à tarefa, delegando responsabilidades e acalmando os mais agitados”. (Cf. GARLAND, David. 2Corinthians. Nashville: Broan & Holman, 1999.

² Porque, no meio de muita prova de tribulação, manifestaram abundância de

alegria, e a profunda pobreza deles transbordou em grande riqueza de generosidade. ³ Porque posso testemunhar que, na medida de suas posses e mesmo acima delas, eles contribuíram de forma voluntária, ⁴ pedindo-nos, com insistência, a graça de participarem dessa assistência aos santos. ⁵ E não somente fizeram como nós esperávamos, mas, pela vontade de Deus, deram a si mesmos, primeiro ao Senhor, depois a nós.

8.5 — “Graça” aqui é generosidade humana por causa da graça divina. Os irmãos das igrejas da Macedônia eram pobres, mas se tornaram modelares em termos de contribuição. Eram três essas igrejas: Filipos (Atos 16.12-40), Tessalônica (Atos 17.1-9) e Bereia (Atos 17.10-14). A motivação deles era extraordinária. Eles queriam participar dessa “assistência” (“diakonia”, em grego), considerada por eles como uma missão em que deviam participar.

Torre Branca de Tessalônica (Século 12)

Isto nos levou a recomendar a Tito que, assim como havia começado, também completasse esta graça entre vocês. ⁷ Mas como em tudo vocês manifestam abundância — na fé, na palavra, no saber, em toda dedicação e em nosso amor por vocês —, esperamos que também nesta graça vocês manifestem abundância.

8.7 — O exemplo dos irmãos da Macedônia levou Paulo a esperar o mesmo dos irmãos de Corinto.

⁸ Não digo isto na forma de mandamento, mas para provar se o amor de vocês é sincero, comparando-o com a dedicação de outros. Pois vocês conhecem a graça do nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vocês, para que, por meio da pobreza dele, vocês se tornassem ricos.

8.9 — Esta contribuição não era obrigatória (como obediência ao um “mandamento”), mas voluntária e deveria seguir o modelo de Jesus em sua encarnação.

¹ E nisto dou a minha opinião: convém que vocês façam isto, vocês que, desde o ano ado, começaram não só a fazer, mas também a querer. ¹¹ Terminem, agora, a obra começada, para que, assim como mostraram boa vontade no querer, assim também completem essa obra, dando de acordo com o que vocês têm. ¹² Porque, se há boa vontade, a oferta será aceita conforme o que a pessoa tem e não segundo o que ela não tem. ¹³ Não se trata de fazer com que os outros tenham alívio e vocês tenham sobrecarga, mas para que haja igualdade. ¹⁴ Neste momento, a abundância que vocês têm supre a necessidade deles, para que a abundância deles venha a suprir a necessidade que vocês vierem a ter. Assim,

haverá igualdade, ¹⁵ como está escrito:

“Quem recolheu muito não teve demais;

e o que recolheu pouco não teve falta.”

8.15 — Os coríntios já estavam empenhados em recolher uma oferta destinada a Jerusalém, mas a coleta estava parada em função dos conflitos na igreja. Para os estimular, o escritor lembra o exemplo dos hebreus quando contribuíram para a construção do tabernáculo ainda no deserto. (A citação é de Êxodo 16.18.)

A missão de Tito

¹ Mas graças a Deus, que pôs no coração de Tito a mesma dedicação que temos por vocês. ¹⁷ Ele atendeu ao nosso apelo e, mostrando ser muito dedicado, partiu voluntariamente para encontrar-se com vocês. ¹⁸ E, com ele, estamos enviando o irmão cujo louvor no evangelho está espalhado por todas as igrejas. ¹ E não só isto, mas ele também foi eleito pelas igrejas para ser nosso companheiro no desempenho desta graça ministrada por nós, para a glória do próprio Senhor e para mostrar a nossa boa vontade.

² Queremos evitar, assim, que alguém nos acuse por causa desta generosa dádiva istrada por nós; ²¹ pois cuidamos para fazer o que é correto, não só diante do Senhor, mas também diante das pessoas. ²² Com eles, estamos enviando nosso irmão, cujo zelo já pusemos à prova em muitas ocasiões e de muitas maneiras, e que agora se mostra ainda mais zeloso pela grande confiança que deposita em vocês. ²³ Quanto a Tito, é meu companheiro e cooperador entre vocês; quanto aos nossos irmãos, são mensageiros das igrejas e glória de Cristo.

²⁴ Por isso, diante das igrejas, comprovem o amor de vocês e confirmem o orgulho que temos de vocês, na presença desses homens.

8.24 — A missão (de coletar ofertas) estava sendo empreendida por Tito e por dois outros irmãos. Eles são mencionados um como “irmão” (verso 18) e outro como “nosso irmão” (verso 22). Seus nomes, porém, não são dados. Entre as muitas possibilidades de identificação, estão Barnabé, Lucas e Sópatro. Não temos como saber, nem temos como conhecer a razão de Paulo omitir seus nomes. De qualquer modo, Paulo os apresentaria quando chegassem. O importante é que, se tratando de dinheiro, Tito não devia recolhê-lo e transportálo sozinho, mas ter a ajuda e o testemunho de outros dois irmãos.

2Coríntios 9

Instruções de Paulo quanto à oferta

¹ Ora, quanto à assistência a favor dos santos, não é necessário que eu escreva a vocês. ² Porque conheço a boa vontade de vocês, da qual me orgulho diante dos macedônios, dizendo que os irmãos da Acaia estão preparados desde o ano ado. E o zelo de vocês tem estimulado muitos deles. ³ Mas enviei estes irmãos, para que o nosso louvor a respeito de vocês neste particular não se desminta, a fim de que, como venho dizendo, vocês estivessem preparados. ⁴ Do contrário, se alguns macedônios forem comigo e descobrirem que vocês não estão preparados, isso será uma vergonha para nós — para não dizer que será para vocês também — por toda essa confiança que tivemos em vocês. ⁵ Portanto, julguei necessário recomendar aos irmãos que me precedessem na visita a vocês e preparassem de antemão a oferta que vocês prometeram, para que esteja pronta como expressão de generosidade e não de avareza.

9.5 — Ao final, Paulo mesmo iria pegar a coleta em Corinto (que ficava na Acaia) e levá-la a Jerusalém. Os três enviados (Tito e os dois “anônimos”) o precederiam. O apóstolo estava certo que os irmãos seriam generosos; notícias a esse respeito já havia chegado à Macedônia. A palavra “avareza” indica o desejo que nenhum coríntio achasse que estava sendo forçado a contribuir ou que haveria algum benefício pessoal para os coletores (Paulo incluído). Em outras palavras, era uma oferta entregue com alegria, sem questionamento.

A sementeira e a colheita

E isto afirmo: aquele que semeia pouco também colherá pouco; e o que semeia com fartura também colherá com fartura. ⁷ Cada um contribua segundo tiver

proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade, porque Deus ama quem dá com alegria.

Jerusalém

⁸ Deus pode tornar abundante em vocês toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla suficiência, vocês sejam abundantes em toda boa obra, como está escrito:

“Distribuiu, deu aos pobres,

a sua justiça permanece para sempre.”

9.9 — O centro da teologia paulina sobre a entrega da oferta está no verso 7; ela deve ser feita com alegria, sem relutância e sem constrangimento. Quem age assim tem a aprovação de Deus. Para o apoiar, o verso 6 (citado de Provérbios 11.24-25) é muitas vezes mencionado como o “princípio da sementeira”, para estimular que as pessoas contribuam com mais para receberem ainda mais. Trata-se de apropriação bíblica indevida. O apóstolo Paulo diz que Deus abençoa materialmente uma pessoa que contribui com alegria espiritual (sem “avareza”) de modo que ela não tenha mais, mas que contribua mais. Quem contribui generosamente entende a natureza da graça de Deus, seguindo o modelo de Jesus (antecipado no Salmo 112.9).

¹ E Deus, que dá semente ao que semeia e pão para alimento, também suprirá e aumentará as sementes e multiplicará os frutos da justiça de vocês. ¹¹ Assim, vocês serão enriquecidos em tudo para toda generosidade, a qual, por meio de nós, resulta em orações de gratidão a Deus. ¹² Porque o serviço desta assistência não só supre a necessidade dos santos, mas também transborda em muitas orações de gratidão a Deus. ¹³ Na prova deste serviço, eles glorificam a Deus pela obediência da confissão que vocês fazem do evangelho de Cristo e pela

generosidade com que vocês contribuem para eles e para todos, ¹⁴ enquanto eles oram por vocês, com grande afeto, por causa da extraordinária graça de Deus que foi dada a vocês. ¹⁵ Graças a Deus pelo seu dom indescritível!

9.15 — A contribuição é uma disposição de natureza espiritual, que começa com o reconhecimento de que Deus nos dá o que temos (como demonstrado na dádiva da “semente” ao agricultor e alimento ao trabalhador. Quem tem, é porque recebeu de Deus o que tem. Quem tem, é para doar que o recebeu. Doação é para quem percebe as necessidades do outro e agradece a Deus o que recebeu. A doação nos faz viver numa verdadeira comunidade, em que todos oram uns pelos outros, os que recebem pelos que doam, os que doam pelos que recebem. Quem doa confessa que Jesus Cristo é o seu Senhor. Afinal, tudo vem da graça.

Acaia

Parte 4 (2Coríntios 10.1 a 13.10) — A DEFESA. Em que elabora sua defesa que tem, na verdade, o objetivo de defender a igreja, dos superapóstolos e dos pecadores impenitentes. Os críticos de Paulo em Corinto alegavam entre outras coisas que ele era humilde, fraco presencialmente, arrogante nas cartas e vaidoso por não aceitar sustento financeiro. A defesa paulina é elaborada a partir de uma convicção: sua força acontecia por meio de sua franqueza. (Cf. SAVAGE, Timothy B. Power Through Weakness: Paul’s Understanding of the Christian Ministry in 2 Corinthians. London: Cambridge University Press, 2004.) Este exemplo, baseado na vida de Jesus, devia ser seguida pelos irmãos.

2Coríntios 10

Paulo defende a sua autoridade apostólica

¹ E eu mesmo, Paulo, peço a vocês, pela mansidão e bondade de Cristo — eu que, na verdade, quando estou com vocês, sou humilde, mas, quando ausente, sou ousado para com vocês —, ² sim, eu peço que não me obriguem a ser ousado, quando estiver com vocês, servindo-me daquela firmeza com que penso que devo tratar alguns que nos julgam como se andássemos segundo a carne. ³ Porque, embora andemos na carne, não lutamos segundo a carne. ⁴ Porque as armas da nossa luta não são carnais, mas poderosas em Deus, para destruir fortalezas. Destruímos raciocínios falaciosos ⁵ e toda arrogância que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levamos cativo todo pensamento à obediência de Cristo. E estaremos prontos para punir qualquer desobediência, quando a obediência de vocês estiver completa.

10.6 — Quando diz “eu mesmo” é como se dissesse: “vou ser ainda mais claro”. Ou: “vou ser mais firme”. Provavelmente ele escreveu esses capítulos finais depois de uma pausa. Talvez tenha relido o que ditou a Timóteo e agora retome sua argumentação em defesa de sua autoridade como sendo necessária para a

unidade da igreja.

Paulo ite que é fraco, mas sua força vem de Deus. Ele pede que não o obriguem a ser duro na próxima visita. Se necessário, ele o será, mas não usará os mesmos recursos dos opositores, recursos “segundo a carne”, segundo o jeito humano de resolver as coisas. Ele usará o poder de Deus, capaz de derrubar os coríntios entrincheirados na razão falaciosa e na arrogância pagã. Ele está certo que Deus mesmo, por intermédio dele, agirá, submeterá os desobedientes, punindo-os como forma de disciplina, para que se arrependam. Deus lhe dará as condições necessárias, capazes, como na metáfora militar que usa, invadir o território adversário e tornar cativos os inimigos.

⁷ Observem o que está evidente. Se alguém confia em si que é de Cristo, pense outra vez consigo mesmo que, assim como ele é de Cristo, também nós o somos. ⁸ Porque, se eu me gloriar um pouco mais a respeito da nossa autoridade, a qual o Senhor nos conferiu para edificação e não para destruição de vocês, não me envergonharei.

10.8 — Paulo menciona os grupos da igreja, em que um deles se achava superior aos demais, por serem “de Cristo” (cf. 1Coríntios 1.12).

Não quero que pareça ser meu objetivo intimidar vocês por meio de cartas. ¹ Alguns dizem: “As cartas são graves e fortes, mas a presença pessoal dele é fraca e a sua palavra é desprezível.” ¹¹ Que tal pessoa leve em conta o seguinte: o que somos na palavra por cartas, estando ausentes, seremos também em ações, quando presentes. ¹² Porque não ousamos nos classificar ou comparar com alguns que louvam a si mesmos. Mas eles, medindo-se consigo mesmos e comparando-se consigo mesmos, revelam falta de entendimento.

10.12 — Os coríntios podem estar certos que não haveria diferença entre o Paulo

presente e o Paulo ausente. Talvez alguns deles o considerassem covarde por, na linguagem popular, falar grosso por carta mas manso face a face. A autoridade de Paulo não consistia apenas de palavras escritas, enviadas por um portador, mas de ações vivas no convívio com a comunidade para enfrentar os problemas.

¹³ Nós, porém, não nos gloriaremos além da medida, mas respeitamos o limite da esfera de ação que Deus nos demarcou e que se estende até vocês. ¹⁴ Porque não ultraamos os nossos limites como se não devêssemos chegar até vocês, pois já chegamos até vocês com o evangelho de Cristo. ¹⁵ Não nos gloriamos além da medida no trabalho que outros fizeram, mas temos a esperança de que, à medida que cresce a fé que vocês têm, seremos cada vez mais engrandecidos entre vocês, dentro da nossa esfera de ação, ¹ a fim de anunciar o evangelho para além das fronteiras em que vocês se encontram, sem com isto nos gloriarmos de coisas já realizadas na esfera de ação de outros. ¹⁷ Aquele, porém, que se gloria, glorie-se no Senhor. ¹⁸ Porque não é aprovado quem recomenda a si mesmo, e sim aquele que o Senhor recomenda.

10.18 — Paulo parte da premissa que recebeu de Deus a sua missão, não importava o que alguns dissessem. Os coríntios deviam entender que Paulo era seu pai espiritual, porque foi o emissário de Jesus para lhes anunciar o Evangelho. Depois dele, outros atuaram lá e Paulo os reconhece. Seu pioneirismo, porém, não podia ser tirado. Ele e seus sucessores deviam se alegrar por serem aprovados por Jesus, não pelos membros da igreja. (Como argumento ele cita Jeremias 9.23-24).

2Coríntios 11

Paulo continua a sua defesa

¹ Eu gostaria que vocês me assem um pouco mais na minha loucura. Portanto, em-me. ² Tenho zelo por vocês com um zelo que vem de Deus, pois eu preparei vocês para apresentá-los como virgem pura a um só esposo, que é Cristo. ³ Temo que, assim como a serpente, com a sua astúcia, enganou Eva, assim também a mente de vocês seja corrompida e se afaste da simplicidade e pureza devidas a Cristo.

11.3 — Como os adversários de Paulo o chamavam de “louco”, Paulo aplica ironicamente a palavra a si mesmo, como antes fizera com a cruz, que os gregos também consideravam uma loucura (especialmente em 1Coríntios 1), algo fora da razão. Em sua “loucura”, ele era zeloso na defesa do Evangelho, para que nenhum coríntio fosse seduzido pelo paganismo, mas se mantivesse puro (este é o sentido para a metáforas da igreja como sendo uma virgem ou noiva).

⁴ Pois, se vem alguém que prega outro Jesus, diferente daquele que nós pregamos, ou se vocês aceitam um espírito diferente daquele que já receberam ou um evangelho diferente do que já aceitaram, vocês toleram isso muito bem. ⁵ Porque suponho em nada ter sido inferior a esses “superapóstolos”. E, embora seja fraco no falar, não o sou no conhecimento. Em tudo e por todos os modos temos manifestado isto a vocês.

11.6 — Os coríntios aceitavam as mensagens que ouviam sem as criticar, embora fossem contrárias ao que tinham ouvido do seu fundador (Paulo). Só um Senhor Jesus, um só Espírito Santo e um só Evangelho. Os novos pregadores, apresentando-se como sendo superiores a Paulo, mas que não eram apóstolos de

verdade, induziam a igreja à heresia, que parecia dizer “tudo bem”. Eles deviam levar em conta, não a pessoa de Paulo, mas o conhecimento que tinha de Deus. Ele podia ser fraco, mas o que pregava procedia de Cristo.

⁷ Será que cometi algum pecado pelo fato de viver humildemente, para que vocês fossem exaltados, visto que lhes anunciei o evangelho de Deus sem cobrar nada? ⁸ Tirei de outras igrejas, recebendo salário, para poder servir a vocês. E, estando entre vocês, ao ar privações, não me fiz pesado a ninguém; pois os irmãos, quando vieram da Macedônia, supriram o que me faltava. Em tudo, me guardei e me guardarei de ser pesado a vocês. ¹ Pela verdade de Cristo que está em mim, garanto que esta glória não me será tirada nas regiões da Acaia. ¹¹ Por quê? Será que é porque não amo vocês? Deus o sabe.

11.11 — Na cultura greco-romana, o orgulho era uma virtude. A humildade era fraqueza. Eles não acreditavam na vida eterna. Os cristãos creem e podem viver com humildade. Paulo vivia de modo humilde, vivendo financeiramente com o que ganhava no seu ofício (nas cidades onde isto lhe era requerido) ou com as ofertas que recebia. Nas igrejas da Macedônia tinha o suficiente para viver, e não queria mais, o que era visto como falta de “ambição”, logo, um defeito. Na Acaia (Grécia), ele se auto-sustentava e esta virtude era vista agora como um defeito. Autossustentar-se também prejudicava os superapóstolos que pregavam por dinheiro e teriam que trabalhar. Paulo pregava por “amor” e era atacado por amar. Ele se alegrava porque Deus conhecia a motivação do seu coração.

¹² Mas o que faço, isso continuarei a fazer, para não dar oportunidade àqueles que a buscam com o objetivo de serem considerados iguais a nós, naquilo em que se gloriam. ¹³ Porque esses tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, disfarçando-se em apóstolos de Cristo. ¹⁴ E não é de irar, porque o próprio Satanás se disfarça de anjo de luz. ¹⁵ Portanto, não deveria surpreender que os seus próprios ministros se disfarcem em ministros de justiça. O fim deles será conforme as suas obras.

11.15 — Paulo não mudará seu jeito de ser, para agradar às pessoas, já que Deus o aprova em seu modo de agir. Esses pregadores recém-chegados a Corinto desmereciam Paulo e se apresentavam como apóstolos embora não fossem. Eles imitavam Satanás e teriam o mesmo fim de Satanás. Na tradição hebraica fora da Bíblia, sugere-se que, para enganar o primeiro casal, Satanás se apresentou como sendo um anjo de luz. O livro apócrifo “Apocalipse de Moisés” (XVII: 2), datado do primeiro século antes de Cristo, diz que “Satã apareceu na forma um anjo de luz e cantou hinos como os anjos”. A referência de Paulo não quer dizer que conhecesse o livro, que dá voz ao que circulava entre os judeus antigos.

Os sofrimentos de Paulo por amor do evangelho

¹ Outra vez digo: ninguém pense que estou louco. Mas, se vocês pensam que sim, recebam-me como um louco, para que também eu me glorie por um instante. ¹⁷ O que falo nesta confiança de gloriar-me, não o falo segundo o Senhor, mas como por loucura. ¹⁸ E, visto que muitos se gloriam segundo a carne, também eu me gloriarei. ¹ Porque, sendo tão sábios, de boa vontade vocês toleram os loucos.

11.19 — O sentido que Paulo dá às palavras, mudando-o, por vezes, pode nos confundir. Ele não está “louco”, mas já que alguns assim o consideravam, que assim o recebessem. Jesus não fez deste modo (este é o sentido de “não o falo segundo Senhor”). Quando chama os coríntios de “sábios”, é também por ironia.

² Vocês toleram quem os escravize, quem os explore, quem os engane, quem se exalte, quem lhes dê bofetadas no rosto. ²¹ Para minha vergonha, confesso que fomos fracos demais para isso!

Mas, naquilo em que outros têm ousadia — e volto a falar como se fosse louco

— também eu a tenho.

11.21 — A ironia cessa e Paulo lamenta que os coríntios aceitem que sejam dominados e abusados pelos mercenários que vendiam (cf. 2.17) um evangelho, um falso evangelho.

²² São hebreus? Eu também! São israelitas? Eu também! São da descendência de Abraão? Eu também! ²³ São ministros de Cristo? Falando como se estivesse fora de mim, afirmo que sou ainda mais: em trabalhos, muito mais; em prisões, muito mais; em açoites, sem medida; em perigos de morte, muitas vezes. ²⁴ Cinco vezes recebi dos judeus quarenta açoites menos um. ²⁵ Três vezes fui açoitado com varas. Uma vez fui apedrejado. Três vezes naufraguei. Fiquei uma noite e um dia boiando em alto mar. ² Em viagens, muitas vezes; em perigos de rios, em perigos de assaltantes, em perigos entre patrícios, em perigos entre gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre falsos irmãos; ²⁷ em trabalhos e fadigas, em vigílias, muitas vezes; em fome e sede, em jejuns, muitas vezes; em frio e nudez. ²⁸ Além das coisas exteriores, ainda pesa sobre mim diariamente a preocupação com todas as igrejas. ² Quem enfraquece, que eu também não enfraqueça? Quem se escandaliza, que eu não fique indignado?

11.29 — Paulo sai do seu padrão de humildade (este é o sentido de “falando como se estivesse fora de mim”) e apresenta suas incomparáveis e inquestionáveis credenciais, como se parodiasse com os que tinham “ousadia” de apresentar falsas autobiografias. Ele retoma o que dissera em 6.4-10 e está espalhado no livro de Atos, em 1Coríntios e em Gálatas.

Ele se apresenta como hebreu circuncidado (cf. Filipenses 3.5). Ele foi preso (cf. Atos 16.23). Foi chicoteado por seus patrícios judeus, que, na maldade, se mantiveram à lei (cf. Deuteronômio 25.3 e Atos 16.22). Ele foi apedrejado (cf. Atos 14.19). Ele enfrentou perigos (cf. Atos 9.23 e 14.5, Gálatas 2.4). Ele ou fome (cf. 1Coríntios 11). Apesar disto, nunca deixou de se preocupar com os

irmãos doentes e decepcionados nas igrejas (cf. Colossenses 2.1)

Damasco b

³ Se tenho de me gloriar, vou me gloriar no que diz respeito à minha fraqueza. ³¹ O Deus e Pai do Senhor Jesus, que é bendito para sempre, sabe que não minto. ³² Em Damasco, o governador nomeado pelo rei Aretas montou guarda na cidade dos damascenos, para me prender, ³³ mas, num grande cesto, me desceram por uma janela da muralha, e assim me livrei das mãos dele.

11.33 — Enquanto os pseudoapóstolos apresentavam credenciais que exageravam seus feitos, como se fossem heróis do tipo romano entrando em cidades para as conquistar, Paulo assesta contra eles os holofotes de sua ironia. Eles entravam para conquistar e pilhar os coríntios, ele fugia dos damascenos num cesto. Era motivo de glória para um soldado ser o primeiro a transpor o muro da cidade a ser conquistado. Era motivo de orgulho para Paulo ter sido lançado para fora de uma, por pregar o evangelho da vida. O rei aqui mencionado (cf. Atos 9.23-24) é Aretas IV Filopátris (9 a.C.-40 d.C.), que transformou parcial ou integralmente o reino dos nabateus na Arábia romana, que incluía Petra (hoje na Jordânia). Esse rei tinha vínculos com a família de Herodes, uma vez que foi casado com Fasélia, filha de Herodes Antipas, que dela se divorciou para se casar com Herodias, situação que levou à decapitação de João Batista (conforme lemos nos Evangelhos).

Damasco

2Coríntios 12

As visões e revelações do Senhor

¹ Se é necessário que eu me glorie, ainda que não seja conveniente, vou falar a respeito das visões e revelações do Senhor.

12.1 — De novo, Paulo vai da glória à humilhação. Ele fala de suas visões espirituais que o colocavam no topo da iração humana e imediatamente registra sua humilhação, de sofrer sem que sua oração fosse respondida.

² Conheço um homem em Cristo que, há 14 anos, foi arrebatado até o terceiro céu. Se isso foi no corpo ou fora do corpo, não sei; Deus o sabe. ³ E sei que esse homem — se no corpo ou sem o corpo, não sei; Deus o sabe — ⁴ foi arrebatado ao paraíso e ouviu palavras indizíveis, que homem nenhum tem permissão para repetir.

12.4 — O autor narra uma experiência espiritual que teve por volta do ano 42, quando, após sua conversão, estava na Cilícia (hoje Turquia) ou na Síria. Embora alguns achem que ele esteja ironizando algum “superapóstolo” que se gabava de suas experiências espirituais, Paulo fala de si mesmo como um personagem dessas visões, conquanto na terceira pessoa. Assim, ele se refere a si mesmo não só como “eu” e “nós” mas também como “ele”. Ele foi transportado (física ou espiritualmente) ao “terceiro céu”, a que ele chama também de “paraíso”. Foi algo tão sublime que o apóstolo guarda poucas lembranças do episódio, porque foi algo além da razão, e ele preferiu esquecer, tanto que só aqui as narra. Nada disto o torna superior, porque ele sabe que, como todo cristão, é “um homem em Cristo”. Se esta experiência se deu fisicamente (“no corpo”) ou psicologicamente (“fora do corpo”, fora da razão), só “Deus o sabe”.

⁵ Desse eu me gloriarei; não, porém, de mim mesmo, a não ser nas minhas fraquezas. Pois, se eu vier a gloriar-me, não serei louco, porque estarei falando a verdade. Mas evito fazer isso para que ninguém se preocupe comigo mais do que vê em mim ou do que ouve de mim.

12.6 — Paulo tinha tudo para se orgulhar, mas seria verdadeiramente louco se o fizesse. Se o fizesse as pessoas o veriam como superior, e ele não se via desse modo.

O espinho na carne

⁷ E, para que eu não ficasse orgulhoso com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que eu não me exalte.

12.7 — Tentado a se orgulhar, Paulo ficou livre da tentação porque Deus mesmo atuou para evitar esse comportamento, pregando-lhe “um espinho na carne”. Ao longo da história, muitas possibilidades têm sido aventadas para identificar esse espinho:

Dor de cabeça

Dor de ouvido.

Um inimigo real humano (como Alexandre o Ferreiro (2Timóteo 4.14), Himeneu (1Timóteo 1.20) ou Fileto (2Timóteo 2.17), a serviço de Satanás.

A constante perseguição

Dores no corpo

Deficiência visual (por causa de Gálatas 4.15)

Epilepsia

Malária, comum na Panfília e na costa leste do mar Mediterrâneo

Estafa

A dificuldade espiritual de ganhar os judeus para Cristo

Alguma humilhação

O orgulho

Paulo decidiu manter secreta a identidade do seu espinho e nós devemos fazer o mesmo, para que possamos incluir o nosso e receber o mesmo conforto que o apóstolo.

A expressão “mensageiro de Satanás” traduz a ideia de que o sofrimento pelo espinho (permitido por Deus) era tão forte que era capaz de desviar Paulo da sua missão, não fosse a providência de Deus.

⁸ Três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Então ele me disse:

— A minha graça é o que basta para você, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza.

12.9a — “Três vezes” pode indicar três eventos diferentes ou salientar a intensidade das orações de Paulo por livramento. A resposta de Jesus não foi a esperada. O espinho continuou a fustigar o apóstolo, com a diferença que foi capacitado pela graça a á-lo e a viver feliz apesar dele.

De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. ¹ Por isso, sinto prazer nas fraquezas, nos insultos, nas privações, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então é que sou forte.

12.10 — A conclusão de toda a atitude demonstrada pelo verdadeiro apóstolo chega ao seu clímax. Enquanto “os falsos apóstolos impediam os coríntios de ver

o poder de Cristo em ação”, afastando-os da cruz de Cristo, Paulo não apenas se defende mas os ajuda a ver corretamente as coisas “através de uma lente espiritual adequada”. (Cf.

GARLAND, David. 2Corinthians. Nashville: Broan & Holman, 1999.

Convite à Vida

TODO MUNDO TEM UM ESPINHO NA CARNE

Ao ler o capítulo 12 (2Coríntios 12.7-10), ficamos cheios de curiosidade e esperança com a experiência paulina, mas nos fazemos uma pergunta: o que foi o espinho da carne que Paulo menciona. As hipóteses são inúmeras, mas nunca saberemos porque o autor nada mais acrescenta ali ou em algum outro lugar, embora fosse algo que o incomodava.

Paulo teve uma série de arrebatamentos espirituais, onde viu e ouviu coisas tão extraordinárias que se calou sobre elas. Nunca as esqueceu, mesmo sabendo que não devia se gloriar nelas. Na verdade, ele lutou contra seu desejo de usar essas experiências para se sobrepor aos outros apóstolos, especialmente quando contestado.

Em meio a esta tensão, ele ganhou um espinho na carne, que o fustigava. O espinho paulino veio após uma grande vitória espiritual, como aconteceu com Elias ao derrotar os profetas de Baal (1Reis 19).

Para Paulo, este espinho representou uma novidade na sua vida. Não era uma herança, como seu caráter ou seu temperamento. É algo que repentinamente ou a lhe incomodar.

Se Paulo não informa como era este espinho, não nos cabe especular. Ao omitir a natureza deste espinho, no entanto, Paulo nos dá licença para incluir os nossos. Bendito Paulo, por nos omitir esta informação. Doía nele, pode doer em nós.

Podemos incluir dificuldades pelas quais amos, estejam elas no campo patrimonial ou no território dos relacionamentos.

O importante é o que faremos diante dos nossos espinhos.

As credenciais de um apóstolo

¹¹ Fiz-me louco, mas vocês me obrigaram a isso. Eu devia ter sido recomendado por vocês, pois em nada fui inferior a esses “superapóstolos”, ainda que nada sou. ¹² Pois as minhas credenciais de apóstolo foram apresentadas no meio de vocês, com toda a paciência, por sinais, prodígios e maravilhas. ¹³ Pois em que vocês foram inferiores às demais igrejas, senão no fato de eu não ter sido pesado a vocês? Perdoem-me esta injustiça.

12.13 — Rapidamente os coríntios esqueceram os sinais, prodígios e maravilhas feitas por Deus em suas vidas através de Paulo.

Paulo deseja visitá-los

¹⁴ Eis que, pela terceira vez, estou pronto para visitá-los e não serei um peso para vocês. Pois não estou interessado nos bens de vocês, e sim em vocês mesmos. Não são os filhos que devem juntar riquezas para os pais, mas os pais, para os filhos.

Cilícia

¹⁵ Eu de boa vontade gastarei e me deixarei gastar em favor de vocês. Se eu os amo cada vez mais, será que vou ser amado cada vez menos? ¹ Seja como for, eu não fui um peso para vocês. No entanto, sendo astuto, eu os prendi com astúcia. ¹⁷ Será que eu explorei vocês por meio de alguém que lhes enviei? ¹⁸ Pedi a Tito que fosse até aí e mandei com ele outro irmão. Será que Tito explorou vocês? Não é verdade que temos andado no mesmo espírito? Não seguimos nas mesmas pisadas?

12.18 — Diferentemente dos superapóstolos, Paulo não esperava nenhuma oferta para si mesmo. Quando Tito esteve com eles, deveriam ter aprendido que nada fora pedido para o apóstolo, mas apenas para os irmãos de Jerusalém. Se seu enviado Tito agiu no “espírito” do amor, seu mentor não faria diferente.

O receio de Paulo

¹ Há muito vocês podem estar pensando que queremos nos defender diante de vocês. Falamos em Cristo diante de Deus, e tudo isto, meus amados, é para a edificação de vocês. ² Pois tenho receio de que, indo até aí, eu não os encontre na forma em que gostaria de encontrá-los, e que também vocês me achem diferente do que esperavam, e que haja entre vocês briga, inveja, ira, egoísmo, difamação, intriga, orgulho e tumulto. ²¹ Tenho receio de que, indo outra vez, o meu Deus me humilhe diante de vocês, e eu venha a chorar por muitos que, no ado, pecaram e não se arrependeram da impureza, da imoralidade sexual e da libertinagem que praticaram.

12.21 — Ele não se defende dos coríntios. Ele os defende. Por isto, ele os

adverte para que o comportamento deles não o entristeça mais uma vez. Uma possibilidade era que sua presença dividisse ainda mais a igreja, com membros a favor e outros contra Paulo. A preocupação dele, portanto, não é com sua imagem, mas com a falta de arrependimento por parte de alguns irmãos, que não eram disciplinados pela igreja (A expressão “falamos em Cristo diante de Deus” significa: o que estamos falando vem de Cristo, não de mim mesmo. Quanto a “o meu Deus me humilhe” é “o meu Deus permita que eu seja humilhado por vocês”.)

2Coríntios 13

Conselhos finais

¹ Esta é a terceira vez que vou visitá-los. Por boca de duas ou três testemunhas, toda questão será decidida.

13.1 — A carta foi escrita para preparar sua visita pessoal a Corinto, a terceira, que, de fato ocorreu e durou três meses (Atos 20.3). Foi nesse período que Paulo escreveu sua carta aos Romanos.

Corinto

² Já o disse anteriormente e digo de novo, como fiz quando estive presente pela segunda vez. Mas, agora, estando ausente, digo aos que, no ado, pecaram e a todos os demais: se eu for outra vez, não os pouparei, ³ visto que vocês buscam provas de que Cristo fala em mim. Ele não é fraco quando trata com vocês; pelo contrário, é poderoso entre vocês. ⁴ Porque, de fato, foi crucificado em fraqueza, mas vive pelo poder de Deus. Porque nós também somos fracos nele, mas viveremos com ele, pelo poder de Deus, para o bem de vocês.

13.4 — Paulo afirma que, nessa próxima estada entre eles, disciplinará os pecadores impenitentes e os que continuavam recusando o conselho apostólico. A graça não é “fraca”, no sentido de “barata”, de não implicar em busca de um comportamento correto. A graça é poderosa.

⁵ Examinem-se para ver se realmente estão na fé; provem a si mesmos. Ou não reconhecem que Jesus Cristo está em vocês? A não ser que já tenham sido reprovados. Mas espero que reconheçam que nós não fomos reprovados. ⁷ Estamos orando a Deus para que vocês não façam mal algum, não para que, simplesmente, pareça que nós fomos aprovados, mas que vocês façam o bem, mesmo que pareça que nós fomos reprovados. ⁸ Porque nada podemos contra a verdade, senão a favor da verdade.

13.8 — “Fé” (“pistis”) é usada no sentido de doutrina verdadeira, não falsificada. Os coríntios devem se examinar à luz do que aprenderam com Cristo, para não serem reprovados por Ele. Paulo se examinava e percebia que era aprovado por Deus. Por isso, orava para que os coríntios vivessem de tal modo que fossem aprovados. Todos deviam viver na verdade, que é Jesus.

Porque nos alegramos quando nós estamos fracos e vocês estão fortes; e a nossa oração é esta: que vocês sejam aperfeiçoados. ¹ Portanto, escrevo estas coisas, estando ausente, para que, estando presente, não venha a usar de rigor segundo a autoridade que o Senhor me deu para edificação e não para destruição.

13.10 — O desejo do “fraco”, Paulo é que seus irmãos fossem realmente fortes, não apenas com palavras. Para tanto, precisavam ser aperfeiçoados (também no verso 11), no sentido de equipados (como em Efésios 4.12) ou completados no que lhes falta. O verbo usado é “katartizein”, comumente empregado como o processo durante o qual um aluno era preparado para ser professor.

Parte 5 (2Coríntios 13.11 a 13.14) — A GRAÇA TRINITÁRIA — Em que Paulo se despede desejando a bênção do Pai, do Filho e do Espírito Santo para a igreja.

¹¹ Quanto ao mais, irmãos, adeus! Procurem aperfeiçoar-se, consolem uns aos outros, tenham o mesmo modo de pensar, vivam em paz. E o Deus de amor e de paz estará com vocês.

13.11 — Ao se despedir, Paulo ainda pede quatro esforços: que os irmãos procurem a maturidade, o apoio mútuo, a harmonia e a paz. Esta era a parte deles. Neste processo, o amor e a paz de Deus os capacitaria.

¹² Saúdem uns aos outros com um beijo santo. Todos os santos mandam saudações.

13.12 — A recomendação ao “beijo santo” aparece também nos capítulos finais de Romanos (16.16), 1Coríntios (16.20), 1Tessalonicenses (5.26) e 1Pedro

(5.14). Era um sinal de que a nova comunidade que se formava em Cristo, se amava, cada um tratando o outro como igual, não importa a sua etnia ou classe social. “Todos os santos” são todos os irmãos crentes da Macedônia, o que faz com que a fraternidade cristã ultrae barreiras geográficas.

Bênção

¹³ A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vocês.

12.13 — Esta bênção é a única na Bíblia em que as três pessoas da Trindade são mencionadas. Por isto, ela se tornou paradigma para todas que, ao longo da história das igrejas, vem sendo repetida como o desejo mais profundo de um pastor para a sua comunidade de fé.

Fascículos publicados

1 — Gênesis

2 — Êxodo

3 — Levítico

4 — Números

5 — Deuteronômio

6 — Josué

8 — Rute

19 — Salmos

41 — Marcos

44 — Atos dos Apóstolos

45 — Romanos

46 — 1 Coríntios

47 — 2 Coríntios

58 — Hebreus

59 — Tiago