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PREFÁCIO
O mundo vive uma era caracterizada pela intensa troca de informações e pelas rápidas mudanças tecnológicas. Nesse cenário os conflitos bélicos se tornam cada vez mais complexos, e avultam de importância os diversos papéis desempenhados pelo comandante de pelotão: combatente, líder, sábio executante das ações planejadas, transformador de idéias e pesquisador. Por isso, é preciso que o futuro tenente entenda que os conhecimentos necessários à sua capacitação profissional não se esgotam no interior da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). Ele deve compreender que a competência se adquire com a atualização dos saberes adquiridos nos bancos escolares, para o que tem de desenvolver, ao longo da carreira, o processo do aprender a aprender. Esse processo tem, como uma de suas principais vertentes, o ato de pesquisar, que é o mais eficaz instrumento para aquisição de novos conhecimentos e para a atualização dos conhecimentos já adquiridos. Durante a carreira, o militar será impelido à pesquisa, particularmente quando estiver submetido, de alguma forma, à sistemática de ensino do Exército Brasileiro (EB). Nessas ocasiões, terá excelentes oportunidades de demonstrar novos saberes, seja na formação na AMAN, seja nas especializações, realizadas nas diversas escolas, seja no aperfeiçoamento na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), seja nos cursos de altos estudos da Escola de Comando e Estado-Maior (ECEME). Em cada etapa necessitará de apresentar alguns dos diversos tipos de relatórios de pesquisa como: trabalhos de conclusão de cursos, dissertações e teses. Além disso, será incentivado a produzir artigos científicos para publicar resultados de suas pesquisas de interesse da Força Terrestre. Dessa forma, a Cadeira de Metodologia da Pesquisa Científica (MPC) da AMAN elaborou esse manual, para servir de apoio pedagógico às aulas de MPC e de fonte de consulta aos cadetes e aos oficiais orientadores de pesquisa para graduação em Ciências Militares. Os capítulos oferecem e aos assuntos ministrados durante as unidades didáticas da disciplina, abordando: o conhecimento científico e o método científico, a pesquisa e a produção e a redação acadêmica. Os apêndices apresentam modelos dos itens essenciais de uma monografia. A Cadeira de Metodologia da Pesquisa Científica deseja que façam muito bom proveito dos ensinamentos que constam neste manual, desejando-lhes boa sorte na execução de seus trabalhos de pesquisa científica. Como esta é a primeira edição, pede-se que as observações, críticas e sugestões sejam encaminhadas à Cadeira de MPC.
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1 O EXÉRCITO BRASILEIRO E A PESQUISA NO ENSINO SUPERIOR
As guerras modernas sempre foram momentos de grande aceleração das pesquisas científicas e, conseqüentemente, de grandes descobertas como: radar, sonar, microondas etc. Militares participaram da evolução do conhecimento, alguns como pesquisadores, outros como aqueles que pela primeira vez testaram os inventos. As Forças Armadas Brasileiras já contribuíram bastante para o desenvolvimento do conhecimento científico nacional. A engenharia civil brasileira nasceu da engenharia militar. Caxias usou e adaptou a tecnologia dos balões para o emprego militar, usando-os para reconhecer o terreno na Guerra da Tríplice Aliança. Rondon desenvolveu as comunicações, integrando o Centro-Oeste e o Norte ao restante do país. Com suas observações e estudos, desenvolveu ainda a área da botânica, da biologia, da geografia e da antropologia. Se nossos antecessores fizeram uso e desenvolveram pesquisas e experimentos no ado, o que dizer da necessidade de pesquisa hoje? A resposta é inequívoca quando se constata que se vive em um tempo denominado a “Era do Conhecimento”. O Exército Brasileiro, desde a década de noventa, busca disseminar, dentro da Instituição, o sentimento da importância da pesquisa. A modernização do ensino, que enfatiza princípios educacionais como o aprender a aprender e o aprender a conhecer, impõe que o militar, para se manter em contínuo auto-aperfeiçoamento, saiba pesquisar. A atitude de produzir conhecimento é essencial para o profissional moderno. Quando se opta por um curso superior, assume-se o compromisso de ser leitores/pesquisadores de temas gerais e, principalmente, daqueles diretamente ligados à profissão que se almeja. Várias mudanças têm ocorrido na Instituição com o objetivo de tornar a pesquisa uma atividade habitual, inclusive visando manter uma equiparação entre o ensino militar e o civil. A nova legislação traz a exigência de estudos acadêmicos de cunho científico sobre as Ciências Militares, com a realização de projetos de pesquisa e de relatórios de pesquisa. Sem pesquisa não há como acompanhar a rápida evolução do conhecimento que hoje se experimenta. Assim, principalmente aos militares, cabe desenvolver o conhecimento nas Ciências Militares e na área de Defesa, que já consta do rol de áreas de conhecimento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A idéia do aprender a pesquisar, no mundo contemporâneo, não é um fim em si mesmo. Não se defende a idéia de um academicismo, que privilegia a especulação teórica em detrimento da prática. A proposta consiste em desenvolver uma práxis acadêmica que desenvolva a habilidade do discente de teorizar e resolver problemas profissionais. Essa
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tarefa não é mero tecnicismo, mas um processo de formação amplo, com vertentes tecnológicas e culturais. Para os oficiais combatentes de carreira do EB, a aprendizagem da pesquisa inicia-se na Academia Militar das Agulhas Negras e estende-se, para a maioria dos demais cursos militares a serem realizados, no prosseguimento da carreira das armas.
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2 LEGISLAÇÃO DE ENSINO DE INTERESSE DO EXÉRCITO BRASILEIRO
Neste tópico, faz-se a apresentação de aspectos da legislação de ensino que são de interesse do EB, destacando-se, em itálico, aqueles referentes ao ensino superior e à pesquisa.
2.1 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN)
Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, do Ministério da Educação e Cultura (MEC). Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
2.1.1 Da educação
Art. 1º. A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. [...] § 2º. A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social.
2.1.2 Da educação superior
Art. 43. A educação superior tem por finalidade: I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo; II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, [...]; III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura [...]; IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação; V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a correspondente concretização [...];
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VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade; VII - promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição.
2.1.3 Condições de realização da educação superior
Art. 45. A educação superior será ministrada em instituições de ensino superior, públicas ou privadas, com variados graus de abrangência ou especialização. Art. 46. A autorização e o reconhecimento de cursos, bem como o credenciamento de instituições de educação superior, terão prazos limitados, sendo renovados, periodicamente, após processo regular de avaliação.
2.1.4 Disposições gerais
Art. 83. O ensino militar é regulado em lei específica, itida a equivalência de estudos, de acordo com as normas fixadas pelos sistemas de ensino. Art. 84. Os discentes da educação superior poderão ser aproveitados em tarefas de ensino e pesquisa pelas respectivas instituições, exercendo funções de monitoria, de acordo com seu rendimento e seu plano de estudos.
2.2 Lei de Ensino do Exército Brasileiro
Lei Nº 9.786, de 08 de fevereiro de 1999. Dispõe sobre o Ensino no Exército Brasileiro e dá outras providências.
2.2.1 Princípios do ensino no Exército Brasileiro
Art. 3º O Sistema de Ensino do Exército fundamenta-se, basicamente, nos seguintes princípios: I - integração à educação nacional; II - seleção pelo mérito;
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III - profissionalização continuada e progressiva; IV - avaliação integral, contínua e cumulativa; V - pluralismo pedagógico; VI - aperfeiçoamento constante dos padrões éticos, morais, culturais e de eficiência; e VII - titulações e graus universitários próprios ou equivalentes aos de outros sistemas de ensino.
2.2.2 Orientações para ensino no Exército Brasileiro
Art. 4º O Sistema de Ensino do Exército valoriza as seguintes atitudes e comportamentos nos concludentes de suas modalidades de ensino: I - integração permanente com a sociedade; II - preservação das tradições nacionais e militares; III - educação integral; IV - assimilação e prática dos deveres, dos valores e das virtudes militares; V - condicionamento diferenciado dos reflexos e atitudes funcionais; VI - atualização científica e tecnológica; VII - desenvolvimento do pensamento estruturado. ....................
2.2.3 Modalidades de ensino no Exército Brasileiro
Art. 6º Para atender a sua finalidade, o Sistema de Ensino do Exército mantém as seguintes modalidades de cursos: II - graduação, que qualifica em profissões de nível superior, com ou sem correspondentes civis, para a ocupação de cargos e para o desempenho de funções militares; III - especialização, que qualifica para a ocupação de cargos e para o desempenho de funções que exijam conhecimentos e práticas especializadas; V - aperfeiçoamento, que atualiza e amplia conhecimentos obtidos com a formação ou a graduação, necessários para a ocupação de cargos e para o desempenho de funções de maior complexidade;
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VI - altos estudos militares, que qualifica para a ocupação de cargos e para o desempenho de funções privativas do Quadro de Estado-Maior da Ativa, bem como atualiza, amplia e estrutura conhecimentos em ciências militares, políticas e sociais; § 1º A pós-graduação complementa a graduação e a formação universitária, por meio de cursos específicos ou considerados equivalentes, mediante a concessão, o suprimento ou o reconhecimento de títulos e graus acadêmicos.
2. 3 Regulamento da Lei de Ensino do Exército Brasileiro
Decreto Nº 3.182, de 23 de setembro de 1999. Regulamenta o ensino no Exército Brasileiro e dá outras providências.
2.3.1 Orientação geral de ensino no Exército Brasileiro
Art. 3º O ensino no Exército deve assegurar a seu pessoal, por meio dos diferentes cursos, base humanística, filosófica, científica e tecnológica, política e estratégica, para permitir o acompanhamento da evolução das diversas áreas do conhecimento, o interrelacionamento com a sociedade e a atualização constante da doutrina militar. ......................... 2.3.2 Organização do ensino no Exército Brasileiro
Art 6º O ensino no Exército compreende três graus: III - universitário ou superior, destinado à qualificação de pessoal para a ocupação de cargos militares e o desempenho de funções próprias de oficiais e de oficiais-generais. ........................ Art. 8º O ensino no Exército desenvolve-se em quatro distintas Linhas de Ensino Militar: I - Bélica, destinada à qualificação continuada de pessoal necessário à direção, ao preparo e ao emprego da Força Terrestre; II - Científico-Tecnológica, destinada à qualificação continuada de pessoal necessário à direção e à execução das atividades científico-tecnológicas [...] III – de Saúde destinada à qualificação continuada de pessoal necessário à direção e à execução das atividades de saúde; e
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IV – Complementar, destinada à qualificação continuada de pessoal necessário ao desempenho de atividades não enquadradas nas linhas anteriores e definidas em legislação específica. ........................... Art 9º Para efeito de progressão na carreira militar, as atividade de ensino são grupadas das seguintes formas: I - 1º Ciclo, cursos de formação e graduação; II - 2º Ciclo, cursos de aperfeiçoamento; III - 3º Ciclo, cursos de altos estudos militares; e IV - 4º Ciclo, curso de Política, Estratégia e Alta istração do Exército. ........................... Art 17. O grau universitário ou superior do Sistema de Ensino do Exército é equivalente ao nível de educação superior, na forma do art. 83 da Lei nº 9.394, de 23 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Art 18. Os cursos e programas de grau universitário ou superior, mantidos pelo Exército, possuem as seguintes diplomações e titulações, equivalentes às conferidas à Educação Superior Nacional: I - cursos de graduação e formação, graduação universitária, deste que o aluno conclua o curso com aproveitamento e preencha as demais exigências contidas nos regulamentos dos estabelecimentos de ensino, recebendo o título de Bacharel; II - Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais, da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais: a) pós-graduação, lato sensu , de aperfeiçoamento em Operações Militares [...]; e b) pós-graduação, stricto sensu , de Mestrado em Operações Militares [...]; III - Curso de Comando e Estado-Maior e Curso de Chefia e Estado-Maior para Oficiais Intendentes, ambos da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército: a) pós-graduação, stricto sensu , de Mestrado em Ciências Militares [...]; e b) pós-graduação, stricto sensu , de Doutorado em Ciência Militares [...]; IV - Curso de Chefia e Estado-Maior para Oficiais Médicos e Curso de Direção para Engenheiro Militares, ambos da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército: a) pós-graduação, lato sensu, de especialização em Ciências Militares [...]; e b) pós-graduação, stricto sensu, de Mestrado em Ciências Militares [...]; V - Curso de Política, Estratégia e Alta istração do Exército, da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército:
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a) pós-graduação, lato sensu, de especialização em Política, Estratégia e istração Militares [...]; e b) para os diplomados do Curso de Comando e Estado-Maior e do Curso de Chefia e Estado-Maior para Oficiais Intendentes, ambos da Escola de Comando e EstadoMaior do Exército - pós graduação stricto sensu , de Doutorado em Política, Estratégia e istração Militares [...]; VI - cursos de especialização - pós-graduação, lato sensu , de especialização na área considerada [...].
2.4 Equivalência de cursos superiores do ensino militar
Portaria Nº 3.672, de 12 de novembro de 2004, do MEC. Dispõe sobre os cursos superiores do ensino militar. Art. 1º Os cursos superiores do ensino militar, ministrados no âmbito federal, serão declarados equivalentes aos cursos superiores de graduação do Sistema Federal de Ensino de que trata o art. 16 da Lei nº 9.394, de 1996, desde que observadas as diretrizes curriculares estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação para cada curso. §1º As diretrizes curriculares a que se refere o caput do artigo constituem referencial básico para a análise da proposta pedagógica do curso superior militar. § 2º A proposta pedagógica de que trata o § 1º deverá receber aprovação do Órgão Central do Sistema de Ensino de cada Instituição Militar antes de ser apresentada à Secretaria de Educação Superior (SESu). Art.2º Cabe à SESu, em articulação com as universidades federais, a avaliação da proposta pedagógica do curso superior militar, com vistas à declaração de equivalência.
2.5 Definição do termo ciências militares
Portaria N° 517, de 26 de setembro de 2000, do Comandante do Exército Brasileiro. Define Ciências Militares, fixa sua abrangência e estabelece a finalidade de seu estudo. Art. 1° Definir o termo Ciências Militares como sendo o conjunto de conhecimentos relativos à esfera militar, obtidos mediante a observação, a experiência dos fatos e método próprio.
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Art. 2° Fixar as seguintes áreas de estudo a serem abrangidas pelas Ciências Militares:
I - istração; II - Direito; III - Doutrina; IV - Educação e Cultura; V - Estratégia; VI - História Militar; VII - Instrução Militar; VIII - Inteligência; IX - Liderança; X - Logística; XI - Mobilização; XII - Operações Militares; XIII - Política de Defesa Nacional XIV - Relações Internacionais; e XV - Tecnologia. Art. 3° Determinar que o estudo das Ciências Militares no Exército Brasileiro tenha por finalidade a formulação doutrinária e a preparação dos planejadores e gestores dos recursos colocados à disposição da Força Terrestre para o cumprimento de sua missão constitucional.
2.6 Regulamentação dos cursos de graduação e pós-graduação do DEP
Portaria Nº 135 - DEP, de 31 de outubro de 2006. Aprova as Instruções Reguladoras da Organização e da Execução dos Cursos de Graduação, de EspecializaçãoProfissional, de Extensão e de Pós-Graduação, no âmbito do DEP (IR 60-37).
2.6.1 Metas para o ensino superior no Exército Brasileiro
Art.
3º O SESM/DEP (Sistema de Ensino Superior Militar) constitui-se em
um sistema de ensino progressivo, dinâmico e flexível, a fim de atender às seguintes metas:
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I - formar e habilitar recursos humanos qualificados para desempenhar cargos e funções da profissão militar e atuar nas áreas de defesa e segurança nacionais; II - qualificar, em alto nível, recursos humanos para o exercício das atividades de docência para todos os níveis do ensino militar; III - criar condições para ampliar o número de graduados e titulados em Ciências Militares; IV - desenvolver competências específicas que capacitem os recursos humanos a atuarem pró-ativamente, a conviverem com situações inéditas e a apresentarem soluções oportunas e criativas para problemas que surjam; V - investir no avanço do conhecimento, ampliando a produção científica sobre questões relacionadas à defesa e segurança nacionais; VI - elaborar novos conhecimentos mediante a atividade de pesquisa científica; VII - desenvolver as Ciências Militares; VIII - permitir a aplicação das pesquisas científicas no desenvolvimento da doutrina militar terrestre; IX - oferecer à sociedade brasileira conhecimentos especializados que promovam a disseminação das Ciências Militares e o comprometimento com a defesa e segurança nacionais; X - maximizar a utilização do potencial individual de docentes e de discentes; XI - manter atualizados os cursos conduzidos na área do DEP; XII - conduzir as atividades de ensino e pesquisa focadas nas políticas, estratégias e diretrizes constantes do Sistema de Planejamento do Exército (SIPLEx); XIII - permitir que os Trabalhos Científicos de pós-graduação contribuam para os cursos de graduação; XIV - integrar-se ao Sistema Federal de Ensino, mantendo a sua autonomia; XV - favorecer o intercâmbio com universidades, IES e centros de pesquisa militares, civis públicos, civis privados, nacionais e internacionais; XVI - manter a eficácia e a credibilidade do Sistema de Ensino do Exército Brasileiro (EB), valendo-se de processos e sistemáticas similares aos meios acadêmicos nacional e internacional; XVII - institucionalizar a pesquisa científica para atender aos interesses operacionais do EB; e
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XVIII - proporcionar habilitações para que os militares possam continuar o desenvolvimento de atividades na área de ensino e pesquisa, quando da agem do serviço ativo para a reserva remunerada. ......................... Art. 5º [...] Parágrafo único. A fim de estimular a produção de conhecimentos das Ciências Militares, as IES/DEP devem priorizar a atualização e o desenvolvimento da doutrina, da estratégia, da política, da istração, da educação, da cultura, da defesa nacional, da segurança nacional e do preparo e emprego da Força Terrestre. ..................
2.6.2 Organização do ensino superior no Exército Brasileiro
Art. 8º Os cursos de graduação do SESM/DEP concedem diplomas de bacharelado ou de licenciatura plena, referindo-se ao primeiro nível da educação superior conferido pelo Sistema, e devem adotar medidas que estimulem a iniciação científica [...]. Art. 9º Os estágios e os cursos de extensão do SESM/DEP são destinados a atualizar os conhecimentos profissionais, sem cunho de titulação acadêmica, e não se caracterizam como PG nível lato sensu [...]. ............. Art. 15 As IES que conduzem cursos de graduação e de PG stricto sensu presenciais deverão inserir, nos seus currículos, a disciplina Metodologia da Pesquisa Científica como atividade curricular. ......... Art. 17 As atividades de orientação e de pesquisa deverão constar na grade curricular dos cursos regulares presenciais, designadas pela palavra “Pesquisa”, nas seguintes condições: I - cursos de graduação - mínimo de 40 horas [...] ............ Art. 18 As disciplinas Metodologia do Ensino Superior e Estatística deverão ser inseridas nos documentos de currículos, levando-se em consideração a modalidade do curso, o ciclo de ensino e, principalmente, as exigências do perfil profissiográfico do concludente do curso.
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Art. 19 Considerando-se as peculiaridades da profissão militar, das IES/DEP e a grande rotatividade dos profissionais no desempenho funcional, a carga horária mínima das atividades didático-pedagógica dos estágios, cursos e programas conduzidos pelo SESM/DEP será a seguinte: IV - cursos de graduação a) bacharelado - 2.800 horas de atividade didático-pedagógica presencial ou a distância, incluídas as horas destinadas à realização de estágio supervisionado; b) licenciatura plena - 3.200 horas de atividade didático-pedagógica presencial ou a distância, incluídas as horas destinadas à realização de estágio supervisionado; .............. Art. 21 O SESM/DEP abrangerá os seguintes cursos e programas: II - de graduação a) de bacharelado em Ciências Militares, para os cursos de Formação de Oficiais da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), com apresentação obrigatória de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC); e b) de licenciatura plena em Educação Física, para o Curso de Instrutor de Educação Física da Escola de Educação Física do Exército (EsEFEx), com apresentação obrigatória de TCC; .............. 2.6.3 Dos procedimentos de pesquisa, da ética nos trabalhos científicos
Art. 28 A condução da pesquisa em Ciências Militares seguirá a Metodologia da Pesquisa Científica. Art. 29 Os trabalhos de pesquisa e de investigação devem ser orientados para o desenvolvimento e a difusão das Ciências Militares [...] § 4º Serão considerados como produção científica os Trabalhos Científicos descritos no art. 46 destas IR, a elaboração e revisão de manuais de campanha, autoria de livros, autoria de capítulos de livros, redação de artigos, publicação de resumos em periódicos e publicação em anais de congressos, seminários, simpósios, jornadas e ciclos de estudos [...]. Art. 30 As áreas de estudo ou de concentração, as linhas de pesquisa dos cursos e dos programas, bem como a aplicabilidade dos estudos desenvolvidos devem estar ajustadas aos interesses do EB [...]
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Art. 31 As IES selecionarão e disponibilizarão, para cada ano letivo, as áreas de estudo, as linhas de pesquisa e os temas para os cursos de graduação e de PG que serão conduzidos. Art. 33 A escolha do tema e a sua delimitação são de total responsabilidade do discente, podendo, se for o caso, valer-se de sugestões do seu orientador ou do co-orientador ou da IES. § 1º O discente tem liberdade para indicar o tema para seu Trabalho Científico. O tema poderá ser da lista oferecida pela IES ou outro qualquer, de acordo com os interesses pessoais do discente, desde que esteja enquadrado nas áreas de estudo, nas linhas de pesquisa da IES, no nível do curso regular e atenda aos interesses da IES e do EB. ........... Art. 35 Cada IES será responsável pela análise e pelos procedimentos para a aprovação da pesquisa e do tema decorrente, devendo avaliar, no mínimo, os seguintes aspectos: I - área de estudo; II - linha de pesquisa; III - referencial conceitual, com ênfase na situação-problema; IV - disponibilidade de pesquisador para apoiar o discente; V - qualificações do discente para desenvolver a pesquisa decorrente; VI - consistência, objetivo, viabilidade, relevância e oportunidade da pesquisa; e VII - interesse da IES e do EB no resultado da pesquisa. ............ Art. 36 Toda pesquisa científica que envolva, direta ou indiretamente, seres humanos (de forma física ou comportamental) deverá ser, obrigatoriamente, submetida à análise de um Comitê de Ética em Pesquisa (CoEP), a fim de ser avaliado o risco da pesquisa. § 1º Será enquadrada como risco da pesquisa a possibilidade de ocorrência de algum dano, como conseqüência imediata ou tardia da pesquisa, para o indivíduo ou para a coletividade, de dimensão física, psíquica, moral, intelectual, social, cultural ou espiritual. § 2º O Trabalho Científico baseado em simples pesquisa de opinião não será submetido ao CoEP. § 3º O Trabalho Científico baseado em entrevista será submetido ao CoEP. § 4º A pesquisa cuja coleta de dados ocorra em atividades rotineiras de qualquer profissão em que exista a participação, com caráter obrigatório, de indivíduos ou grupo de indivíduos, estes deverão ser obrigatória e previamente informados a seu respeito,
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manifestando a aquiescência. Essa pesquisa deverá ser submetida à avaliação do CoEP. ........... Art. 42 A verificação da ética na pesquisa será baseada nos quatro referenciais básicos da bioética: autonomia; não-maleficência (mínimo de danos); beneficência (máximo de bem-estar e de benefícios); e justiça, conforme prescrição da Resolução nº 196/CNS, de 10 Out 96, ponderando sempre entre os riscos e benefícios, além da própria relevância da pesquisa. Art. 43 A pesquisa envolvendo seres humanos somente poderá ser conduzida após o consentimento livre e esclarecido do pesquisado ou de seu representante legal (autorização do pesquisado) e da aprovação de um CoEP. Parágrafo único. O pesquisado será, obrigatoriamente, pessoa voluntária, podendo desistir da pesquisa a qualquer momento, sem sofrer qualquer tipo de punição. No caso de o pesquisado ser discente, deverá ficar evidenciado que não houve coação por parte do corpo docente. ............
2.6.4 Do projeto de pesquisa
Art. 44 O Projeto de Pesquisa é o elemento básico para o desenvolvimento do Trabalho Científico. É constituído pela organização de idéias lógicas e elaborado atendendo à Metodologia da Pesquisa Científica, às exigências da CAPES e às normas técnicas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Art. 45 O Projeto de Pesquisa constitui-se no registro do plano de trabalho, em um documento apresentado com a finalidade de ajudar o discente e o orientador a acompanhar o desenvolvimento do Trabalho Científico, mantendo o rumo preestabelecido. É normal que, durante o desenrolar da elaboração do Trabalho Científico, surjam situações e dificuldades não previstas que vão exigir alterações no plano inicial. Essas mudanças devem ser avaliadas e autorizadas pelo orientador.
2.6.5 Do trabalho científico
Art. 46 O SESM/DEP adotará, na forma de exigência curricular, para fim de conclusão do curso, os Trabalhos Científicos descritos a seguir, elaborados individualmente sobre tema único, específico, delimitado em sua extensão, com descrição exaustiva de
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determinada matéria e abordando aspectos científicos, técnicos, istrativos, econômicos, políticos, históricos ou doutrinários: III - Trabalho Acadêmico-Similar: - Trabalho de Conclusão de Curso. § 3º O Artigo Científico e o Ensaio não são reconhecidos pelo DEP como Trabalho Científico de exigência curricular para fim de conclusão de cursos de graduação ou de PG níveis lato sensu ou stricto sensu. ................. Art. 47 Em todos os cursos de graduação e de PG, conduzidos em atividade presencial, haverá a obrigatoriedade da realização de pesquisa e a exigência de elaboração individual de Trabalho Científico, para suscitar o permanente aperfeiçoamento cultural e profissional. § 1º Nos cursos de graduação e de PG lato sensu será exigida do discente a realização individual de TCC. .......... Art. 49 As IES devem implementar medidas para estimular a produção inter e multidisciplinar em Ciências Militares e para desenvolver o espírito crítico e criativo dos discentes e dos docentes. § 1º O Projeto Interdisciplinar (PI) dos cursos regulares presenciais constitui-se em atividade pedagógica e em instrumento de avaliação, não sendo considerado como Trabalho Científico para obtenção de diplomas ou certificados de cursos de graduação ou de PG. ............ Art. 50 Os discentes de cursos de graduação e de PG devem ser estimulados ao aprimoramento da leitura, da pesquisa, do pensamento reflexivo, da capacidade de redação em idioma Português, da expressão oral, da capacidade de leitura em idioma estrangeiro e ao permanente
auto-aperfeiçoamento
profissional
e
cultural,
contextualizado
com
o
desenvolvimento e os fatos que ocorrem no mundo. ............ Art. 52 A apresentação individual em ato público de TCC elaborado por discente de curso de graduação e de PG nível lato sensu, como atividade presencial ou não-presencial, ficará a critério da IES, não havendo obrigatoriedade deste ato.
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Art. 55 O Trabalho Científico aprovado será arquivado na Biblioteca da IES e divulgado em revista científica e em mídia eletrônica do Estb Ens, bem como nos meios de divulgação institucionais, conforme interesse do EB. ..............
2.6.6 Da execução dos cursos de graduação
Art. 82 A execução dos cursos de graduação seguirá as normas já aprovadas pelo DEP, constantes das referências citadas no anexo único a estas IR, devendo estimular: I - a aprendizagem do discente; II - o exercício de atividades de enriquecimento cultural; III - a inicialização de pesquisa científica; IV - a prática de estudo independente; V - a experiência profissional e a autonomia intelectual do discente; VI - o exercício do pensamento reflexivo; e VII - o desenvolvimento de competências e habilidades. Art. 83 A elaboração do TCC deverá ter o foco na construção do conhecimento e permitir a capacitação em iniciação em pesquisa científica, mobilizando o discente para a ação de leitura de fontes primárias, a fim de adquirir conhecimentos além daquilo que os docentes irão ensinar. Art. 84 A entrega do TCC será feita antes do término do curso e da realização do estágio curricular supervisionado [...] Art. 85 O resultado da avaliação do TCC será expresso por meio de valores numéricos, na forma de nota, variando de 0,00 (zero) a 10,00 (dez), e comporá o resultado final do curso de graduação, com percentual a ser definido pelo Estb Ens. § 1º O discente cujo TCC receba nota inferior a 5,00 (cinco) deverá revisá-lo e submetê-lo à reavaliação, dentro de um prazo compatível com a data de conclusão do curso regular e a ser estipulado pela direção de ensino da IES. § 2º No curso de graduação de bacharelado, na modalidade de formação, inexistirá reprovação de discente cujo TCC receba nota inferior a 5,00 (cinco). § 3º Nos cursos de graduação de licenciatura plena, o discente que, após revisar seu Trabalho Científico, continue com a nota inferior a 5,00 (cinco), será considerado inabilitado, devendo ser desligado por falta de aproveitamento. § 4º Para fim de composição do resultado final de curso, será computada a
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primeira nota atribuída ao TCC, antes de sua reelaboração pelo discente. Art. 86 O julgamento do TCC será feito por uma Comissão de Avaliação composta de, no mínimo, dois membros integrantes da IES.
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3 CIÊNCIA COMO FORMA DE CONHECIMENTO
O desejo do homem em conhecer e dominar a realidade é feito por vários caminhos. A seguir trataremos de diferentes formas de conhecer o mundo.
3.1 O processo de conhecer
A ciência e o conhecimento científico são definidos de maneiras diferentes pelos diversos autores que se lançam nessa reflexão. Contudo, a maior parte dos que buscam definir ciência concorda que o primeiro o, ao abordar o conhecimento científico, consiste em diferenciá-lo de outros tipos existentes. (LAKATOS; MARCONI, 1986, p. 17). Se nos detivermos, inicialmente, sobre o que se entende por conhecimento e por processo de conhecer, tem-se algumas idéias importantes a propósito: Conhecer é atividade especificamente humana. Ultraa o mero ‘dar-se conta de', e significa a apreensão, a interpretação. Conhecer supõe a presença de sujeitos; um objeto que suscita sua atenção compreensiva; o uso de instrumentos de apreensão; um trabalho de debruçar-se sobre. Como fruto desse trabalho, ao conhecer, cria-se uma representação do conhecido – que já não é mais o objeto, mas uma construção do sujeito. O conhecimento produz, assim, modelos de apreensão – que por sua vez vão instruir conhecimentos futuros. (FRANÇA, 1994, p. 140, grifo nosso).
São destacados, assim, os principais elementos envolvidos no processo de conhecer: o sujeito que conhece, o elemento da realidade a ser conhecido (objeto), o movimento do sujeito em direção ao objeto (que é o próprio processo de conhecer) e os instrumentos utilizados neste processo. Um último elemento apresentado pela autora, é o fato de que todo processo de conhecimento se dá no cruzamento de duas dinâmicas opostas, duas atitudes básicas: [...] a abertura para o mundo, a cristalização (ou enquadramento) do mundo. Conhecer significa voltar-se para a realidade, e ‘deixar falar' o nosso objeto; mas conhecer significa também apreender o mundo através de esquemas já conhecidos, identificar no novo a permanência de algo já existente ou reconhecível. O predomínio de uma ou outra dessas tendências tem efeitos negativos, e é através de seu equilíbrio que se pode alcançar o conhecimento ao mesmo tempo atento ao novo e enriquecido pelas experiências cognitivas anteriores. (FRANÇA, 2001, p.43, grifo nosso).
A partir desses elementos compõem-se o processo de conhecer e as duas dinâmicas de abertura e de cristalização nele envolvidas, que podem ser distinguidos diferentes tipos de conhecimento.
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3.2 O conhecimento do senso comum
Para Lakatos e Marconi (1986, p.18), o senso comum, também denominado conhecimento vulgar ou popular, é um modo corrente e espontâneo de conhecer que “não se distingue do conhecimento científico nem pela veracidade nem pela natureza do objeto conhecido: o que os diferencia é a forma, o modo ou o método e os instrumentos do ‘conhecer’”. O conhecimento do senso comum é adquirido no cotidiano, sendo normalmente produzido por meio da experiência (empirismo), com finalidade de aplicação prática e imediata (KÖCHE, 1997). O modo de operar do senso comum é assistemático e a produção do conhecimento se dá por intuição, acidentalmente, por observação casual ou por tentativa-erro. Köche (1997) destaca, ainda, que o senso comum apresenta baixo poder de crítica, pois é superficial na explicação da realidade e não tem consciência dos seus limites de validade e alcance. A imprecisão na definição dos termos (linguagem vaga) e a ênfase na subjetividade são elementos que favorecem a baixa criticidade desse conhecimento. A caracterização do senso comum como uma forma de conhecimento acrítica, que não reflete sobre si mesmo, e assistemática, pois não tem a preocupação de uma sistematização e organização de idéias num todo coerente, também é destacada por Demo, para quem o senso comum: [...] não possui sofisticação. Não problematiza a relação sujeito/objeto. Acredita no que vê. Não distingue entre fenômeno e essência, entre o que aparece na superfície e o que existe por baixo. Ao mesmo tempo, assume informações de terceiros sem as criticar. (DEMO, 1985, p.30).
Soma-se ao caráter imediatista, colado às necessidades de atividades rotineiras o fato do senso comum ser “transmitido de geração para geração por meio da educação informal e baseado em imitação e experiência pessoal” (LAKATOS; MARCONI, 1986, p.17). Assim, o senso comum é também um tipo de conhecimento marcado pela tradição, com idéias e comportamentos pré-estabelecidos pelo hábito. Esse caráter tradicional ou habitual é muitas vezes expresso por frases, como, por exemplo: “Isso sempre foi feito assim!” Os préconceitos e os modelos consagrados transmitidos ao longo das gerações, sem o devido questionamento de seus limites ou de suas relações de causa e efeito, podem conduzir a visões simplificadas dos fenômenos. De modo geral, é válida a afirmação de que o senso comum contribui para que a ciência progrida, pois parte de dificuldades que emergem no dia-a-dia das pessoas. Alves (2000) defende a tese de que a ciência traduz-se num saber derivado da busca de superar
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problemas que emergem da esfera do senso comum: a aprendizagem da ciência é um processo de desenvolvimento progressivo do senso comum. Vários são os exemplos de situações vividas em contextos sociais não científicos que exigem da comunidade científica a necessidade de pesquisar, de aprofundar as interpretações dos achados do senso comum. Muito antes de a farmacologia moderna desvendar cientificamente a ação da cafeína sobre o sistema nervoso central (SNC), especialmente seu efeito estimulante, as comunidades indígenas da Amazônia se beneficiavam das propriedades desta substância no alívio da fadiga, através do emprego do guaraná, sem necessariamente compreender sua composição química ou outras possibilidades terapêuticas. Assim, não podemos ignorar e subjugar a "sabedoria popular". O grande risco é nos acomodarmos nesses saberes, sem verificar sua extensão e seus elementos constitutivos. O conhecimento do senso comum é válido, mas é limitado. A tensão derivada desses limites pode impulsionar investigações mais profundas do senso comum, levando a outros tipos de conhecimento. Em especial, pode impulsionar pesquisas para a produção de conhecimentos mais característicos da ciência. Estão, portanto, representadas as duas dinâmicas de conhecimento: a abertura e a cristalização.
3.3 O conhecimento religioso
O conhecimento religioso ou teológico se caracteriza por ser valorativo, inspiracional, sistemático, não verificável, infalível e exato (LAKATOS; MARCONI, 1986, p. 21). O princípio da autoridade é primordial para seu funcionamento, pois ele se apóia em doutrinas com proposições sagradas, reveladas pelo sobrenatural, que consistem em verdades indiscutíveis já que, na experiência religiosa, “está sempre implícita uma atitude de fé perante um conhecimento revelado” (LAKATOS; MARCONI, 1986, p. 21). O conhecimento religioso pressupõe um Ser que a tudo conhece e tudo sabe, portanto, o desafio do conhecimento para os sujeitos não é conhecer e produzir verdades sobre o mundo, mas sim compreender uma verdade que já está pronta, revelada, concedida. O homem é menos sujeito do conhecimento, na medida em que não pratica experimentações ou busca novas formulações, mas apenas busca compreender, cada vez mais, um corpo de conhecimentos que se lhe apresenta já organizado, sistematizado, com regras, hierarquias e leis.
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Ao mesmo tempo, trata-se de um tipo de conhecimento não falseável, isto é, que não permite a verificação porque vem da transcendência. Exatamente por essa característica, representa uma forma de conhecimento que evolui muito lentamente, tende a ser estacionário. Para demonstrar essa concepção, recordam-se as palavras de Santo Agostinho: “aquilo que a verdade descobrir não pode contrariar aos livros sagrados, quer do Antigo quer do Novo Testamento” (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 101). O conhecimento é entendido, portanto, como ato da iluminação divina (ANDERY et al., 2004, p.145). Na experiência religiosa, o sujeito se relaciona não com “coisas” da realidade que ele vai tentar conhecer, mas com “objetos” que surgem já interpretados e explicados pela doutrina religiosa (dogma). O processo do conhecimento prevalente é o da cristalização do saber.
3.4 O conhecimento artístico
A arte é uma forma de organização das experiências vividas que mobiliza a criatividade e a emoção, podendo produzir objetos de conhecimento. Trata-se de um caso privilegiado de entendimento intuitivo do mundo, tanto para o artista que cria as obras quanto para o apreciador, que as contempla e busca-lhes o sentido. (ARANHA; MARTINS, 1993). O compromisso primeiro da arte não é a da produção de um discurso explicativo da realidade, mas da criação de símbolos, conceitos, significados e objetos sensíveis intuídos pelo artista. A arte é, portanto, uma forma de conhecimento subjetiva, que não se propõe a dar explicações universais e generalizáveis. Antes, é a forma de conhecimento mais ciente de que constrói representações da realidade, propositalmente imprecisas e indiretas. Ela convoca os sujeitos para, com o uso da imaginação, produzir diferentes representações daquilo que lhes é apresentado. (FRANÇA, 1994; SANTAELLA, 2001) A arte possui métodos e técnicas, daí podermos estabelecer alguns sistemas classificatórios, conforme estilos, épocas, técnicas etc. Contudo, no que diz respeito ao processo criativo a arte é, por definição espontânea, dinâmica e aberta. (FRANÇA, 1994, p. 141; SANTAELLA, 2001, p. 103). A arte, assim, está muito mais voltada para a primeira dinâmica do processo de conhecer – abertura para o mundo, embora uma obra de arte imortalize uma expressão do real. Há, também, certo grau de cristalização na leitura artística da realidade, quando, por exemplo, estão em jogo aspectos da experiência estética – pois estão estabelecidos critérios da percepção e do julgamento acerca do Belo. No processo de conhecimento instaurado pela arte as manifestações artísticas são apresentadas aos sujeitos enquanto “coisas”; na relação com os
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objetos e produtos artísticos, cada sujeito vai elaborar sua interpretação, construindo então “objetos”. Há, ainda, a possibilidade de a arte ser encarada sob uma perspectiva funcionalista, ao cumprir objetivos não necessariamente artísticos, ligados a finalidades pedagógicas, religiosas, políticas e sociais. A arte é, então, um conhecimento que pode ser instrumentalizado para produção de outros tipos de conhecimento – inclusive o científico – ou como forma de expressão de poder — ideologia. Contudo, essa aplicação utilitária da arte pretende manter uma característica fundamental: a de provocar a comoção do apreciador.
3.5 O conhecimento filosófico
Segundo Lakatos e Marconi (2000), o conhecimento filosófico é caracterizado pelo esforço da razão pura para questionar a realidade, em especial os problemas humanos, e poder discernir entre o certo e o errado (entre o verdadeiro e o falso). Para tanto, o conhecimento filosófico recorre exclusivamente à racionalização, tendo como objetos de análise as idéias, as relações conceituais, as exigências lógicas. Esses elementos não são redutíveis às realidades materiais e, por essa razão, não são íveis de observação sensorial direta ou indireta (por instrumentos). O conhecimento filosófico emprega a racionalização num processo dedutivo de investigação das relações entre os termos, fato que não exige experimentação, mas prima pela coerência lógica do argumento. Enquanto a ciência procura delimitar, fragmentar e analisar o objeto de pesquisa, o conhecimento filosófico procura a unificação, a generalidade e a essência do real. Assim, o conhecimento filosófico está interessado em responder às grandes indagações do espírito humano e, até, busca leis mais universais que englobem e harmonizem conclusões científicas. De modo geral, Lakatos e Marconi (1986) apresentam o conhecimento filosófico como um tipo de conhecimento, caracterizado por ser valorativo, racional, sistemático, não verificável, infalível e exato. Há perspectivas que definem a filosofia como um tipo de saber que avalia as demais formas de conhecimento, pois estuda a natureza e os limites das diferentes manifestações do conhecimento humano: “A filosofia trata das idéias – idéias sobre o mundo, sobre as pessoas, idéias sobre o viver [...] A filosofia se preocupa com o modo como sabemos as coisas e com o que podemos saber” (RAEPER; SMITH, 2001, p.13).
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3.6 Ideologia e conhecimento
Alguns autores ainda identificam, como outra forma de conhecimento distinta das demais, a ideologia. É o caso de Demo (1985), que distingue a ideologia como forma de conhecimento composta de enunciados que justificam relações de poder. Trata-se de uma concepção de ideologia oriunda do pensamento marxista, que define a ideologia como “a transposição involuntária para o plano das idéias de relações sociais muito determinadas” (CHAUÍ, 1981a, p.10). Essa definição de ideologia não destaca tanto as características do conhecimento ideológico (que pode ser mais ou menos sistematizado, sofisticado, coerente), mas sim seu “efeito” sobre a realidade e a sociedade, ou seja, a forma como se dá a inserção desse conhecimento nas relações sociais: Fundamentalmente, a ideologia é um corpo sistemático de representações e de normas que nos ‘ensinam' a conhecer e a agir. A sistematicidade e a coerência ideológicas nascem de uma determinação muito precisa: o discurso ideológico é aquele que pretende coincidir com as coisas, anular a diferença entre o pensar, o dizer e o ser e, destarte, engendrar uma lógica de identificação que unifique pensamento, linguagem e realidade para, através dessa lógica, obter a identificação de todos os sujeitos sociais com uma imagem particular universalizada, isto é, a imagem da classe dominante. (CHAUÍ, 1981b, p.3).
Concebida dessa forma, mostra-se mais coerente pensar na ideologia não como uma forma de conhecimento distinta das demais, mas como uma dimensão do conhecimento que pode estar presente em todas elas. Tanto o senso comum quanto a religião ou a arte podem funcionar como discursos ideológicos em determinados contextos. Também a ciência pode se revestir de uma dimensão ideológica, como salientam vários autores. Alves (1987) alerta para o fato de a ciência ter virado um mito e, como tal, induzir o comportamento e inibir o pensamento – a palavra do ‘especialista’ é mitificada. Gressler (2003) também identifica a possibilidade da ciência se tornar um “produto ideológico”. Lacey (1998) critica a idéia de neutralidade e imparcialidade do conhecimento científico, constatando que a ciência não é ‘livre de valores’ – por exemplo: as pesquisas para construção do artefato nuclear têm objetivos ligados a projeção do poder nacional.
3.7 A ciência moderna
Ao apontar o surgimento do método científico no século XV, Gressler (2003) não descarta que, desde a Idade Antiga, já houvesse habilidades e preocupações com uma linguagem técnica e uma argumentação lógica fundamentada na razão – como bem demonstra, por exemplo, a geometria desenvolvida pelos gregos. Contudo, há a
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particularização do projeto científico como uma forma específica de conhecer a realidade, desenvolvida com a contribuição de três personagens: A necessidade de se ter fundamentos sobre o processo de investigação e sobre a certeza dos resultados despertou o interesse de pensadores, já no início do século XVI, em três povos distintos do Ocidente. Na França, René Descartes pautou sua defesa no método dedutivo; na Inglaterra, o grande teorizador da experimentação, Francis Bacon, deu uma configuração doutrinária à indução experimental, procurando ensinar alguns métodos rudimentares de observação e apontamentos e na Itália, Galileu Galilei, preocupado em instituir um pensamento baseado na experimentação, resolveu pôr à prova alguns ensinamentos de Aristóteles. (GRESSLER, 2003, p. 28).
Descartes (1596-1650), em obras como “O discurso do método” e “Meditações”, propôs como ponto de partida de todo conhecimento a busca da verdade primeira, que não pudesse ser posta em dúvida. Por isso, converte a dúvida em método: “Se duvido, penso; se penso, existo” (Cogito, ergo sum). Com isso, Descartes promove um “questionamento radical do princípio de autoridade como forma de conhecimento”, pois sua atitude coloca em suspenso as verdades adquiridas por via da tradição e da revelação, isto é, do senso comum e da religião (QUINTANEIRO et al., 1996, p. 09). Ao mesmo tempo, o pensador francês promove a razão, informada pelas regras do método, à condição de guia supremo do processo de conhecer. Ao teorizar sobre a racionalidade, ele promove uma separação entre mente e corpo, entre matéria e pensamento, e entre a razão e as demais formas de conhecimento, nascendo daí a ruptura da ciência com o sensível, a natureza, a imaginação e o sagrado: Para Descartes, o conhecimento sensível (isto é, sensação, percepção, imaginação, memória e linguagem) é a causa do erro e deve ser afastado. O conhecimento verdadeiro é puramente intelectual, parte das idéias inatas e controla (por meio de regras) as investigações filosóficas, científicas e técnicas. (CHAUÍ, 1996, p. 116).
Descartes opera uma redução da subjetividade humana a seus aspectos racionais, o que resultou numa imagem do cientista como alguém que não pertence a uma coletividade, que não estabelece relações, como se fosse apenas uma mente pensante – é a idéia mitológica do cientista isolado do mundo (ALVES, 2000). Também é de Descartes o mérito de propor, como método científico, a redução da complexidade, isto é, separar para estudar, dividir o objeto de conhecimento em suas menores unidades e estudar cada uma dessas unidades separadamente. O conhecimento disciplinar especializado encontra no argumento cartesiano o fundamento para sua confirmação. Já Francis Bacon (1561-1626) tem no “Novum organum” sua obra fundamental, em que compreende a ciência como um novo órgão, um novo sentido do pensamento. Com ele tem início o caráter prático da ciência: não um saber contemplativo e desinteressado, mas um saber instrumental, que possibilite a dominação da natureza:
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Bacon acreditava que o avanço dos conhecimentos e das técnicas, as mudanças sociais e políticas e o desenvolvimento das ciências e da Filosofia propiciariam uma grande reforma do conhecimento humano, que seria também uma grande reforma na vida humana. [...] narra uma sociedade ideal e perfeita, nascida do conhecimento verdadeiro e do desenvolvimento das técnicas. (CHAUÍ, 1996, p.116).
Bacon propôs uma separação entre a ciência e as humanidades (estas preocupadas com a justiça, com as pessoas, com a natureza, com o sagrado). Ele foi forte propulsor do empirismo e difundiu a idéia de que o início de todo conhecimento deveria ser a observação e a descrição fiel da realidade, isenta de julgamentos e interpretações. Por fim, Galileu Galilei (1564-1642) é reconhecido por muitos como o pai do método científico. Seu trabalho enfatizou a atitude empírica na pesquisa científica e buscou medir os fenômenos e fazer observações quantitativas. Dentre suas diversas contribuições (como a lei da inércia) destaca-se a teoria heliocêntrica, por meio da qual pôde comprovar as idéias de Copérnico, e pela qual foi submetido a julgamento durante a Inquisição em Roma, em 1633. Deve-se a Galileu o início do projeto da Mathesis universalis, isto é, a busca de um ideal matemático. Ao afirmar que “o livro da natureza está escrito em caracteres matemáticos” (ALVES, 2000, p. 80), demonstra sua intenção de construir um conhecimento em que as relações entre os objetos conhecidos se expressem em linguagem matemática. Nessa perspectiva, só o que pode ser medido é ciência. Assim, se chega à produção de um conhecimento exato e preciso. A ciência, como uma forma de conhecimento, surge historicamente no século XVI. É conseqüência do processo da Modernidade, que rompe com o mundo feudal e eclesiástico, embasada filosoficamente pelo Iluminismo e originada com o Renascimento. “O discurso científico tem a intenção confessada de produzir conhecimento, numa busca sem fim da verdade” (ALVES, 2000, p. 170). Para alcançar esse conhecimento mais fiel à realidade, a ciência busca o equilíbrio entre as duas dinâmicas do conhecimento, isto é, a constante renovação e a consolidação dos conhecimentos já construídos. Lakatos e Marconi (1986, p. 20) identificam como características do conhecimento científico: ser factual (lidar com ocorrências e fatos reais), contingente (a veracidade ou falsidade do conhecimento produzido pode ser conhecida através da experiência), sistemático (ordenado logicamente num sistema de idéias), verificável (o que não pode ser comprovado não é do âmbito da ciência), falível (não é definitivo, absoluto) e aproximadamente exato (novas descobertas podem reformular o acervo de idéias existentes). Alves (2000) amplia as características do conhecimento científico. Destaca a intenção de busca de ordem, a formulação de modelos e leis que explicam os fenômenos e a
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natureza, o abandono dos valores e a busca de um saber objetivo, o uso de hipóteses e de experimentação para medir os eventos com precisão e o rigor do pensamento com a utilização do raciocínio lógico. Essencialmente, Alves (2000) identifica duas características para a ciência. A primeira é a busca por um conhecimento geral, universal, aplicável a todos os casos. Busca-se tanto as regularidades e uniformidades quanto, a possibilidade da previsão. A segunda é a falseabilidade, isto é, os enunciados científicos podem ser testados para se confirmar se são verdadeiros ou falsos. Uma proposição verificável “é aquela sobre a qual, a partir de testes, podemos tomar uma decisão sobre sua verdade ou falsidade” (ALVES, 2000, p. 176). Assim, são objetivos da ciência o controle prático da natureza, a descrição e compreensão do mundo e a possibilidade de predição (GRESSLER, 2003, p. 37).
3.8 A ciência na pós-modernidade
Segundo Morin e LeMoigne (2000), a ciência moderna está apoiada em quatro pilares da certeza – os princípios da ordem (organização da natureza), da separação (isolar o objeto do contexto), da redução (visão disciplinar do fenômeno) e da lógica dedutiva-indutiva (coerência e não-contradição). O modelo científico fundamentado nessas bases permitiu o desenvolvimento da humanidade, resultando numa expansão dos conhecimentos em vários ramos da realidade. Os autores avaliam que na atualidade o referido esquema de pensamento está em crise. Toda a construção dos saberes derivada do modelo moderno de ciência impõe um grau de simplificação da realidade, pois se desenvolve a partir de uma visão segmentada (disciplinar) dos objetos e não ite contradições nessas construções. Há uma compreensão determinística na ciência moderna, que procura estabelecer relações de causa-efeito entre os eventos. A estruturação dos conhecimentos é feita com argumentos e teorias logicamente concebidas, com formulações de leis científicas que buscam a identidade, a não-contradição e a exclusão. Contudo, para a ciência pós-moderna, a realidade é complexa, e cada fenômeno pertence, ao mesmo tempo, a diferentes níveis de realidade. Esse fato implica na quebra do pensamento linear típico do modelo cartesiano. Como os objetos não são exclusivos de uma única natureza, não podem ficar s a uma única ordem, sujeitos a um único tipo de lei científica.
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Pesquisas experimentais da física favoreceram o desenvolvimento das idéias de coexistência entre a contradição e a complementaridade na construção dos saberes – o que é decorrente da natureza plural do real. Assim, por exemplo, para a física contemporânea, é possível verificar que as partículas de luz, são ao mesmo tempo, onda e matéria – o que antes era uma contradição inaceitável. Temos, ainda, alterações em concepções teóricas consagradas, como as relações entre o tempo e o espaço – quando se trata de realidades de matéria muito pequenas (partículas subatômicas) ou muito velozes (velocidade da luz), há mudanças nas leis preditivas do comportamento desses fenômenos. Na ciência moderna, há a tendência de isolamento e redução dos componentes de um problema aos seus elementos mais simples (seguindo a orientação cartesiana), fato que reforçou a crescente especialização do conhecimento. Para Morin e LeMoingne (2000) a parcelarização generalizada do saber, promovida pela separação entre as grandes ciências e, também, no interior das ciências com as disciplinas, conduziu a um movimento de fechamento para as demais realidades. Como conseqüência, houve a interrupção na comunicação entre as várias disciplinas e na percepção do objeto como uma totalidade maior, complexa e em interação com o meio. O pensamento pós-moderno retoma a visão sistêmica dos fenômenos, reafirmando que tudo está interligado e que o todo é maior que a soma das partes. Abre-se caminho para uma abordagem transdisciplinar da realidade, atendendo aos critérios de diversidade e complementaridade na elaboração dos saberes. As observações originárias de campos experimentais da ciência (especificamente da física e da biologia) sustentam as interconexões existentes entre todas as partículas. Conclui-se que a busca pelo isolamento da partícula fundamental em ambas as disciplinas (o quark da física e os genes da biologia) resultou no reconhecimento de que quarks e genes só ganham expressão quando reorganizadas em sistemas não-fixos, ou seja, quando incluídos nas constituições das matérias e dos organismos. Essas constatações levaram à conclusão de que a pesquisa obstinada do simples (partículas subatômicas e mapeamento genético) conduz o pensamento para o campo do complexo. A especialização (a separatividade) da realidade é um trabalho de restrição das possibilidades explicativas do real – o que resulta numa simplificação do conhecimento. Para Morin e LeMoigne (2000), mesmo quando os elementos da realidade são simples, eles estão ligados por interações complexas. Assim, na ciência pós-moderna, há a reafirmação da teoria sistêmica, que reconhece nos conjuntos de objetos da física, da biologia, da sociologia etc., a organização de um todo que é maior que a soma das parcelas. A organização em sistemas produz qualidades
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ou propriedades desconhecidas das partes concebidas isoladamente (o que os autores chamaram de emergências). A nova estrutura do pensamento científico da pós-modernidade pretende integrar e restituir os objetos ao seu contexto global. Assim, vê-se que ela afeta, também, noções como de ecossistema – que considera o espaço geofísico e a diversidade de organismos vivos presentes numa unidade complexa auto-reguladora. A visão integrada da ecologia repercute na compreensão de outras ciências, como a geografia, que pretende organizar no todo os estratos físicos terrestres, a biosfera e as implantações humanas. Morin e LeMoigne (2000) reafirmam o caráter complexo da ciência pós-moderna. Essa descrição do real acentuaria os traços de incompletude e incerteza acerca do fenômeno, pertencentes ao paradigma emergente da complexidade, típico da ciência da pósmodernidade. O modelo emergente de ciência pensa os objetos não como realidades fechadas e isoladas, mas sim como objetos dinâmicos, contextualizados, sistêmicos e indissolúveis.
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4 PARADIGMAS
O conceito mais usual para definir paradigma é dizer que ele representa determinada visão de mundo. Isso significa que as pessoas que agem de acordo com os axiomas de um paradigma estão unidas, identificadas ou simplesmente em consenso sobre uma maneira de entender, de perceber, de agir, a respeito do mundo. Os que compartilham de um mesmo paradigma aceitam a descrição de mundo que lhes é oferecida sem criticar os fundamentos de tal descrição. Isso significa que o olhar deles está organizado de maneira a perceber só uma determinada “constelação” de fatos e relações entre esses fatos. Qualquer coisa que não seja coerente com tal descrição a despercebida; é vista como elemento marginal ou sem importância. A exemplo disso, pode-se citar que até alguns anos atrás, energia elétrica não era problema para o Brasil nem para os brasileiros. A única coisa que um cidadão comum sabia sobre o assunto era que, ligando o interruptor da sala, a luz acendia. Vivia-se com a idéia de que a natureza nos forneceria energia para sempre. A natureza era vista, então, com um grande supermercado cujas mercadorias nunca acabariam. Esse era o paradigma que orientava a visão de mundo com relação ao consumo de energia, e ninguém imaginava que pudesse ser diferente. Nesse cenário, não se dava importância, por exemplo, para lâmpadas mais econômicas, para banhos mais curtos ou para aquecedores solares. Eles existiam, mas não eram vistos como importantes, pois o paradigma os descartava. Não se precisava deles. Em pouco tempo, tudo mudou. Surgiu o risco de um apagão. Descobriu-se que todos estavam enganados, e que a energia é finita. Isso significou uma mudança em alguns de paradigmas, e, de uma hora para a outra, as lâmpadas econômicas sumiram dos supermercados. Todos queriam comprá-las. O mundo mudou? Não, mas o paradigma que o descrevia sim. Da descrição de um mundo com energia infinita, mudou-se para uma outra descrição. Alteraramse os paradigmas. Um pesquisador deve tentar manter claro quais são as premissas, os valores, os dogmas, os princípios que estruturam seu olhar sobre o fenômeno que está observando. Finalmente, saber sobre os paradigmas da ciência que pratica, permite ao cientista, transitar com liberdade entre eles, criticar uns e assumir outros, combater uns e defender outros, e inclusive, misturar, quando necessário, elementos de diversos paradigmas. Portanto, o estudante, iniciante no estudo das ciências, deve considerar a necessidade de identificar os paradigmas da ciência em que está inserida a sua pesquisa, além de considerar os seus próprios paradigmas.
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Fritjof Capra (1995), no seu livro “O Ponto de Mutação” divide a ciência moderna em dois grandes paradigmas: o mecanicista e o sistêmico. O paradigma mecanicista agrupa todos os paradigmas que aceitaram a visão de mundo de René Descartes, segundo a qual o mundo natural é uma máquina carente de espiritualidade, e, portanto, deve ser dominada pela inteligência humana e ser colocada a seu serviço. Nessa visão, o mundo opera a partir de leis matemáticas, iguais a qualquer máquina, o que permitiria que, ao ser elas estabelecidas rigorosamente, o homem teria assim, uma copia fiel do mundo. Esta visão agrupa o positivismo e o neopositivismo e a dialética materialista. Em concreto, fazem parte desta linha de pensamento todas as ciências modernas que hoje consideramos clássicas: física, química, biologia, psicologia, sociologia, medicina, entre outras, e todas as decorrências tecnológicas que daí resultaram. No paradigma sistêmico, Capra (1995) introduz algumas das ciências que têm efetivado uma mudança radical na visão clássica (visão mecanicista) ou cartesiana de mundo. A visão sistêmica ou holística rejeita a dicotomia entre homem e natureza e propõe uma postura de integração entre esses dois pólos que permita um grau de compreensão voltado para a interação de processos, a multiplicidade das interpretações, e a hetoregeneidade de mundos possíveis, de observadores e de leituras possíveis. O paradigma sistêmico estaria, na visão de Capra, substituindo “os conceitos de uma visão de mundo obsoleta – a visão de mundo mecanicista da ciência cartesiananewtoniana” (CAPRA, 1995, p. 14). Capra elabora no seu livro uma descrição detalhada de como o mecanicismo cartesiano foi incorporado por todas as ciências tradicionais, levando à crise individual, social e ambiental em que vivemos hoje. O novo paradigma introduz, com a física de Einstein, parâmetros de mundo que permitem pensar a natureza, a sociedade e a psique humana de maneira inteiramente diferente da descrição mecânica. A visão mecanicista adota a idéia de que o mundo natural é regido deterministicamente por leis matemáticas em contraposição ao mundo humano, quando há o livre arbítrio. Já a visão sistêmica propõe que a relação entre homem e natureza, não permitindo uma separação tão simples. Se os primeiros observam absolutos, os segundos advogam pela relatividade. Onde uns vêem ordem, outros vêem caos. Onde uns vêem desordem, outros vêem dinamismo. O certo é que o paradigma mecanicista transformou o mundo medieval no mundo moderno que hoje vivemos. A tecnologia aplicada a todos os campos de nossa vida cotidiana, industrial e científica, é fundamentada nas descobertas da ciência mecanicista, positivista, e
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nossas sociedades e instituições, nossa individualidade e subjetividade funcionam de acordo com os modelos dialéticos, materialistas. O que significa que, de fato, a crise, que se vive hoje em todas as áreas, desde a ecológica, ando pela social até a individual e espiritual, é responsabilidade do paradigma cartesiano, como propõe Capra no seu livro. Cabe a cada um, como futuros profissionais, saber a partir de qual paradigma estar-se-á falando e agindo.
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5 FATOS, LEIS E TEORIA
O conhecimento científico utiliza-se de fatos, leis e teorias, que abordaremos a seguir.
5.1 Teoria e fatos
Sob o aspecto científico, teoria e fato estão inter-relacionados, consistindo em elementos que concorrem para um mesmo objetivo: a verdade. Ambos são indispensáveis à abordagem científica, pois constituem matéria-prima e instrumento do conhecimento. Fatos e teorias são coisas diferentes, "[...] e não degraus em uma hierarquia de certeza crescente. Fatos são os dados do mundo. Teorias são estruturas de idéias que explicam e interpretam os fatos" (GOULD, 1983, 254). Nas palavras de Popper (1975, p. 120), "[...] teorias são redes lançadas para capturar o que nós chamamos de 'o mundo': para racionalizálo, explicá-lo e desvendá-lo. A ciência, por meio das leis e teorias, se empenha para tornar a rede cada vez mais fina.” Para Lakatos e Marconi (1991), o fato é considerado uma observação empiricamente verificada. Já a teoria se refere a relações entre fatos: a ordenação significativa desses fatos, a elaboração de conceitos, as classificações, as correlações, as generalizações, os princípios, as leis, as regras, os teoremas, os axiomas etc. No processo de elaboração do conhecimento científico, teorias e fatos são objetos fundamentais no interesse dos cientistas: não existe teoria sem ser baseada em fatos; por sua vez, a compilação de fatos ao acaso, sem um princípio de classificação (teoria), não produziria ciência, mas um acúmulo de fatos não sistematizados, impossíveis de serem interligados e explicados. No universo, a variedade de fenômenos íveis de estudo é infinita; entretanto, cada ciência seleciona e abstrai alguns fatos da realidade relacionados ao fenômeno de interesse (massa, velocidade, graus de socialização etc.), não estudando, portanto, toda a realidade. Constitui, assim, um ato de abstração separar qualquer fenômeno de tudo aquilo que está relacionado ao campo da ciência específica. Esse processo está intimamente ligado ao fundamento teórico que norteia a seleção dos fatos. A teoria articula um sistema conceitual e classificatório para o real, criando para cada área do conhecimento uma estrutura vocabular que pretende representar a realidade, dentro da delimitação estabelecida para o objeto de estudo. Por exemplo, no estudo dos fenômenos relacionados à cultura, a Antropologia Cultural desenvolve conceitos como de
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aculturação (fusão de duas culturas), sincretismo (fusão de elementos culturais, podendo ser de natureza religiosa ou lingüística) etc. O propósito principal da teoria não é descrever, mas interpretar a realidade. Nessas formulações, há todo um processo de generalização da realidade empírica (sensível) e das inter-relações entre os fenômenos, consistindo, ainda, numa oportunidade de previsão quanto à ocorrência dos fatos estudados. Contudo, a organização e a previsibilildade de uma teoria sofre com a vinda à tona de fatos antes não observados, e que desconstroem toda formulação postulada. Assim, temos que a história da ciência é a história de teorias funcionando bem por algum tempo, até a ocorrência de anomalias (ou seja, a descoberta de novos fatos que não se encaixam nas teorias estabelecidas), e novas teorias vão sendo propostas e acabando por substituir as antigas parcialmente ou completamente. Temos, então, que um fato novo pode provocar o início de uma nova teoria.
5.2 Leis, fatos e teoria
A elaboração de uma lei científica pode decorrer de um fato observado ou um fato inferido a partir da teoria ou de dados indiretos. A observação do fato conduz a uma exploração do fenômeno por vias experimentais, podendo levar ao estabelecimento de uma regularidade (constância de comportamento sob circunstâncias variadas) expressa na forma de uma lei. Esta pode surgir também a partir de uma semelhança observacional entre dois fatos que anteriormente pareciam desconectados (GOULD, 1983). Uma lei correlativa envolve uma proporcionalidade entre duas grandezas, a qual pode levar a um princípio empírico (formulado qualitativamente — exemplo da lei da ação-reação) ou uma lei empírica (formulada quantitativamente – por exemplo, o aumento da aceleração da velocidade de um corpo em queda livre). A lei é um enunciado que descreve uma regularidade na manifestação de determinadas classes de fenômenos (fatos). Essa regularidade expressa pela lei precisa ser verificada em seu poder de predição, generalização ou classificação. Ser capaz de testar uma lei experimentalmente significa ser capaz de prever certas conseqüências observáveis ou mensuráveis dos fatos e das teorias. Assim, se as leis geralmente expressam enunciados de uma classe isolada de fatos ou fenômenos, as teorias caracterizam-se pela possibilidade de estruturar as uniformidades e regularidades, explicadas e corroboradas pelas leis, em um sistema cada vez mais amplo e coerente. Temos, então, que a lei declara a existência de um padrão estável em eventos e
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coisas; a teoria assinala o mecanismo responsável por esse padrão, explica e dá e para o modo de funcionamento de determinadas leis.
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6 MÉTODOS CIENTÍFICOS
Na pesquisa científica, há de se atender a três pressupostos básicos: a) a epistemologia, âncora do fato ou fenômeno a ser investigado, a partir do corpo teórico existente, ou seja, é necessário pesquisar a realidade a partir de uma base teórica através da qual pretendemos conhecer mais e melhor a realidade; b) a metodologia - o caminho a ser percorrido para se atingir os objetivos previamente estabelecidos; e, c) os aspectos de normalização, de que trata a Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, bem como, os requisitos do nível culto da língua portuguesa, caracterizando-se o texto pela objetividade, clareza,
coesão,
consistência,
imparcialidade,
e,
ainda,
as
exigências
para
a
formatação/apresentação do relatório. Entretanto, a definição da metodologia a ser empregada em uma pesquisa não é uma tarefa simples, principalmente para o pesquisador iniciante. Geralmente, começa-se especificando a tipologia do estudo – exploratória, descritiva, explicativa, estudo de caso etc. Enquadrando-se o tipo de abordagem – análise quantitativa, qualitativa ou quantitativaqualitativa. Detalham-se os tipos de pesquisa por procedimentos: bibliográfica, documental, de campo, experimental; todavia, o tipo de método poucas vezes fica especificado no relatório da pesquisa. Ora, a metodologia utilizada na pesquisa deve ser plenamente discriminada, em todos os seus componentes. A definição do método a ser implementado é de suma importância, o que justifica a breve descrição dos métodos mais usados na produção do conhecimento. A palavra método é derivada do grego méthodos, que significa ‘caminho para se chegar a um fim'. Assim, entende-se por método, a ordem em que se devem dispor os diferentes processos necessários para se alcançar um resultado desejado. Em outras palavras, método é um procedimento (forma), ível de ser repetido para atingir-se algo, seja tangível (material) ou intangível (conceitual). “[...] não há ciência sem o emprego de métodos científicos.” (LAKATOS; MARCONI, 1991, p. 83). O método científico é a reunião organizada de procedimentos racionais utilizados para investigar (pesquisar) e explicar os fatos ou fenômenos da natureza, por meio da observação empírica e da formulação de leis científicas. Para Lakatos e Marconi (1991, p. 83), método “[...] é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo –
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conhecimentos válidos e verdadeiros –, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões dos cientistas.” O uso do método na busca da verdade, disciplina o trabalho do pesquisador, fornece uma direção, permitindo a seleção dos meios e processos mais adequados. Portanto, o método caracteriza-se como o caminho feito pelo pesquisador, no processo de apreensão do objeto. Os métodos científicos constituem-se nos instrumentos básicos e fundamentais que ordenam o pensamento do sujeito na relação com o objeto, de forma sistemática. Eles traçam, de maneira ordenada, o modo de proceder do cientista na busca da consecução de seu objetivo preestabelecido (resolução de um problema). Os métodos constituem-se, também, nos procedimentos instrumentais para a construção do conhecimento. De acordo com Martinez e Almeida (1999, p. 23): “Paradoxalmente, muitas vezes um espírito medíocre, guiado por um bom método, faz mais progressos nas ciências que um espírito brilhante que pesquisa ao acaso”. Convém, entretanto, assinalar que o método não substitui o talento, a intuição e a inteligência do cientista. Apresentam-se, a seguir, diversos tipos de métodos à disposição de pesquisadores e de iniciantes na produção do conhecimento, salientando-se que o método e a técnica seguem juntos na busca das ‘verdades’. É oportuno distinguir, aqui, método e processo. Por método entende-se o dispositivo ordenado, o procedimento sistemático, em plano geral. O processo (a técnica), por sua vez, é a aplicação do plano metodológico e a forma especial de o executar. Comparando, poder-se-á dizer que a relação existente entre método e processo é a mesma que existe entre estratégia e tática. O processo está subordinado ao método, sendo seu auxiliar imprescindível. (CERVO; BERVIAN, 1996, p. 22).
6.1 Tipos de métodos
Entre os tipos de métodos mais comumente usados em trabalhos acadêmicos, citam-se: indutivo, dedutivo, hipotético-dedutivo, dialético e histórico.
6.1.1 Indutivo
O método indutivo baseia-se na generalização de propriedades comuns a certo número de casos observados, ou seja, a todas as ocorrências de fatos similares que poderão se verificar no futuro. O grau de confirmação dos enunciados traduzidos depende das evidências ocorrentes. De acordo com Ferreira (1998, p. 93), “Galileu foi o precursor desse método –
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indução experimental - através do qual se chega a uma lei geral por intermédio da observação de certo número de casos particulares até as leis e teorias”. Portanto, o método indutivo é aquele com que, a partir de premissas menores pode-se chega às generalidades. No exemplo de Cruz e Ribeiro (2003, p. 34), tem-se: A indução é um método válido, porém não é infalível. Por exemplo, por muito tempo pensou-se que a ordem de peixes celacantos estava extinta, porque elas eram conhecidas apenas por fósseis de 200 milhões de anos. Entretanto, em 1938, na costa da África do Sul, um celacanto foi pescado, o que demonstrou que a indução feita pelos paleontólogos estava errada, Assim, para descartar uma indução, basta que um fato a contradiga.
É importante ressaltar que a indução, antes de tudo, é uma forma de raciocínio ou de argumentação; portanto, forma de reflexão e não de simples pensamento. Conforme Oliveira (1997, p. 60), “Apesar das grandes discussões levantadas no século XIX sobre o assunto, a indução é o método científico por excelência e, por isso mesmo, é o método fundamental das ciências naturais e sociais”. Isso ocorre porque na indução há uma ampliação do alcance do conhecimento, com a idéia de verdade provável — já que a observação da realidade é apenas parcial. No método indutivo, há um sacrifício da precisão do conhecimento, em benefício da ampliação dos conteúdos das premissas que o geraram (LAKATOS; MARCONI, 1991). A indução não é um raciocínio único: ela compreende um conjunto de procedimentos, uns empíricos, outros lógicos e outros intuitivos. Na indução, são realizadas três ações para a construção do conhecimento, descritas a seguir: a) observação dos fenômenos (verificação de como os fatos e os fenômenos acontecem); b) descoberta da relação entre eles (causa-efeito, condicionantes, categorias, etc.); e c) generalização da relação (com alcance para além das observações). Há que se atentar para o aspecto da força indutiva dos argumentos (LAKATOS; MARCONI, 1991, p. 90), que consiste no atendimento de critérios para aumentar a probabilidade de correção da indução. Esses critérios estão expressos da seguinte maneira: a) quanto maior a amostra, maior a força indutiva do argumento — os casos particulares devem ser na quantidade suficiente (necessária) para que se possa fazer a generalização, e b) quanto mais representativa a amostra (natureza, propriedade e freqüência de ocorrência do fenômeno ou fato), maior a força indutiva do argumento — amostra estratificada.
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Em uma simplificação do método indutivo, para efeito de exemplo, tem-se a seguinte estrutura de raciocínio:
Terra, Marte, Vênus e Júpiter são desprovidos de luz própria. Ora, Terra, Marte, Vênus e Júpiter são todos planetas. Logo, todos os planetas são desprovidos de luz própria.
6.1.2 Dedutivo
A dedução consiste em um recurso metodológico em que a racionalização ou combinação de idéias em sentido interpretativo vale mais do que a experimentação de caso por caso. O raciocínio segue um fluxo que parte da generalidade do fenômeno para a particularidade de seus elementos. Nesse processo de análise, o método dedutivo tem o propósito de explicitar o conteúdo das premissas, pois parte do geral para se chegar às particularidades. Segundo Cervo e Bervian (1996, p. 35), o processo dedutivo “[...] é de alcance limitado, pois a conclusão não pode assumir conteúdos que excedam o das premissas”. A restrição imposta pelos termos das premissas conduz a um elevado grau de certeza do conhecimento (CRUZ; RIBEIRO, 2003). Assim, toda a informação ou conteúdo fatual da conclusão não pode exceder o que já existia nas premissas. Para a metodologia, é importante entender que, no método dedutivo, a necessidade de explicação não reside nas premissas, mas na relação entre as premissas e a conclusão. Trata-se de validar a relação pretendida, por meio de uma demonstração racional e lógica. Nos campos da lógica formal (da filosofia) e da matemática, há uma grande aplicação do método dedutivo nas suas investigações. A título de exemplificação do método dedutivo, tem-se: Todo mamífero tem um coração. Ora, todos os cães são mamíferos. Logo, todos os cães têm um coração. Nesse argumento, para que a conclusão ‘todos os cães têm um coração’ fosse falsa, ao menos uma das premissas teriam de ser falsa: ou nem todos os cães são mamíferos ou nem todos os mamíferos têm um coração.
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Dentre as diferentes formas de argumentos dedutivos, podemos destacar aqueles elaborados sob construções condicionais:
Afirmação do antecedente
Negação do conseqüente
Se p, então q.
Se p, então não q.
Ora, p.
Ora p,
Então, q.
Então, não-q
Se uma sociedade for dividida em
Se uma sociedade tem mobilidade
grupos
social, então esta sociedade não se
hereditariamente
especializados, hierarquicamente sobrepostos
e
estrutura em castas.
mutuamente
opostos, que se opem às misturas de sangue e às mudanças de ofício, então a sociedade terá um sistema de castas. Ora, a Índia conta com todos os
Ora, a sociedade brasileira tem
elementos descritos na premissa.
mobilidade social.
Então, a Índia tem em sua
Então, a sociedade brasileira não é
estrutura social organizada sob o
uma estrutura social de castas.
sistema de castas.
Os dois tipos de métodos até aqui esboçados têm funções diversas – no dedutivo busca-se explicitar o conteúdo das premissas; no indutivo procura-se ampliar o alcance dos conhecimentos. Tanto a indução quanto à dedução devem ter como pontos de partida premissas auto-evidentes.
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6.1.3 Hipotético-dedutivo
A proposta de método hipotético-dedutivo coube a Popper (1975), que o define como um método que procura solução de um problema, por meio de tentativas (conjecturas, hipóteses, teorias) e eliminação de erros. Esse método pode ser chamado de “método de tentativas e eliminação de erros”. Este esquema denominado Hipotético-Dedutivo é itido, pela maioria, como logicamente válido e tem o grande mérito de simplificar muitos aspectos do método científico. Portanto, a base da metodologia científica assenta-se em reunir observações e hipóteses ou fatos e idéias. O processo é cíclico e evolui por meio do aperfeiçoamento das técnicas usadas para realizar observações e do reexame das hipóteses. O aperfeiçoamento das observações pode ser conseguido com experimentos previamente planejados que utilizem os meios técnicos mais modernos e eficientes. As hipóteses aperfeiçoam-se quando se tornam mais simples, quantitativas e gerais. No entanto, é preciso deixar claro que estes aperfeiçoamentos não levam à verdade absoluta, mas a conhecimentos progressivamente mais bem fundamentados das ciências factuais, mais especialmente, das ciências biológicas. Popper propõe 3 etapas para o método hipotético-dedutivo (apud LAKATOS; MARCONI, 1991): - Problema — que surge, em geral, de conflitos frente à realidade e às teorias; - Solução — formulação de uma ou mais hipóteses (conjecturas, base de uma nova teoria); dedução de conseqüências na forma de proposições testáveis; e - Testes de falseamento — tentativas de refutação ou corroboração das hipóteses, por observação ou experimentação. Portanto, o método hipotético-dedutivo consiste na construção de conjecturas (hipóteses) que devem ser submetidas a testes, os mais diversos possíveis — à crítica intersubjetiva, ao controle mútuo pela discussão crítica, à publicidade (sujeitando o assunto a novas críticas) e ao confronto com os fatos, para verificar quais são as hipóteses que persistem como válidas resistindo às tentativas de falseamento, sem o que seriam refutadas. É um método de tentativas e eliminação de erros, que não leva à certeza, pois o conhecimento absolutamente certo e demonstrável não é alcançado. É plenamente aceito pelos pesquisadores que não se pode postular o conhecimento como pronto e acabado, pois isso contraria a característica básica da ciência, que é a de contínuo aperfeiçoamento por meio de alterações na teoria e na área de métodos e técnicas de investigação. O método hipotético-dedutivo propõe inferir conseqüências preditivas das
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hipóteses, com o teste, a seguir, dessas inferências preditivas, com base em experimentos. É dado ênfase para a tentativa de falseamento das hipóteses, para a descoberta de erros, com vistas à progressiva tentativa de aproximação da verdade.
6.1.4 Dialético
A palavra grega dialektos (dialética), que significa debate, forma de discutir e debater, aparece originariamente vinculada às práticas filosóficas dos antigos gregos. A sofisticação desse termo levou à compreensão da dialética como um caminho que busca a verdade por meio da luta (debate) entre tendências recíprocas e contraditórias presentes na própria realidade a ser conhecida. Soma-se, ainda, a constatação de que todas as coisas, da natureza e da sociedade, mudam permanentemente. A agem de uma fase para outra atesta o caráter temporal, portanto histórico, do conhecimento sobre o real. (CRUZ; RIBEIRO, 2000, p. 35). A ilustração utilizada por Hegel para demonstrar o argumento do método é feita por meio da análise da dialética senhor-escravo. Em um sistema escravagista, a posição social de cada uma das figuras (senhor e escravo) só existe em contraponto ao outro. Assim, podemos dizer que também o senhor está encarcerado à figura do escravo – relação recíproca e contraditória. Ao se mudar a qualidade de um dos elementos (sai o escravo e entra o empregado assalariado), algo nasce e se desenvolve e algo desagrega-se e transforma-se. A sistematização da idéia de mudança dialética é formalizada por Hegel sob os termos tese, antítese e síntese. A tese é uma proposição positiva da realidade, ponto de partida para o conhecimento. A antítese é o momento gerador da contradição presente na tese, ou seja, essa proposição se nega ou se transforma em sua contrária – a proposição é o momento da negação da tese. A síntese é a negação da antítese (a negação da negação), consistindo na nova tese. Para Demo (1995) a alma da dialética é o conceito de antítese. Isso porque toda realidade gera, por dinâmica interna própria, seu contrário, ou as condições objetivas e subjetivas para superação. A antítese alimenta-se da estrutura do conflito social, tornando-se também marca estrutural da história, que comunica por antíteses. Assim, ao retomar o sistema escravista e as relações sociais existentes entre seus agentes (senhor e escravo) já estão presentes os elementos contraditórios necessários que levarão às mudanças na estrutura social e nos papéis dos agentes.
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Podem ser destacados três princípios que organizam a lógica de pensamento dialético, apresentados a seguir. a) O princípio da unidade e luta dos contrários, que constitui a fonte do desenvolvimento da realidade. Há a percepção de ação recíproca entre os agentes e de relacionamentos entre todos os elementos – compondo uma unidade. b) O princípio da transformação das mudanças quantitativas em qualitativas. c) O princípio da negação da negação. O desenvolvimento processa-se em espiral, com a repetição em estágios superiores de certos aspectos e traços dos estágios inferiores. Lakatos e Marconi (1991, 101, grifo nosso) explicam a intricada relação desses três princípios, afirmando que “[...] na dialética, as coisas não são analisadas na qualidade de objetos fixos, mas em movimento: nenhuma coisa está acabada, encontrando-se sempre em vias de se transformar, de se desenvolver; o fim de um processo é sempre o começo de outro.” Para as autoras “não há movimento que não seja conseqüência de uma luta de contrários, de uma contradição interna.” Assim, por exemplo, se considerarmos uma criança, o ar dos anos produz um resultado de amadurecimento expresso numa nova condição (adolescente) qualitativamente diferente. O adolescente é a negação da criança. “Isto acontece com toda a realidade: se ela muda é por ser, em essência, algo diferente dela. As contradições internas é que geram o movimento e o desenvolvimento das coisas.”(LAKATOS; MARCONI, 1991, 105).
6.1.5 Histórico
O método histórico parte do princípio de que as atuais formas de vida social, as instituições e os costumes têm origem no ado (LAKATOS; MARCONI, 1991). A pesquisa das raízes geradoras desses fenômenos sociais permitiria a compreensão da sua natureza e função na atualidade. Três os são considerados essenciais na produção de um trabalho histórico: 1) levantamento de dados com tempo e espaço determinados; 2) a avaliação crítica destes dados e, finalmente, 3) apresentação dos fatos, interpretação e conclusões. A validade do conhecimento produzido pela investigação histórica tem relação direta com as fontes de informações sobre os fatos ocorridos em tempo e espaço determinados. Assim, informações transmitidas por aqueles que viveram os eventos em estudo, ou fontes de informação de documentos, escritos, filmes, fotos, gravações, obras de arte, mapas, etc., são a matéria-prima para a investigação histórica.
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Contudo, ainda que disponha de vasto acervo de dados, a investigação histórica abandona a idéia de reconstrução fidelíssima do ado, tal qual aconteceu. O conhecimento histórico é uma interpretação socialmente produzida pelo pesquisador, com o auxílio de referências teóricas e de concepção do mundo, que permitem o estabelecimento de vínculos de continuidade e entrelaçamento entre o ado e o tempo presente.
6.2 Conclusão
No desvelar da “verdade”, os diversos métodos científicos à disposição dos pesquisadores, são válidos. O importante é verificar aquele que mais seja adequado à busca da elucidação do fenômeno ou fato sob investigação. O enquadramento do método em uma pesquisa é um o necessário, pois ele pode ser considerado como a “bússola” que guia o pesquisador, tanto no que diz respeito à tarefa interpretativa do fenômeno, quanto na aplicação dos instrumentos adequados para a investigação. Salienta-se,
ainda,
que
em
uma
produção
científica
pode
ocorrer,
concomitantemente, o emprego de mais de um método, em especial no campo do conhecimento das Ciências Sociais Aplicadas, numa função complementar de elucidação, sejam fatos ou fenômenos.
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7 A PESQUISA Até o presente momento, foram apresentados os diferentes aspectos que caracterizam o método e o conhecimento científicos. Neste capítulo, será estudada a pesquisa propriamente dita, seu conceito e seus tipos, que podem ser classificados quanto a nível de profundidade (exploratória, descritiva e explicativa), quanto à abordagem (quantitativa e qualitativa) e quanto ao procedimento utilizado na coleta de dados (bibliográfica, documental, experimental, estudo de caso controle, levantamento, estudo de caso, estudo de campo, histórica e pesquisa-ação e pesquisa participante). Antes, porém, de iniciar o estudo da pesquisa, e até mesmo para que se entenda o conceito e os tipos de pesquisa, é necessário, primeiramente, se conhecer e classificar variáveis.
7.1 As variáveis
O termo variável vem da matemática e significa um fator, um aspecto ou uma propriedade que pode ser mensurada. (LEONEL; MOTTA, 2007) Na Física, os fatores de temperatura, massa, velocidade, dilatação e força são exemplos de variáveis, pois, sob determinadas circunstâncias, assumem certos valores que podem ser mensurados. Nas Ciências Sociais, classe social, raça, renda e escolaridade são exemplos de variáveis, as quais também podem ser mensuradas. Variável, portanto, pode ser entendida como “[...] medida; uma quantidade que varia; um conceito operacional, que contém ou apresenta valores; aspecto, [...] ou fator, discernível em um objeto de estudo e ível de mensuração” (MARCONI; LAKATOS, 1991, p.137). O resumo da pesquisa intitulada “Estudo do peso do recém-nascido, faixa etária da mãe e tipo de parto”, apresentado por Santos (2001 apud LEONEL; MOTTA, 2007, p. 93), permite uma melhor verificação do que vem a ser variáveis: Este artigo tem por objetivo estudar o peso do recém-nascido, a faixa etária da mãe e o tipo de parto ocorrido em Maternidades de Rio Branco – Acre – Brasil, no período de 1994 a 1996. Como resultado 73,8 por cento nasceram de parto normal e 25,5 por cento por cesariana. Por outro lado 5,4 por cento dos partos foram por adolescentes na faixa etária de 10-14 anos. Com relação ao peso, 84,6 por cento estavam dentro do normal, 7,4 por cento abaixo e 6,6 por cento acima. Vale ressaltar o registro de peso, idade e sexo como sendo ignorados, o que demonstram
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falhas nos registros. Concluindo destacamos a importância da assistência no período pré-natal, proporcionando atenção ao binômio mãe-filho, além de maior empenho por parte da Direção das Maternidades e das Chefias de Enfermagem na produção e análise dos dados. (sic)
Percebe-se que as variáveis do estudo apresentado pelo resumo acima são: o peso do recém-nascido, faixa etária da mãe e tipo de parto. Estes fatores, durante a pesquisa, assumiram valores e variabilidades diferentes. Mas, como podem ser classificadas as variáveis? Segundo Tuckmam (1972 apud KÖCHE, 2000, p.113), as variáveis podem ser classificadas em: independente, dependente, de controle e moderadora. A variável independente é aquela que é fator, propriedade ou aspecto que produz efeito ou conseqüência e a dependente, ao contrário, é aquela que é conseqüência ou efeito de algo que foi estimulado. A variável de controle é um aspecto que o pesquisador neutraliza propositalmente, a fim de que não haja interferência na relação estabelecida entre as variáveis independente e dependente. A variável moderadora é um fator, aspecto ou propriedade que é causa, condição ou estímulo para que ocorra determinado efeito ou conseqüência, porém se situa em um plano secundário. Existe ainda a variável interveniente, que é aquele fator que se interpõe entre as variáveis dependente e independente, alterando, de alguma forma, a influência esperada entre elas. Também deve ser controlada, para que não haja prejuízo à relação de causa e efeito que se deseja corroborar através da hipótese. Exemplo: Em uma experiência, procurou-se verificar qual seria o desempenho cognitivo de militares expostos a 48 horas de privação de sono, em operações continuadas. Sessenta militares de ambos os sexos foram observados, sendo 40 homens e 20 mulheres. A média de idade dos pesquisados estava na faixa dos 26 anos, e os instrutores responsáveis pela aplicação das tarefas foram os mesmos. As tarefas também foram iguais para todos. Após as 48 horas de experiência, concluiuse que o desempenho cognitivo dos militares diminuiu bastante.
No exemplo acima, pode-se observar a presença das seguintes variáveis: - variável independente: privação do sono – fator que provoca um efeito;
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- variável dependente: desempenho cognitivo – fator que sofre a ação da privação do sono; - variáveis de controle: idade dos militares, instrutores e tarefas realizadas – mesmas condições para o desempenho das operações, a fim de que não haja interferência na relação variável independente/variável dependente; e - variável moderadora: sexo dos militares – este fator poderia causar algum tipo de efeito na variável dependente, mas não é o foco principal do estudo, que é verificar o efeito da privação do sono no desempenho cognitivo, e não quem é mais ou menos resistente ao sono. Poderiam, também, a alimentação fornecida e a formação dos militares (armas, quadro ou serviços) interferir na relação entre variáveis independente e dependente. Apesar de não haver menção a essas variáveis durante o estudo, subentende-se que deveriam ser controladas de alguma maneira, para que não ocorram interferências na relação de causa/efeito esperada. Neste caso, a alimentação e a formação dos militares seriam variáveis intervenientes. Uma vez entendidos os conceitos a respeito de variáveis, será estudada a seguir a pesquisa propriamente dita.
7.2 A pesquisa
A necessidade de pesquisar nasce do desejo de se encontrar resposta para alguma questão levantada, o que proporcionará a quem pesquisa a obtenção de um conhecimento novo, pois o problema levantado está relacionado a conhecimentos anteriores, construídos por outros pesquisadores. Pesquisa é, pois, um processo de investigação que se interessa em descobrir as relações existentes entre aspectos que envolvem fatos, fenômenos, situações ou coisas. (LEONEL; MOTTA, 2007) Para Ander-Egg (apud MARCONI, LAKATOS, 1991, p.155), a pesquisa é um “procedimento reflexivo sistemático, controlado e crítico, que permite descobrir novos fatos ou dados, relações ou leis, em qualquer campo de conhecimento”. Desta forma, para que uma pesquisa seja considerada científica, é preciso que seja desenvolvida de maneira sistemática e seguindo um planejamento prévio, através do qual serão determinados os os a serem seguidos pelo pesquisador em seus estudos.
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7.2.1 Planejamento da pesquisa
Segundo Merconi e Lakatos (1991), para que uma pesquisa desenvolva-se de maneira satisfatória é necessário um planejamento eficaz.
7.2.1.1 Preparação da pesquisa
a. Decisão de pesquisar, por interesse próprio, de alguém ou de alguma entidade; b. Especificação dos objetivos, a fim de saber o que será procurado e o que se pretende alcançar; c. Elaboração de um esquema flexível a ser seguido, imprimindo uma ordem lógica aos trabalhos a serem realizados; d. Constituição de uma equipe de trabalho, se for o caso; e e. Levantamento de recursos e elaboração de um cronograma.
7.2.1.2 Fases da pesquisa
a. Escolha do tema, determinando um assunto exeqüível de ser estudado e pesquisado; b. Levantamento de dados que servirão de e à investigação que será realizada, escolhendo, neste momento, o tipo de pesquisa apropriado a ser utilizado; c. Formulação do problema, espicificando-o de forma precisa e exata, com clareza, concisão e objetividade; d. Definição dos termos a serem utilizados, tornando-os claros, compreensivos, objetivos e adequados; e. Construção das hipóteses, a fim de orientar a busca de informações durante a pesquisa; f. Indicação de variáveis, definido-as com clareza, objetividade e de forma operacional; g. Delimitação da pesquisa, estabelecendo limites para a investigação; h. Determinação da amostragem, selecionando uma parcela do universo a ser investigado; i. Seleção dos métodos e técnicas a serem utilizados na pesquisa científica; j. Organização do material de pesquisa; e
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k. Teste de instrumentos e procedimentos.
7.2.1.3 Execução da pesquisa
a. Coleta dos dados, com a aplicação dos instrumentos elaborados e das técnicas selecionadas; b. Elaboração dos dados coletados, através de seleção , codificação e tabulação; c. Análise e interpretação dos dados; d. Representação dos dados, através de tabelas, quadros e gráficos; e e. Apresentação das conclusões, explicitando os resultados finais, considerados relevantes e que devem estar vinculados à hipótese, através de um relatório.
7.3 Os tipos de pesquisa
É possível classificar os tipos de pesquisa através do estabelecimento de critérios que são: - nível de profundidade do estudo ou objetivo; - procedimentos utilizados para a coleta de dados; - abordagem.
7.3.1 Tipos de pesquisa quanto ao nível de profundidade ou objetivo
De acordo com este critério, os tipos de pesquisa podem ser classificados em: - pesquisa exploratória; - pesquisa descritiva; e - pesquisa explicativa.
7.3.1.1 Pesquisa exploratória
O principal objetivo da pesquisa exploratória é proporcionar maior familiaridade com o objeto de estudo. (LEONEL; MOTTA, 2007, p. 100) Segundo Köche (2000, p. 126), “o objetivo fundamental de uma pesquisa exploratória é o de descrever ou caracterizar a natureza das variáveis que se quer conhecer”.
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Em algumas situações, o pesquisador não dispõe de conhecimentos suficientes para formular, de forma adequada, um problema ou elaborar uma hipótese. Quando isso acontece, é preciso “desencadear um processo de investigação que identifique a natureza do fenômeno e aponte as características essenciais das variáveis que se quer estudar” (KÖCHE, 2000, p. 126). Na pesquisa exploratória, não interessa ao pesquisador as relações entre as variáveis, mas apenas constatar a freqüência dessas variáveis e suas caracterizações quantitativas e qualitativas. O planejamento da pesquisa exploratória pode assumir caráter de pesquisa bibliográfica, pesquisa documental, estudos de caso, etc.
7.3.1.2 Pesquisa descritiva
Este tipo de pesquisa analisa, observa, registra e estabelece uma correlação entre variáveis que envolvem fatos ou fenômenos, sem que haja manipulação dessas variáveis. Neste caso, o pesquisador não interfere na investigação dos fenômenos humanos ou naturais e apenas “Procura descobrir, com a [máxima] precisão possível, a freqüência com que um fenômeno ocorre, sua relação e conexão com outros, sua natureza e características”. (CERVO; BERVIAN, 1996, p. 49). Segundo Leonel e Motta (2007), algumas características da pesquisa descritiva são: - espontaneidade – não há interferência do pesquisador na realidade, apenas observa as variáveis que, de forma espontânea, estão vinculadas aos fatos; - naturalidade – os fatos são estudados no seu habitat natural; e - amplo grau de generalização – as conclusões levam em conta o conjunto de variáveis que podem estar correlacionadas com o objeto da investigação.
A pesquisa descritiva pode aparecer sob diversos tipos: documental estudo de campo, etc, desde que se estude a correlação de, no mínimo, duas variáveis.
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7.3.1.3 Pesquisa explicativa
Tem este tipo de pesquisa, como preocupação fundamental, identificar fatores que contribuem ou agem como causa para a ocorrência de determinados fenômenos. É o tipo de pesquisa que explica as razões ou os porquês das coisas. (LEONEL; MOTTA, 2007, p. 104) Os pesquisadores se preocupam com as causas dos fatos, as suas relações internas e com outros fatos. A pesquisa explicativa pode aparecer sob a forma de pesquisa experimental e estudo de caso controle.
A decisão de se utilizar um tipo ou outro de pesquisa depende de diversos fatores: natureza do problema e de suas variáveis; fontes de informação; recursos humanos, instrumentais e financeiros disponíveis; capacidade do pesquisador; conseqüências éticas e outros. Não há maior valor para determinado tipo. Os méritos são os mesmos para todos os tipos, desde que haja mostra de cientificidade e desde que o tipo de pesquisa seja o mais adequado à natureza do problema analisado. Muitas vezes, também, se encontram esquemas mistos que utilizam tanto a constatação quanto a manipulação de variáveis. (KÖCHE, 2000)
7.3.2 Tipo de pesquisa quanto à abordagem
Quanto à abordagem as pesquisas podem ser: - quantitativas; e - qualitativas.
7.3.2.1 Pesquisa quantitativa
A pesquisa quantitativa caracteriza-se pelo emprego da quantificação, tanto na coleta das informações, quanto no tratamento das variáveis, por meio de técnicas estatísticas, como: percentual, média, moda, mediana, desvio-padrão, análises multivariadas, etc. A pesquisa quantitativa procura garantir a precisão dos resultados, evitar distorções na análise de variáveis, bem como nas suas interpretações, possibilitando segurança, rigor e objetividade nas conclusões da pesquisa.
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Utiliza-se, com freqüência, a pesquisa científica nos estudos descritivos, nos quais se procura descobrir e classificar relações entre variáveis ou investigar relações de causa e efeito nos fenômenos observados. São alguns exemplos de pesquisa quantitativa em estudos descritivos: - descrição da população economicamente ativa e do efetivo de mão-de-obra de uma sociedade; - levantamento da opinião e atitudes da população acerca de uma situação determinada; - caracterização do funcionamento de uma organização, ou de um departamento; - identificação do comportamento de grupos sociais. Nesse tipo de pesquisa, são amplamente utilizados como instrumentos de coleta dos dados os questionários, os testes padronizados, as entrevistas e as observações, com a finalidade de facilitar a análise e a interpretação dos dados. A escolha do instrumento de coleta adequado é muito importante, pois as respostas obtidas por meio do instrumento selecionado devem ser íveis de quantificação, possibilitando o tratamento estatístico. Sempre que possível, deve-se utilizar o recurso da representação gráfica – principalmente tabelas, quadros e gráficos – na apresentação das conclusões a cerca dos dados coletados.
7.3.2.2 Pesquisa qualitativa
A abordagem qualitativa difere, em princípio, da quantitativa por não utilizar técnicas estatísticas no processo de análise de um problema. Geralmente, as investigações que utilizam a análise qualitativa têm como objeto situações complexas ou estritamente particulares. A pesquisa qualitativa permite descrever a complexidade de um problema, analisar a interação entre variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais, contribuir para o processo de mudança de um grupo social e possibilitar, com uma maior profundidade, o entendimento das particularidades do comportamento do indivíduo. (SOUZA NETO, 2006, p. 54) Esse tipo de pesquisa trabalha, então, com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes de grupos ou indivíduos e tem como principal objetivo conhecer as percepções dos sujeitos pesquisados a cerca de uma situação-problema. O pesquisador deve dar uma maior atenção às pessoas e às suas idéias, procurando entender e interpretar dados e discursos, ficando claro que a pesquisa depende da relação entre observador e observado.
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Nesse tipo de abordagem, deve-se levar em conta o aspecto da subjetividade, que está centralizado no olhar do pesquisador, que deve ter um certo distanciamento crítico do fato analisado, até mesmo como forma de dar confiabilidade aos resultados apresentados. Antes de se finalizar esta seção, é interessante observar o quadro abaixo, que apresenta as principais características das pesquisas quantitativa e qualitativa. Pesquisa Quantitativa Análise de números Análise dedutiva Análise objetiva O pesquisador distancia-se do processo Testa hipótese e mensura variáveis
Pesquisa Qualitativa Análise de palavras Análise indutiva Análise subjetiva O pesquisador envolve-se com o processo Gera idéias e categorias para a pesquisa
Quadro 1 – Características das pesquisas quantitativa e qualitativa Fonte: LEONEL;MOTTA, 2007, p. 110.
Apesar de possuírem características distintas as pesquisas quantitativas e qualitativas não são mutuamente excludentes. Alguns trabalhos podem ter as duas abordagens simultâneas, ou seja, podem ocorrer pesquisas qualiquantitativas ou quantiqualitativas.
7.3.3 Tipos de pesquisa quanto aos procedimentos utilizados para a coleta de dados
Dependendo o tipo de procedimento utilizado para a coleta dos dados, a pesquisa pode ser classificada em: bibliográfica, documental, experimental, estudo de caso controle, levantamento, estudo de caso, estudo de campo, histórica e pesquisa-ação e pesquisa participante. A seguir será visto cada tipo de pesquisa.
7.3.3.1 Pesquisa bibliográfica
A pesquisa bibliográfica é importante porque é pré-requisito para qualquer outra pesquisa de cunho científico e desenvolve-se tentando explicar um problema e utilizando o conhecimento disponível a partir de teorias publicadas em livros, artigos, manuais, enciclopédias, anais, meios eletrônicos, etc.
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Segundo Köche (2000, p. 122), a pesquisa bibliográfica pode ser utilizada com diferentes fins: a) para ampliar o grau de conhecimento em uma determinada área, capacitando o investigador a compreender ou delimitar melhor um problema de pesquisa; b) para dominar o conhecimento disponível e utilizá-lo como base ou fundamentação na construção de um modelo teórico explicativo de um problema, isto é, como instrumento auxiliar para a construção e fundamentação de hipóteses; c) para descrever ou sistematizar o estado da arte, daquele momento, pertinente a um determinado tema ou problema.
A pesquisa bibliográfica pode se desenvolver em diferentes etapas. Embora não haja um modelo rigoroso de roteiro para este tipo de pesquisa, apresenta-se, como sugestão, o do quadro abaixo. As etapas descritas no quadro assemelham-se a algumas etapas da elaboração de um projeto de pesquisa, que será abordado mais adiante.
Etapa Escolha do tema
Delimitação do tema
Problematização
Elaboração do plano de desenvolvimento
Identificação das fontes
Leitura do material obtido Tomada de apontamentos Redação Quadro 2 – Etapas da pesquisa bibliográfica Fonte: o autor.
Descrição da etapa Levar em consideração: o interesse pelo assunto, a existência de bibliografia especializada, a familiaridade com o assunto, a disponibilidade de tempo e, se for o caso, os recursos financeiros disponíveis. Tornar o tema viável para a pesquisa, indicando a abrangência do estudo e estabelecendo a sua extensão no tempo e no espaço, bem como a população a ser pesquisada. Redigir de maneira clara e objetiva a questão a ser solucionada através da pesquisa. Pode ser feita de maneira interrogativa ou afirmativa, sendo mais usual a primeira. Apresentar, na forma de um sumário provisório, a estrutura lógica das partes que compõem o assunto da pesquisa. Localizar as fontes que poderão fornecer respostas ao problema da pesquisa. Conhecer pontos de vista, teses e teorias que fundamentem o trabalho a ser realizado, dando uma direção à pesquisa. Identificar as informações e os dados constantes do material lido, estabelecendo relações entre as informações e os dados obtidos com o problema proposto. Registrar as informações provenientes da leitura utilizando o fichamento. Redigir o trabalho seguindo as normas preconizadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
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7.3.3.2 Pesquisa documental
A pesquisa documental assemelha-se à pesquisa bibliográfica, pois ambas adotam o mesmo procedimento na coleta dos dados. Diferem, essencialmente, no tipo de fonte da qual os dados da pesquisa são coletados. A pesquisa documental utiliza fontes primárias e a pesquisa bibliográfica utiliza fontes secundárias. Fontes primárias – documentos escritos ou não. São exemplos de fontes primárias: documentos oficiais, publicações parlamentares, documentos jurídicos, arquivos particulares, autobiografias e iconografias. Fontes secundárias – bibliografia já tornada pública em relação ao tema estudado. São exemplos de fontes secundárias: livros, revistas, jornais, monografias, teses, dissertações, relatórios de pesquisa, filmes, gravações de áudio e material cartográfico.
A pesquisa documental apresenta vantagens como: a fonte rica e estável de dados, em que consistem os documentos; o baixo custo de pesquisa e a não exigência de contato com os sujeitos da pesquisa. Porém, nesse tipo de pesquisa, cresce de importância a análise crítica do pesquisador, uma vez que nem sempre é possível se comprovar a autenticidade e o valor histórico dos documentos encontrados, bem como a veracidade das informações neles contidas.
7.3.3.3 Pesquisa experimental
A pesquisa experimental manipula a realidade através de experimentos. Esse tipo de pesquisa tem a finalidade de verificar as relações de causa e efeito que se estabelecem entre variáveis, ou seja, se uma variável independente (X) pode determinar uma variável independente (Y). Para que isto ocorra, é necessário um rigoroso controle da situação através da neutralização de todos os fatores alheios que possam influenciar a variável Y. O desenvolvimento da pesquisa experimental requer muita atenção por parte do pesquisador, uma vez que ele deverá manipular e controlar uma ou mais variáveis independentes ao mesmo tempo em que deverá observar as mudanças ocorridas com a variável ou as variáveis dependentes. Segundo Leonel e Motta (2007, p. 124), para que a pesquisa experimental possa ser desenvolvida, é necessário que se tenha, no mínimo, três elementos: - manipulação de uma ou mais variáveis;
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- controle de variáveis estranhas ao fenômeno observado; - composição aleatória dos grupos experimental e controle. Grupo experimental – é o grupo que recebe o tratamento em teste. Grupo controle – é o grupo que não recebe o tratamento. A fim de se verificar o efeito do tratamento, os resultados dos dois grupos são comparados.
A manipulação de uma variável ocorrerá quando o pesquisador, segundo o seu interesse ou o interesse da pesquisa, aumenta ou diminui a intensidade de uma variável, a fim de verificar qual o efeito que será produzido em outra(s). As variáveis estranhas serão controladas através da homogeneidade dos grupos que participarão do experimento (grupos experimental e controle), o que é importante para que o pesquisador tenha a certeza de que as mudanças ocorridas foram ocasionadas exclusivamente pela manipulação das variáveis independentes. Desta forma, o pesquisador não pode, conforme um critério pessoal, escolher os participantes dos grupos experimental ou controle. Por fim, é preciso que se diga que a pesquisa experimental pode ser desenvolvida em laboratório ou no campo, sendo que a coleta dos dados ocorre por meio da observação dos efeitos produzidos pelo experimento. 7.3.3.4 Estudo de caso controle O estudo de caso controle serve para investigar fatos após a sua ocorrência, sem que haja a manipulação de variável independente, ou seja, nesse tipo de pesquisa, o pesquisador não pode, por iniciativa própria, manipular a variável independente. Pode, porém, localizar grupos que apresentem semelhanças entre os indivíduos que os constituem e observar as conseqüências naturais que ocorrem em um dos grupos após o acréscimo de uma variável, comparando o resultado verificado com o grupo que se manteve em condições naturais. O exemplo a seguir serve bem para ilustrar o estudo de caso controle: Imagine que duas cidades tenham sido colonizadas no mesmo período histórico e que tenham as mesmas características demográficas em termos de número de habitantes e origem etnográfica, a mesma tradição religiosa, que tenham o mesmo desenvolvimento econômico (formação agrícola), enfim, as duas são semelhantes em muitos aspectos. Porém, em uma delas instala-se uma grande indústria. Neste caso, o pesquisador poderia se interessar em estudar as mudanças ocorridas decorrentes do processo de industrialização e comparar com a cidade que não recebeu a instalação da indústria. (LEONEL; MOTTA, 2007, p. 128)
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7.3.3.5 Levantamento
Através do levantamento, procura-se analisar, quantitativamente, as características de uma população. Segundo Gil (1996, p. 56), as pesquisas do tipo levantamento: [...] caracterizam-se pela interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer. Basicamente, procede-se à solicitação de informações a um grupo significativo de pessoas acerca do problema estudado para, em seguida, mediante análise quantitativa, obterem-se as conclusões correspondentes aos dados pesquisados.
Os levantamentos podem ser realizados com o todo de uma população, ou apenas com uma amostra ou um subconjunto desta população. Ao optar pela pesquisa utilizando-se de uma amostra, é necessário que o pesquisador defina claramente a população a ser pesquisada. O tamanho da amostra deve ser criteriosamente determinado, a fim de que os resultados obtidos possam ser generalizados para todo o conjunto da população. O uso da amostragem é vantajoso por permitir economia, rapidez e quantificação dos dados obtidos. Porém, há a possibilidade da obtenção de respostas não fidedignas e de pouca profundidade para o estudo da população pesquisada. Os principais instrumentos de coleta dos dados utilizados nos levantamentos são o questionário, a entrevista e o formulário.
7.3.3.6 Estudo de caso
O estudo de caso é um estudo profundo e extenso de uma ou de poucas unidades (uma pessoa, uma família, uma comunidade, uma organização, uma empresa, etc), que podem ser verificadas empiricamente, de tal modo que seja permitido o seu conhecimento amplo e detalhado. A coleta dos dados nos estudos de caso geralmente é realizada por meio dos instrumentos utilizados nas pesquisas qualitativas, sendo o questionário o principal deles.
7.3.3.7 Estudo de campo
O estudo de campo é uma modalidade de pesquisa na qual os dados são coletados “em campo”, onde os fenômenos ocorrem de forma espontânea. O pesquisador envolve-se
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diretamente com a realidade através da observação direta dos fatos e fenômenos, registrando as variáveis relevantes para a pesquisa. O estudo de campo não deve ser confundido com o as pesquisas de levantamento realizadas em locais abertos, pois as pesquisas de campo exigem, necessariamente, o envolvimento qualitativo do pesquisador no contexto da realidade pesquisada. (LEONEL; LATTOS, 2007) Por ser um tipo de pesquisa que procura o aprofundamento de uma realidade específica, não deve ser confundida com uma simples coleta de dados. Ela exige controles adequados e objetivos que discriminem o que deve ser coletado. Os principais instrumentos de coletas de dados utilizados no estudo de campo são a entrevista, a observação direta e a aplicação de questionários, testes, entre outros.
7.3.3.8 Pesquisa histórica
A pesquisa histórica é aquela voltada à investigação de acontecimentos, processos e instituições do ado, a fim de se verificar a sua influência na sociedade de hoje. Para que os resultados sejam validados, é necessário que os estudos desenvolvidos durante a pesquisa remontem aos períodos de sua formação e de suas modificações. Através desse tipo de pesquisa, preenchem-se os vazios e os acontecimentos históricos.
7.3.3.9 Pesquisa-ação e pesquisa participante
A pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social que é concebida e realizada em associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo. Nesse tipo de pesquisa, os pesquisadores e os sujeitos da pesquisa trabalham de modo cooperativo ou participativo. A pesquisa participante está voltada para a ação político-social de emancipação das comunidades carentes ou de poucos recursos. Nesta modalidade de pesquisa, o pesquisador tem que, obrigatoriamente, propor meios para alterar a realidade observada, não bastando apenas constatar o problema de pesquisa. Observa-se, então, que esses tipos de pesquisa estão mais voltados para as Ciências Sociais, além de serem qualitativas. O importante é que a essência das duas é a mesma: a interação que se estabelece entre o pesquisador e os sujeitos envolvidos na realidade
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onde a pesquisa é desenvolvida, além de o pesquisador ter que, necessariamente, apresentar uma solução para a alteração da realidade observada.
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8 OS INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS
Uma vez definido qual o melhor tipo de pesquisa para o desenvolvimento de um trabalho científico, inicia-se a coleta de dados por meio da aplicação de instrumentos de coleta adequados ao modelo de pesquisa escolhido. Os instrumentos de coleta mais freqüentemente empregados são: a entrevista, o questionário, o formulário, a observação sistemática e o fichamento.
8.1 A entrevista
Segundo Leonel e Motta (2007, p.78) “a entrevista consiste em uma forma de interação verbal não convencional, ou seja, é um diálogo estruturado em que o entrevistador deve registrar as informações para posterior análise”. A entrevista não é simplesmente um bate-papo. É uma conversa orientada e possui um objetivo específico: recolher, através de um interrogatório, dados para a pesquisa que está se desenvolvendo. Os pesquisadores recorrem à entrevista sempre que há a necessidade de obtenção de dados que não são encontrados em registros e fontes documentais e que podem ser fornecidos por certas pessoas, ou quando se deseja completar dados extraídos de outras fontes. Cervo e Bervian (1996, p. 136) estabelecem alguns critérios para o preparo e para a realização da entrevista: 1) O entrevistador deve planejar a entrevista, delineando cuidadosamente o objetivo a ser alcançado. 2) Obter, sempre que possível, algum conhecimento prévio acerca do entrevistado. 3) Marcar com antecedência o local e o horário para entrevista. Qualquer transtorno poderá comprometer os resultados da pesquisa. 4) Criar condições, isto é, uma situação discreta para a entrevista, pois será mais fácil obter informações espontâneas e confidenciais de uma pessoa isolada do que de uma pessoa acompanhada ou em grupo. 5) Escolher o entrevistado de acordo com a sua familiaridade ou autoridade em relação ao assunto escolhido. 6) Fazer uma lista das questões, destacando as mais importantes. 7) Assegurar um número suficiente de entrevistados, o que dependerá da viabilidade da informação a ser obtida.
As entrevistas podem ser de dois tipos: - estruturadas - quando apresentam um roteiro previamente estabelecido, que deve ser aplicado a todos os informantes do mesmo modo; e
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- não-estruturadas – não exigem um roteiro rígido, tratando-se de uma conversa informal, o que permite explorar de forma mais ampla alguns aspectos das informações prestadas pelo entrevistado, através da interação deste com o pesquisador. Para se obter um resultado eficaz, as perguntas: - devem ser claras, diretas e concisas; - estar situadas contextualmente; - devem referir-se, cada uma, a apenas um único objeto ou fato; e - devem ser elaboradas de acordo com os objetivos específicos do projeto de pesquisa. Alguns cuidados devem ser tomados durante a entrevista, a fim de que ela alcance o objetivo estabelecido: - o entrevistador deve obter e manter a confiança do entrevistado, evitando ser inoportuno; - o entrevistado deve ser informado do por que da sua escolha, apresentando sempre um motivo plausível; - o entrevistador deve ouvir mais do que falar, não interrompendo o entrevistado em seus raciocínios e incentivando-o a falar abertamente, já que o que interessa é o que o entrevistado tem a dizer; - o entrevistador deve ter o controle da entrevista, não permitindo que o entrevistado distancie-se do objetivo da entrevista; - é conveniente iniciar a entrevista formulando as perguntas que tenham as menores probabilidades de provocar recusas ou produzir alguma forma de negativismo, apresentando-as em uma seqüência lógica, que não confunda o entrevistado; - o entrevistador precisa manter a atenção durante a entrevista e conferir as respostas, atentando para as contradições que possam surgir; e - o entrevistador deve anotar todos os dados fornecidos pelo entrevistado, registrando-os, sumariamente, durante toda a entrevista, não confiando em demasia na memória. O ideal é gravar de alguma forma a entrevista, seja somente a voz, seja filmando-o. Sempre com a autorização do entrevistado. A entrevista apresenta a vantagem de possibilitar o registro de observações acerca da aparência, do comportamento e das atitudes do entrevistado. O entrevistador deve solicitar ao entrevistado a doação do conteúdo da entrevista. A entrevista não deve ser utilizada na coleta de dados de uma população ou amostra muito grande, nem na coleta de dados quantitativos, que necessitam precisão de
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informações. Para estes casos existem instrumentos de coleta mais adequados, como o questionário.
8.2 O questionário
Para Chizzotti (2000, p. 35): O questionário consiste em um conjunto de questões pré-elaboradas, sistemática e seqüencialmente dispostas em itens que constituem o tema da pesquisa, com o objetivo de suscitar dos informantes respostas por escrito [...] sobre assunto que os informantes saibam opinar ou informar.
O questionário é uma das formas mais utilizadas para coletar dados. Consiste em uma série ordenada de perguntas que devem ser respondidas por escrito pelo informante e possibilita medir com melhor exatidão o que se deseja conhecer. Todo questionário deve ser objetivo, limitado em extensão e estar acompanhado de instruções claras, a fim de tornar fácil o entendimento do propósito de sua aplicação, ressaltar a importância da colaboração do informante e facilitar o seu preenchimento. Também deve ter natureza impessoal para assegurar uniformidade na avaliação de uma situação para outra. Basicamente o questionário é composto de três partes: - cabeçalho – parte que encima o questionário, indicando o responsável pela pesquisa (entidade ou pesquisador), os objetivos do estudo, os elementos motivadores para o preenchimento (relevância e benefícios) e o que se espera do informante; - questões de caracterização dos informantes – contém os dados de identificação de quem irá responder o questionário, como sexo, idade, estado civil, entre outros; e - corpo de questões – perguntas relevantes da pesquisa. Este instrumento de coleta de dados apresenta algumas vantagens em relação a outros instrumentos de coleta: - permite obter informações de um grande número de pessoas ao mesmo tempo; - possibilita abranger uma área geográfica ampla; - não exige treinamento demorado do pessoal que aplica o questionário; - apresenta uniformidade na hora da medição das respostas, devido à igualdade de vocabulário, à ordem de perguntas e às instruções para todos os entrevistados; - no caso de questionário anônimo, permite que os informantes sintam mais liberdade para expressar suas opiniões; e - facilita e agiliza a tabulação dos dados.
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Algumas desvantagens dos questionários são: - muitas vezes não se obtém 100% das respostas, o que afeta a representatividade dos resultados; - problema de validade – nem sempre é possível se ter certeza de que as respostas do questionário correspondem à realidade; e - problema de confiabilidade – as respostas dos indivíduos variam de acordo com a situação emocional da pessoa. As perguntas a serem elaboradas no corpo do questionário podem ser de três tipos: fechadas, abertas ou mistas. Nas perguntas fechadas, as afirmações apresentam categorias ou alternativas de respostas fixas e preestabelecidas e o entrevistado seleciona a que mais se ajusta a suas características, idéias ou sentimentos. (SOUZA NETO, 2006) Os tipos de pergunta mais utilizados são as formuladas com alternativas dicotômicas – sim/não, verdadeiro/falso, certo/errado – ou com respostas de múltipla escolha que permitam marcar uma ou mais respostas ou que apresentam alternativas hierarquizadas. Abaixo vêem-se alguns exemplos. Assinalando apenas uma alternativa: Qual o seu grau de escolaridade? ( ) 1º grau ( ) 2º grau ( ) graduação ( ) pós-graduação Podendo assinalar mais de uma alternativa: Em que turno(s) você assiste aulas na AMAN? ( ) manhã ( ) tarde ( ) noite Apresentando alternativas hierarquizadas: Com que freqüência você utiliza a biblioteca da AMAN? ( ) nunca ( ) ocasionalmente ( ) freqüentemente
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Na elaboração das perguntas fechadas, há dois aspectos importantes que precisam ser considerados em relação às alternativas de resposta: elas precisam incluir todas as possibilidades esperadas e não podem colocar os informantes em dúvida. As perguntas abertas levam o entrevistado a responder com frases ou orações que expressam a sua opinião. Neste caso, o pesquisador não está interessado em antecipar as respostas, mas deseja uma maior elaboração das opiniões do entrevistado. Exemplo: Como a Disciplina Metodologia da Pesquisa Científica contribui para o “Aprender a aprender”? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________
Nas perguntas mistas são apresentadas algumas opções para o informante, como nas perguntas fechadas. No entanto, também é apresentada a possibilidade do respondente manifestar outras opiniões não previstas e justificar ou explicar a sua escolha (perguntas abertas). Exemplo: Que valores militares você destacaria como fundamentais para a ética militar? Justifique sua escolha. ( ) Honestidade ( ) Disciplina consciente ( ) Disciplina intelectual ( ) Coragem moral ( ) Outros: _________________________ Justificativa:________________________ As perguntas a serem propostas no questionário devem ser estabelecidas com critério, de acordo com os objetivos específicos que se pretende alcançar, conduzindo facilmente às respostas, não permitindo outras colocações. A linguagem empregada deve ser a mais clara possível, com vocabulário adequado ao nível de escolaridade dos respondentes, sendo que cada pergunta deve enfocar apenas uma questão a ser analisada pelo respondente.
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Também é importante se levar em conta que o informante não poderá contar com explicações adicionais do pesquisador. Por este motivo, as perguntas devem ser claras e objetivas. Por fim, serão apresentados alguns itens importantes a serem observados durante a elaboração de um questionário: - dar preferência às perguntas fechadas ou mistas, que são mais fáceis de tabular; - verificar se as perguntas oferecem as instruções e o contexto necessário às respostas; - avaliar a adequação das perguntas ao nível de informação e ao sistema de referência dos pesquisados; - verificar se não há perguntas com “contágio”, condicionando outras respostas; - evitar perguntas cujos dados possam ser obtidos de forma mais precisa por outro instrumento; - assegurar o sigilo do respondente; e - realizar o pré-teste do questionário (revisar, aprimorar, treinar).
8.3 O formulário
Nogueira (1968 apud MARCONI; LAKATOS, 1999, p. 114) define formulário como sendo: [...] uma lista formal, catálogo ou inventário destinado à coleta de dados resultantes quer da observação, quer de interrogatório, cujo preenchimento é feito pelo próprio investigador, à medida que faz as observações ou recebe as propostas, ou pelo pesquisado, sob sua orientação. (grifo nosso).
A principal diferença, então, entre o formulário e o questionário está no contato face a face entre o pesquisador e o pesquisado e na participação direta do pesquisador no processo de resposta das perguntas formuladas, pois ele mesmo as preenche durante a entrevista ou observação. As principais vantagens do formulário são: - pode ser utilizado em quase todo segmento da população (alfabetizados, analfabetos, populações heterogêneas, etc), uma vez que o seu preenchimento é feito pelo próprio entrevistador; - a assistência direta do investigador, nas explicações dos objetivos da pesquisa, na orientação do preenchimento do formulário e na retirada de dúvidas sobre o entendimento das perguntas formuladas;
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- flexibilidade para adaptação às necessidades de cada situação, podendo haver reformulação de itens e ajustes à compreensão dos informantes; - obtenção de dados mais complexos e úteis; e - garantia de uniformidade na interpretação dos dados. Por outro lado, algumas desvantagens podem ser percebidas, como: - em virtude da presença do pesquisador, o pesquisado pode ter menos liberdade na hora de responder; - risco de distorção, pela influência do aplicador; - prazo menor para responder às perguntas, não permitindo que o entrevistado pense suas respostas; - por ser aplicado por uma só pessoa, o formulário necessita mais tempo para ser respondido; e - pessoas possuidoras de informações importantes podem estar em localidades muito distantes, dificultando as respostas. Alguns exemplos de formulários são os questionários aplicados pelos entrevistadores que realizam os sensos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e os questionários aplicados durante as entrevistas realizadas na seleção complementar para incorporação de novos recrutas.
8.4 O fichamento
Durante os trabalhos de pesquisa, muitas serão as fontes bibliográficas consultadas com a finalidade de se obter algum conhecimento importante para os estudos realizados. Achar que somente a memória será suficiente para armazenar todas os conhecimentos obtidos é um grande engano. Infelizmente não se pode confiar somente na memória e a maneira mais adequada para se reter informações importantes é registrá-las em algum meio físico. A ficha de leitura é um instrumento útil na hora de se recuperar um dado necessário ao prosseguimento da pesquisa. O fichamento é um modo de se armazenar informações necessárias ao empreendimento de um trabalho acadêmico. As idéias fichadas proporcionarão os fundamentos para o desenvolvimento da tese do trabalho que será apresentada na redação do texto científico. As fichas de leitura podem ser de três tipos:
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- ficha-resumo – ficha que apresenta de forma concisa as principais idéias de um texto lido pelo pesquisador; - ficha de citação – esse tipo de ficha apresenta a cópia, na forma de transcrição textual (cópia fiel), de fragmentos considerados relevantes para o estudo do texto, não devendo a parte transcrita ser muito extensa; e - ficha de comentário – nessas fichas são registradas, também, as observações do pesquisador sobre o que foi lido. A ficha de leitura estrutura-se em três partes: cabeçalho, onde aparece o título ou assunto da ficha; referência da obra pesquisada e texto com o conteúdo da ficha. Exemplo de ficha-resumo:
LÍNGUA PORTUGUESA LÍNGUA E CULTURA CÂMARA JÚNIOR, J. Mattoso. Dispersos. Rio de Janeiro: FGV, 1975. Língua e cultura, p. 265. ANOTAÇÕES O autor define cultura do ponto de vista filológico, ou seja, aborda a origem do termo: cultura < civilization < politesse < humanitas. Humanitas >. A língua é considerada como parte da cultura, mas, ao mesmo tempo, como seu reflexo: “A língua é uma parte da cultura, mas uma parte que se destaca do todo e com ele se conjuga dicotomicamente.” p. 268
Exemplo de ficha de citação: LINGÜÍSTICA SABER EXTRALINGÜÍSTICO COSERIU, E. Lições de lingüística geral. Tradução de: Evanildo Bechara. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1980. TRANSCRIÇÕES PARA CITAÇÕES “O plano do saber histórico não contém só fatos lingüísticos, mas também outras tradições relacionadas, estas, com as com as ‘coisas’, vale dizer, com o mundo extralingüístico.” p. 102.
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Exemplo de fica de comentário: METODOLOGIA CIENTÍFICA ELABORAÇÃO DOS TRABALHOS
BARRAS, Robert. Os cientistas precisam escrever. Tradução de: L. Novaes e L. Hegenberg. São Paulo: T. A. Queiroz, EDUSP, 1979. p. 218. APRECIAÇÃO Apresenta indicações de como preparar comunicações escritas e orais. Sugere técnicas para a apresentação de relatórios, teses, seminários, conferências e palestras. Indica normas para a inclusão de tabelas, gráficos, fotos e outros processos de ilustração nos trabalhos. Trabalho útil, principalmente para estudantes de engenharia. Estilo leve, agradável, com ilustrações humorísticas.
8.5 A observação sistemática
A observação sistemática ou estruturada consiste na coleta e registro de dados observados que foram previamente definidos. O pesquisador, antes da coleta dos dados, elabora um plano específico para o registro e a organização das informações que deseja analisar. O registro dos dados pode acontecer no momento em que os eventos ocorrem, através da observação direta. Assim, eles podem ser observados no contexto em que se dão e correlacionados a outros fatos As observações sistemáticas são aplicadas em pesquisas com objetivos de descrição e compreensão de fenômenos ou de teste de hipóteses. Exemplo de observação sistemática: Objetivo: analisar o comportamento do Instrutor de Tiro quanto aos procedimentos de segurança no estande. Comportamentos observados: ( ) Determinou que o armamento estivesse em TASSO. ( ) Realizou a inspeção do armamento de todos os atiradores antes da entrada no estande. ( ) Leu as normas as normas de segurança para a permanência no estande de tiro.
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9 REFERÊNCIAS
Referência é o conjunto padronizado de elementos que descrevem um documento, permitindo sua identificação em meio a outros documentos. (ASSOCIACÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2002). A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é o órgão normatizador da forma como as referências devem ser apresentadas. Define documento como: Qualquer e que contenha informação registrada, formando uma unidade, que possa servir para consulta estudo ou prova. Inclui impressos, manuscritos, registros audiovisuais, sonoros, magnéticos e eletrônicos, entre outros. (ASSOCIACÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2002, p. 2, grifo nosso).
9.1 Finalidades
A referenciação de uma fonte da qual se coleta informações para a construção de um texto atende a algumas finalidades como: - dar crédito a quem originalmente produziu um conhecimento (honestidade); - fornecer ao leitor indicações que lhe permitam localizar as fontes de onde foi extraída a informação (indicação de fontes); - dar credibilidade ao texto em razão da autoridade e reconhecimento das fontes utilizadas (credibilidade). (MOURA, 2004). Além disso, ao citar fontes conhecidas e reconhecidas, o pesquisador imprime mais confiabilidade e credibilidade a seu texto, em razão da autoridade das fontes citadas.
9.2 Orientações básicas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)
Segundo a NBR-6023 ─ ABNT, de agosto de 2002, os elementos essenciais e os complementares da referência devem figurar, de forma padronizada, em nota de rodapé ou no fim do texto ou do capítulo. No Trabalho de Conclusão de Curso da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), as referências deverão ser apresentadas no fim do texto. As referências devem ser alinhadas somente à esquerda, em espaço simples, separadas entre si por dois espaço simples, de forma a se identificar individualmente cada documento referenciado. Conforme o tipo de documento pesquisado, a forma de referenciar sofre alterações previstas pela norma.
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9.3 Monografia no todo
Monografia no todo inclui livro, folheto, manual, guia, catálogo, enciclopédia, dicionário e trabalhos acadêmicos (teses, dissertações e Trabalhos de Conclusão de Curso). Os elementos essenciais são: autor(es), título (subtítulo), edição, local, editora e ano de publicação.
9.3.1 Autor
O autor deve ser identificado pelo último sobrenome: todo em maiúsculas. Prenome, nome e outro(s) sobrenome(s): somente as iniciais maiúsculas.
MEDEIROS, João Bosco.
9.3.2 Até três autores
Deve-se referenciar todos os autores, separando-os por ponto-e-vírgula.
COULSON, Willian R.; ROGERS, Carl.
JUSTUS, M.; GRAÇA, N.; KARLO, S.
9.3.3 Mais de três autores
Deve-se referenciar o primeiro autor e empreguar a expressão latina et al (“e outros”), seguida de ponto.
SILVA JÚNIOR, J. et al. Obs: Os indicativos de parentesco (FILHO, JÚNIOR, SOBRINHO ou NETO) e os ligados por hífen (Ex: VILLA-MOURA) são grafados em maiúsculas junto com o último sobrenome.
76
9.3.4 Autor entidade O nome do órgão governamental, empresa, associação, congresso é apresentado por extenso e em letras maiúsculas.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE.
9.3.5 Autoria desconhecida
Não se usa o termo “anônimo”, a entrada da referência é feita pelo título com a primeira palavra em letras maiúsculas. Caso a primeira palavra seja monossilábica ou um artigo (definido ou indefinido), a próxima palavra do título também será grafada em letras maiúsculas.
BÍBLIA sagrada. O BRASIL e os holandeses.
9.3.6 Autores responsáveis
Obras produzidas por vários autores geralmente têm coordenadores (Coord.), diretores (Dir.) ou organizadores (Org.), que gerenciam o processo de produção e são os principais responsáveis pelo trabalho.
CASTRO, Celso; IZECKSOHN, Vitor; KRAAY. Hendrik. (Org.). Nova história militar brasileira. Rio de Janeiro: FGV: Bom Texto, 2004
9.3.7 Título e subtítulo
Título: negrito ou itálico; subtítulo (após dois-pontos): fonte normal.
77
Redação científica: a prática de fichamentos, resumos, resenhas. Só a primeira letra do título e dos nomes próprios devem ser grafadas em maiúsculas. Compare com a grafia de títulos e subtítulos segundo a gramática: Redação Científica: a Prática de Fichamentos, Resumos, Resenhas.
9.3.8 Edição
Não se indica a 1ª edição. Deve-se usar algarismo arábico, ponto e um espaço entre as indicações.
4. ed. As edições estrangeiras devem ser indicadas na língua original; por exemplo: 2. Auflage (em alemão, “tiragem”, “edição”). Os acréscimos vêm em seguida e abreviados: 2. ed. rev. aum. (revista e aumentada).
9.3.9 Imprenta
Imprenta é o local da edição.
São Paulo: Rio de Janeiro: Topônimo sem abreviaturas, seguido de dois-pontos. Em caso de homonímia, o topônimo é seguido de vírgula e da abreviatura do estado ou do país: Viçosa, AL Viçosa, CE Viçosa, MG Viçosa, RJ
78
9.3.10 Editora A editora deve vir seguida de vírgula, sem referências comerciais, como Editora, S/A ou Ltda.
Atlas,
9.3.11 Ano de publicação O ano de publicação será escrito em arábico, sem ponto para separar o milhar, seguido de ponto final.
2000. Deve-se sempre indicar uma data. Se ela não for apresentada na publicação, procede-se da seguinte maneira: - [1999] data certa, mas não indicada; - [2000?] data provável; - [198-] década certa; - [197-?] década provável; - [entre 1960 e 1980] intervalo (menor de 20 anos); - [19-] século certo; e - [19-?] século provável.
SOBRENOME, Nome. Título: subtítulo. ed. Local: Editora, ano.
Exemplos:
RUIZ, João Álvaro. Metodologia científica: guia para eficiência nos estudos. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1996.
ACADEMIA MILITAR DAS AGULHAS NEGRAS. Manual de metodologia da pesquisa científica. Resende: Acadêmica, 2008.
79
9.4 Parte de monografia
Para referenciar parte de uma monografia (livro), ou seja, capítulos, volumes, partes de uma obra, com autor(es) e título(s) próprio(s), apresentam-se o(s) autor(es), título da parte, seguidos da expressão In: e a referência completa da monografia no todo. Após a data, deve-se informar a paginação inicial e final da parte referenciada.
FERRAZ, Francisco César Alves. Os veteranos da FEB e a sociedade brasileira. In: CASTRO, Celso; IZECKSOHN, Vitor; KRAAY. Hendrik. (Org.). Nova história militar brasileira. Rio de Janeiro: FGV: Bom Texto, 2004. p. 365-88.
9.4.1 Dados complementares
Dados complementares são informações que podem ser acrescidas, visando a caracterizar melhor o documento referenciado.
9.4.1.1 Descrição física
A quantidade de páginas pode ser informada no final da apresentação dos elementos essenciais.
237 p. É possível apresentar o intervalo de páginas a que se refere a referência: p. 7-23.
(da página 7 à 23)
p. 25-8.
(da página 25 à 28)
p. 151-74.
(da página 151 à 174)
9.5 Artigos ou matérias de periódicos
As matérias de periódicos compreendem editoriais, artigos, reportagens, entrevistas, resenhas, comunicações e outros. A apresentação das referências de revistas e de jornais é diferente da utilizada em livros.
80
9.5.1 Artigos ou matérias de periódicos: revistas
Os elementos essenciais são: autor(es), título da parte, artigo ou matéria, título da publicação (destacado em negrito ou itálico), local de publicação, ano, volume, número, paginação inicial e final, data e particularidades que facilitem a identificação (se houver).
LUFT, Lya. O verdadeiro ecologismo. Veja, São Paulo, ano 38, n. 4, p. 24, 6 jan. 2005.
MACHADO, Elton Rodrigues. Sargento Max Wolf Filho: exemplo de comandante de patrulha na 2ª GM. Sangue Novo, Resende, ano 7, n. 014, p. 36-8, 1º semestre de 2008.
9.5.2 Artigos ou matérias de periódicos: jornais
Os elementos essenciais são: autor(es), título, título do jornal (destacado em negrito ou itálico), local de publicação, data de publicação, seção, caderno ou parte do jornal, paginação inicial e final. Não havendo seção, caderno ou parte, a paginação da matéria ou artigo precede a data.
ASCHER, Nelson. Escola de tradutores. Folha de S. Paulo, São Paulo, 7 mar. 2005. Folha Ilustrada, p. E6. IGREJA implanta projeto para enfermos de alto risco. O Poder, Resende, p. 6, mar. 2007. GOOGLE se ajeita para enfrentar Microsoft. Folha de S. Paulo, São Paulo, 23 jan. 2008. Folha de informática, p. F4.
9.6 Documentos jurídicos “Inclui legislação, jurisprudência (decisões judiciais) e doutrina (interpretação de textos legais.” (ASSOCIACÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2002, p. 8).
81
BRASIL. Código Civil. 41. ed. São Paulo: Saraiva, 1995.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 1997.
9.7 Documentos obtidos em meio eletrônico
Deve-se referenciar os documentos obtidos em meio eletrônico de forma semelhante aos exemplos anteriores. Entretanto, é comum não se encontrar todos os elementos essenciais de uma referência. É necessário, então, buscar a maior quantidade possível de informações complementares que permitam uma melhor identificação da fonte referenciada. Na parte final da referência, acrescentam-se informações quanto ao e (disquete, CD-ROM etc.). A apresentação do endereço eletrônico de onde a informação foi obtida e da data de o é obrigatória e deve ser feita conforme o exemplo abaixo: Disponível em: <endereço eletrônico exato de onde foi obtida a informação>. o em: dia mês (abreviatura do mês, em letras minúsculas, seguida de ponto, à exceção de maio) e ano.
9.7.1 Livros
BARRETO, Lima. Recordações do escrivão Isaías Caminha. EBooks Brasil. 228Kb. Disponível em: <www.ebookcult.com.br/1234barreto.htm>. o em: 15 ago. 2007.
9.7.2 Artigos de jornais
BONALUME NETO, Ricardo. Japoneses criam pele robótica que pode sentir calor e pressão. Folha Online, São Paulo, 16 ago. 2005. Disponível em:
. o em: 16 maio 2005.
82
MERCADOS testam as mudanças no regime cambial. Gazeta Mercantil, São Paulo, 7 mar. 2005. Versão on-line. Disponível em:
. o em: 7 mar. 2005.
9.7.3 Artigos de revistas
A LOGÍSTICA na Amazônia. Verde-Oliva, Brasília, ano XXXII, n. 184, abr/maio/jun 2005. Disponível em: < http://www.exercito.gov.br/VO/indice. htm >. o em: 12 ago.2005.
9.7.4 Documentos jurídicos
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Presidência da República (Casa Civil). Disponível em: < https://www. planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm >. o em: 4 mar. 2008.
BRASIL. Código Civil. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em: < http://www.mj.gov.br/sal/codigo_civil/indice.htm >. o em: 4 mar. 2007.
9.7.5 Manuais
BRASIL. Ministério da Defesa. Exército Brasileiro. C 20-20: treinamento físico militar. 3. ed. Brasília: EGGCF, 2002. Disponível em: < http://webaman. amanet/intraman/>. o em: 29 jul. 2008. BRASIL. Ministério do Exército. T 21-250: manual do instrutor. 3. ed. Brasília: EGGCF, 1997. Disponível em: < http://webaman.amanet/intraman/>. o em: 29 out. 2008.
83
9.7.6 Teses, dissertações e monografias
MORAES, Márcia Cristina de. Jovens Turcos: militarismo e nacionalismo, uma leitura da revista A Defesa Nacional (1913-1918). 2004. 216 p. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) - Universidade Estadual Paulista, Marília-SP, 2004. Disponível em: < http://www.marilia.unesp.br/ensino/posgrad/ciencias_sociais/apresentacao.htm>. o em: 23 nov. 2006.
9.8 Observações
As referências devem ser ordenadas alfabeticamente, pelo último sobrenome do autor. No caso de autor repetido (mesmo autor que a referência imediatamente anterior), pode ser usado um traço de seis caracteres para substituir o nome do autor, seguido de ponto. Exemplo: ______. Caso aconteça de o autor e o título se repetirem (mesma obra que a referência imediatamente anterior), pode ser usado um traço de seis caracteres para o autor, seguido de ponto, e outro traço seguido de ponto para o título da obra. Exemplo: ______. ______. Quando ocorrer mudança de linha dentro de uma mesma referência, deve-se recomeçar sob a primeira letra do último sobrenome.
MEDEIROS, João Bosco. Redação científica: a prática de fichamentos, resumos, resenhas. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2000.
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9.9 Exemplos de referenciação NBR-6023 ─ ABNT a) Um autor: CARRAHER, David W. Senso crítico: do dia-a-dia às ciências humanas. 6. ed. rev. aum. São Paulo: Pioneira, 2000. b) Dois ou três autores:
LIVRO
RAMESÍN, Humberto Maturana; GARCÍA, Francisco J. Varela. De máquinas e seres vivos: autopoiese – a organização do vivo. Tradução Juan Acuña Lorens. 3. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. c) Mais de três autores: CALDEIRA, Jorge et al. Viagem pela história do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. v. 3 FAUSTO NETO, Antônio; PINTO, Milton José (Org.). O indivíduo e as mídias. Rio de Janeiro: Diadorim, 1996.
a) Com autoria conhecida: ARTIGO DE REVISTA NACIONAL
VARELLA, Drauzio. A importância do sono. Carta Capital, São Paulo, ano IX, v. 135, n. 230, p. 60, 5 mar. 2003. b) Sem autoria conhecida: ACORDA peão. Época, São Paulo, ano XI, v. 33, n. 327, p. 92, 23 ago. 2004.
a) Com autoria conhecida:
ARTIGO DE REVISTA ESTRANGEIRA
MEYER, Dwain A. A estratégia de transporte. Military Review, Kansas, United States, n. 2, p. 25-33, 2nd. Qtr. 2007. b) Sem autoria conhecida: MENSCHEN und Momente 2002. Deutschland, Frankfurt, Deutschland, n. 6, p. 6-11, Dezember/2002 Januar/2003.
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a) Com autoria conhecida:
ARTIGO DE JORNAL
CAETANO, Valderez. Estados descumprem lei e reduzem verbas para Saúde. O Globo, Rio de Janeiro, 8 ago. 2006. O País, Caderno 1, p. 20. b) Sem autoria conhecida: UM SALTO para a superação. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. E7, 28 ago. 2008.
MANUAL E REGULAMENTO DO EXÉRCITO BRASILEIRO
NOTAS DE AULA E APOSTILA
VERBETE DE DICIONÁRIO
VERBETE DE ENCICLOPÉDIA
BRASIL. Ministério do Exército. R-2: regulamento de continências, honras, sinais de respeito e cerimonial militar das Forças Armadas. Brasília: EGGCF, 1997. BRASIL. Ministério da Defesa. C 20-50: treinamento físico militar – lutas. 3. ed. Brasília: EGGCF, 2002. ACADEMIA MILITAR DAS AGULHAS NEGRAS. Curso de Infantaria. O pelotão no ataque. Resende: Acadêmica, 2003. (apostila). ACADEMIA MILITAR DAS AGULHAS NEGRAS. Cadeira de História. História militar do Brasil. Resende: Acadêmica, 2005. 2 CD-ROM.
EXÉRCITO. In: HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2006, p. 1284. BRASIL. In: GRANDE Enciclopédia Larousse Cultural. São Paulo: Nova Cultural, 1998, p. 889-938. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 1997.
DOCUMENTO JURÍDICO
BRASIL. Medida provisória n. 42822, de 20 de janeiro de 1998. Estabelece multas em operações de importação e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 14 dez. 1997. Seção 1, p. 29514. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Presidência da República (Casa Civil). Disponível em:
. o em: 4 mar. 2008.
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a) Com autoria conhecida:
DOCUMENTO ELETRÔNICO
SCHWARTZ, Gilson. Orkut, a bolha. Folha Online, São Paulo, 27 jul. 2004. Disponível em:
. o em: 30 jul. 2006. b) Sem autoria conhecida: POUSO nas alturas. Airway on-line – News, 4 ago. 2004. Disponível em:
. o em: 15 ago. 2004.
TESES E DISSERTAÇÕES
MORAES, Márcia Cristina de. Jovens Turcos: militarismo e nacionalismo, uma leitura da revista A Defesa Nacional (19131918). 2004. 216 p. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) Universidade Estadual Paulista, Marília-SP, 2004.
MONOGRAFIAS
ALVES, Antônio César. Métodos para o estudo da História Militar Brasileira. 2008. 39 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Militares) – Academia Militar das Agulhas Negras, Resende-RJ, 2008.
ENTREVISTA
MELLO, Evaldo Cabral de. O ado no presente. Veja, São Paulo, ano 34, n. 1528, p. 9-11, 4 set. 1998. Entrevista concedida a João Gabriel de Lima.
87
10 CITAÇÃO
A citação nada mais é que a “Menção de uma informação extraída de outra fonte.” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2002, p. 1).
10.1 Quando fazê-la? Para quê?
Se entendermos a ciência como um saber em construção, partiremos necessariamente do conhecimento anterior, já sistematizado, sobre o tema que abordamos. Assim, citamos para pagar tributo àqueles que, antes de nós, pesquisaram, refletiram, trabalharam. As citações servem a vários propósitos, dentre os quais podemos destacar: - criticar idéias e resultados apresentados por outros autores; - comparar resultados de pesquisas já realizadas; e - fundamentar e apoiar nossa argumentação. Citamos, também, para não cairmos numa grande tentação, característica dos tempos atuais, em que as informações estão cada vez mais íveis: o plágio. Apresentar uma informação e não citar a fonte, ando-se por autor de algo que realmente não produziu, é um crime, previsto na Lei de Direitos Autorais, no Código Penal e na Constituição Federal. A citação é um instrumento que nos permite utilizar em nosso trabalho: idéias, gráficos, figuras, transcrições textuais etc, sem incorrermos em plágio. Há que se buscar um equilíbrio: poucas referências podem sugerir que não se fez revisão de literatura, ou que essa foi inadequada; em contrapartida, um trabalho “recheado”, a cada linha, de citações, transmite a insegurança do autor, dando a entender que ele não teve coragem de fazer assertivas sem se apoiar em autoridade, ou pior, que se absteve de qualquer reflexão. Nesse caso, é sempre melhor ler o original citado que uma versão “ada a sujo”. É imprescindível que, ao citar, não descaracterizemos as idéias do autor citado. Também é necessário que exista um encadeamento lógico entre o texto que estamos produzindo e a citação que queremos utilizar, de modo que ela não fique “solta”. Ao contrário, a citação serve como argumento de autoridade em relação ao texto por nós produzido.
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Exemplo:
O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) precisa ser original – não no sentido do total ineditismo do assunto tratado na monografia, mas no sentido adotado por Salomon (1999, p. 255): [...] desde tempos remotos considerou-se “original” também o trabalho que apresenta modo novo de abordar um assunto já tratado ou que consegue estabelecer relações novas ou, finalmente, que se propõe uma nova interpretação de questões controversas.
O entendimento do TCC ou da Monografia como uma atividade mais de extração que realmente de produção de conhecimento também é defendido por Salomon, com a ressalva de que: Extração não significa mera compilação ou transcrição de texto, sem análise, sem crítica, sem reflexão. A proposta acadêmica da dissertação monográfica [...] visa a treinar o estudante nas atividades de leitura-estudo, análise de texto, crítica e discussão de idéias [...], e nas habilidades de síntese e comunicação. (1999, p. 259, grifo do autor).
Devemos sempre indicar as fontes utilizadas. Isso possibilita que os dados citados possam ser conferidos pelo leitor, ou que ele, caso deseje, tenha o às fontes primárias para informações adicionais sobre o assunto abordado.
10.2 Citação direta
Citação direta é a transcrição literal – ipsis litteris – da(s) frase(s) do texto consultado. Indica que a citação foi extraída de uma fonte à qual se teve o direto, e consiste na reprodução fiel de suas palavras, respeitando-se rigorosamente a redação, a pontuação e a grafia originais. Exemplo: Segundo Ruiz (1996, p. 116), “A verdade nasce, pois, do julgamento da mente a respeito das realidades e não existe sem ele.”
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De acordo com o tamanho – com até três ou quatro ou mais linhas – a citação direta será incluída no corpo do texto do trabalho acadêmico ou ficará em destaque.
10.2.1 Citação direta com até três linhas
A citação direta com até três linhas deve ser incluída no texto do trabalho, necessariamente entre aspas.
Exemplo: No que diz respeito à crítica, concordamos com Alves-Mazzotti e Gewandsznajder, quando afirmam que “Ao contrário do que supõe o senso comum, na atividade científica, a crítica não é uma forma de destruir o conhecimento e sim uma forma de construí-lo.” (2000, p. 145). Observe que respeitamos a maiúscula inicial da citação, uma vez que transcrevemos toda a frase do texto original. Se nos interessa citar apenas um fragmento, a supressão de trechos da frase original deve ser indicada por reticências entre colchetes: [...]. Os colchetes também são utilizados quando desejamos acrescentar um comentário curto ou uma explicação dentro da citação.
Exemplo: Para Abreu, “[...] o parágrafo não deve ser uma camisa de força do texto. [...] todos nós somos capazes de perceber o momento em que devemos fazer a transição entre um parágrafo e outro.” (2001, p. 56). Se no texto a ser reproduzido já existirem palavras aspeadas, elas devem ser transcritas entre aspas simples. Exemplo: Segundo Lakatos e Marconi (1992, p. 161), “Uma vez formulado o problema, com a certeza de ser cientificamente válido, propõe-se uma resposta ‘suposta, provável e provisória’, isto é, uma hipótese.”
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10.2.1.1 Entrada excluída do texto
Na citação direta, quando o(s) sobrenome(s) do(s) autor(es) não fizer(em) parte da sentença, deve(m) vir entre parênteses em letra maiúscula, seguido(s) do ano de publicação, do(s) tomo(s) e volume(s), se houver, e da(s) página(s). Caso exista mais de um autor, seus sobrenomes são separados por ponto-e-vírgula. Exemplo: Assim, veremos que “Uma vez formulado o problema, com a certeza de ser cientificamente válido, propõe-se uma resposta ‘suposta, provável e provisória’, isto é, uma hipótese.” (LAKATOS; MARCONI, 1992, p. 161).
Nas obras em que a autoria é de uma entidade, recomenda-se que a indicação da fonte seja sempre apresentada entre parênteses. Exemplo: Para a realização da continência individual é importante frisar que “Todo militar faz alto para a continência à Bandeira Nacional, ao Hino Nacional e ao Presidente da República.” (BRASIL, 1997, p. 17).
No caso de a obra não apresentar autor ou instituição responsável, a citação será apresentada pela primeira palavra do título, seguida de reticências, data da publicação e página(s). Se o título iniciar com artigo definido ou indefinido, ou ainda, por palavra monossílaba, estes devem ser incluídos na indicação da fonte. Também é recomendável que a indicação da fonte seja sempre apresentada entre parênteses. Exemplo:
Vale lembrar a importância da oração, pois “Nossa espiritualidade e produtividade na obra estão sempre em proporção direta à consistência de nossas orações.” (A ORAÇÃO..., 1981, p. 65).
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10.2.2 Citação direta com mais de três linhas
A citação direta com mais de três linhas deve figurar abaixo do texto, sem aspas, com recuo de 4cm da margem esquerda, com letra menor que a utilizada no nosso texto e espaçamento simples, e deve terminar na margem direita. Exemplos: Quando nos referimos à verdade, e à sua busca na relação julgamento versus realidade, amparamo-nos em Ruiz (1996, p. 116), que nos apresenta o seguinte esclarecimento: Quando se julga que determinada jóia foi feita com ouro de dezoito quilates, este julgamento pode ser verdadeiro ou falso; se a jóia for, de fato, feita com ouro de dezoito quilates, surge a verdade; se, porém o ouro da jóia não tiver dezoito quilates, mas dezesseis ou vinte, por exemplo, temos o erro. Erro de julgamento, da realidade em si, pois que ouro de dezesseis ou de vinte quilates são tão verdadeiros, se assim pudéssemos falar, como ouro de dezoito quilates.
A verdade deve ser buscada na relação entre nosso julgamento e a realidade: Quando se julga que determinada jóia foi feita com ouro de dezoito quilates, este julgamento pode ser verdadeiro ou falso; se a jóia for, de fato, feita com ouro de dezoito quilates, surge a verdade; se, porém o ouro da jóia não tiver dezoito quilates, mas dezesseis ou vinte, por exemplo, temos o erro. Erro de julgamento, da realidade em si, pois que ouro de dezesseis ou de vinte quilates são tão verdadeiros, se assim pudéssemos falar, como ouro de dezoito quilates. (RUIZ, 1996, p. 116, grifo nosso).
Se no texto a ser reproduzido existirem palavras aspeadas, elas devem ser transcritas entre aspas duplas. Exemplo: Na redação do resumo da monografia, vale lembrar as lições de Salomon (2000, p. 199): O resumo deve ser livre de todo comentário pessoal e não deve formular críticas ou julgamentos de valor. A extensão do assunto e a maneira pela qual foi tratado podem ser entretanto caracterizadas por termos como “sucinto” ou “pormenorizado”, “teórico” ou “prático”, “original” ou “complicado”, de “vulgarização” ou “especializado”, “exaustivo” ou “seletivo”, “profundo” ou “superficial” etc.
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10.3 Citação indireta
Citação indireta é um “Texto baseado na obra do autor consultado.” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2002, p. 2). Consiste na reprodução, por meio da paráfrase, das idéias do autor consultado. É importante salientar a necessidade de tomarmos todo o cuidado necessário para não deturpar ou descaracterizar as idéias das fontes consultadas. Mantém-se a obrigatoriedade de citar a fonte da informação (sobrenome do autor e data); a indicação da(s) página(s) é opcional. Exemplos: A maior parte das pesquisas no campo da educação é de natureza descritiva. (TRIVIÑOS, 1987). A falácia da pergunta complexa acontece, segundo Carraher (2000), quando apresentam-se duas ou mais perguntas simultâneas, sob o formato de uma só.
10.4 Observações
Ocorrendo coincidência de sobrenome dos autores e da data, acrescenta-se a inicial de seus prenomes. Persistindo a coincidência, os prenomes são apresentados por extenso. Exemplo: (SILVA, A., 1999, p. 25)
(SILVA, Antônio, 1999, p. 25)
(SILVA, A., 1999, p. 49)
(SILVA, Álvaro, 1999, p. 127)
Para citar diversas obras de um mesmo autor ou instituição responsável, publicados num mesmo ano, acrescenta-se letras minúsculas, em ordem alfabética, logo após a data, sem espacejamento. A mesma indicação deve ser apresenta na lista de referências. Exemplos:
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(BRASIL, 2002a, p. 4-2)
(SILVA, 1999b, p. 25)
A citação de citação deve ser, se possível, evitada. Sendo impraticável a consulta ao original, utiliza-se a expressão latina apud (“citado por”, “segundo”). Exemplos: “Questionar é um hábito, e como tal deve ser cultivado.” (MOLINA, 1992, p. 36 apud MEDEIROS, 2000, p. 67).
Quando nos referimos à leitura é válido ressaltar a necessidade de questionar, como afirma Molina (1992, p. 36 apud MEDEIROS, 2000, p. 67): “Questionar é um hábito, e como tal deve ser cultivado.”
No caso de citação de citação, será apresentado nas referências o autor lido, no exemplo acima, o livro que deve constar nas referências é o do Medeiros.
94
11 PROJETO DE PESQUISA
O Trabalho de Conclusão de Curso é um processo constituído de três grandes partes: o planejamento (elaboração do Projeto de Pesquisa), a execução (realização da pesquisa que foi planejada) e o relatório da pesquisa realizada (elaboração da monografia). Essas partes são interdependentes, ou seja, um erro na fase anterior tende a repercutir na subseqüente. O Projeto de Pesquisa permite: - o planejamento do caminho a ser seguido na coleta e análise dos dados, bem como na elaboração do relatório; - a definição da pesquisa em bases em que possa ser realizada; e - o acompanhamento e a avaliação de possibilidades, limites e possíveis desvios. Para Severino (2000, p. 159), “o projeto de pesquisa, além de orientar o caminho a ser seguido, explicita as etapas a serem alcançadas, os instrumentos e as estratégias a serem usadas.” Um Projeto de Pesquisa constitui-se de elementos pré-textuais, textuais e póstextuais. Por ora, trataremos somente dos elementos textuais; os pré-textuais e os pós-textuais estão íveis no texto “Redação científica”. Os elementos textuais de um Projeto dividem-se em três partes: Introdução, Referencial Teórico e Referencial Metodológico. O quadro abaixo apresenta a estrutura textual de um projeto de pesquisa. 1 INTRODUÇÃO 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Delimitação do tema 2.2 Revisão da literatura 2.3 Problema 2.4 Hipótese 2.5 Objetivos 2.5.1 Objetivos gerais 2.5.2 Objetivos específicos 3 REFERENCIAL METODOLÓGICO 3.1 Procedimentos de pesquisa 3.2 População e amostra (sfc) 3.3 Instrumentos de pesquisa 3.4 Cronograma REFERÊNCIAS
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A seguir trataremos do conteúdo de cada item textual de um projeto de pesquisa.
11.1 Introdução
A introdução do Projeto de Pesquisa, como o próprio nome sugere, pretende introduzir o leitor no tema a ser pesquisado, colocá-lo “dentro” do tema. É o cartão de visitas do projeto e deve despertar o interesse na continuidade da leitura. Na introdução do Projeto de Pesquisa, é preciso situar a pesquisa a ser realizada em uma área de estudo das Ciências Militares (Portaria 517/Cmt Ex, 26 Set 00) e em uma linha de pesquisa, ou seja, de uma subdivisão da área de estudo. Deve-se deixar evidente, já na introdução, o tema da pesquisa e os seus objetivos gerais. Também é essencial apresentar, na introdução, a explicação detalhada da relevância e da justificativa da pesquisa, respondendo satisfatoriamente às seguintes perguntas: Por que é importante pesquisar este tema? Em que a pesquisa pode contribuir? Que interesses institucionais e/ou pessoais podem ser atendidos com a pesquisa que se pretende realizar? Neste item, trata-se de persuadir o leitor de que vale a pena realizar a pesquisa planejada. É “vender o peixe” da pesquisa.
11.2 Referencial teórico
No Referencial Teórico, apresentamos detalhadamente o que pretendemos pesquisar, com quais objetivos e a partir de que base teórica a nossa pesquisa será iniciada. Trata-se da apresentação da fundamentação teórica e da definição dos termos da pesquisa.
11.2.1 Delimitação do tema
Delimitar o tema é fixar limites quanto à abrangência, ao enfoque e ao aspecto específico a ser discutido no tema escolhido. É muito comum, ao iniciarmos uma pesquisa, pretendermos dar conta de todo o tema ou de grande parte dele. Com a prática, percebemos que é impossível, em uma pesquisa científica, esgotar um tema, pesquisando-o em toda a sua extensão. Faz-se necessário selecionar para pesquisar, ou seja, é necessário delimitar o tema. A delimitação de um tema deve levar em conta aspectos como tempo (quando?), espaço (onde?), população (com quem?) e abordagem (como?).
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A delimitação do tempo auxilia o pesquisador e/ou o orientador na condução e orientação da pesquisa. Caso não haja delimitação de tempo, a pesquisa pode se tornar inviável ou imprecisa quanto a seu enquadramento e alcance. Há casos em que a localização de um momento ou fato histórico já deixa implícito o período de tempo abordado. Feita a demarcação do tempo que será investigado, cabe a explicação dos fatores que justificam o período escolhido como significativo e relevante. Ex.: Análise das regras de engajamento do Exército Brasileiro no controle de distúrbios urbanos durante o Estado Novo.
A delimitação no espaço é a localização do contexto da pesquisa, a definição do espaço que será analisado pelo pesquisador. Os aspectos de delimitação do tempo e do espaço compõem o campo da investigação – indicação do “lugar” histórico e/ou geográfico que permite a localização do assunto.
Ex.: Análise das regras de engajamento do Exército Brasileiro no controle dos distúrbios urbanos ocorridos na Capital Federal durante o Estado Novo. Devido às características de determinadas pesquisas, há situações em que a definição da população objeto da pesquisa pode não ser facilmente caracterizada – por exemplo, pesquisa documental, pesquisa bibliográfica etc. Contudo, há pesquisas em que é imprescindível a delimitação da população – por exemplo, pesquisa experimental, pesquisa de campo, levantamento, pesquisa-ação etc. A delimitação da abordagem estabelece as características da investigação e o seu viés – qualitativo, quantitativo ou ambos. Tal aspecto é identificado ao analisarmos a ação de pesquisa que pretendemos desencadear: medir, conhecer, identificar, comparar, analisar etc. Convém destacar que a abordagem é determinada pelo tipo de pesquisa que se pretende realizar. O tipo de pesquisa, por sua vez, é determinado por uma série de fatores, dentre os quais se destacam as qualificações do pesquisador, a quantidade e a qualidade dos dados de que dispõe e os objetivos da pesquisa. Ex.: Análise das regras de engajamento do Exército Brasileiro no controle dos distúrbios urbanos ocorridos na Capital Federal durante o Estado Novo.
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Resta destacar que, antes de delimitar um tema, na verdade, até antes de escolher um tema a ser pesquisado, é essencial realizar um reconhecimento sobre a qualidade, a quantidade e a possibilidade de o às fontes de dados acerca do tema. Esse reconhecimento exploratório é extremamente necessário e inicia a revisão da literatura sobre o tema.
11.2.2 Revisão da literatura
A revisão da literatura é a primeira tarefa a ser executada; trata-se de uma pesquisa de natureza bibliográfica e/ou documental. Alguns pesquisadores utilizam entrevistas com especialistas no assunto a ser pesquisado para iniciar e dar prosseguimento à revisão da literatura. Revisar a literatura é imprescindível à compreensão e problematização do assunto, pois possibilita a apreensão do estágio atual do conhecimento em uma determinada área, tornando possível o aprofundamento nas questões relacionadas ao tema da pesquisa e à formulação do problema e seus antecedentes, além da elaboração da hipótese de pesquisa. Ao analisar o conhecimento já existente sobre o tema escolhido, deve-se atentar para não produzir uma “colcha de retalhos” de citações de documentos, mas, sim, articular idéias, apoiadas em relatos científicos, que conduzam à formulação do problema de pesquisa. Na revisão da literatura, deve-se demonstrar ter conhecimento das principais obras de referência, bem como dos lançamentos mais recentes sobre o tema. Para tal, pode-se iniciar a pesquisa em revistas, dissertações etc. As citações podem ser apresentadas na forma direta ou indireta. Para maior aprofundamento quanto à forma correta de citar, ver o texto que trata de citação neste manual. Para a realizar uma revisão de literatura, deve-se exercitar a curiosidade intelectual, o entusiasmo, a perseverança, a capacidade de trabalho, além do espírito investigativo. Na revisão da literatura, o pesquisador deverá procurar responder, dentre outras, às seguintes questões: - O que já foi publicado sobre o assunto? - Como o assunto já foi pesquisado? (metodologia) - Qual teoria já foi utilizada em pesquisas sobre o assunto? (fundamentação teórica) - Que aspectos já foram abordados? (delimitação)
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- Quais as principais conclusões a que se chegou nessas pesquisas? - Seria viável repetir, em ambiente militar, uma pesquisa já realizada em outro contexto? - Quais as lacunas existentes na literatura? - Existem contradições na literatura? - Existem contradições entre a literatura e a realidade?
11.2.3 Problema
O problema define o objeto principal da investigação. Sem problema não há pesquisa. É importante destacar que problema é diferente de tema. Tema é o assunto a ser pesquisado, e problema é a pergunta para a qual se pretende resposta dentro de um tema. O problema é formulado como pergunta direta — uma interrogação que o pesquisador faz à realidade pesquisada. O problema deve ser formulado buscando-se a compreensão ou explicação do fenômeno (Como? Por quê? O quê?). Deve-se evitar problemas cuja resposta possa ser um simples Sim ou Não. Evitar também, problemas com perguntas valorativas. [...] é preciso fazer uma distinção entre o problema de pesquisa e os problemas do acadêmico. O desconhecimento, a desinformação, a dúvida do pesquisador em relação a um assunto e/ou tema não constitui um problema de pesquisa. Essas lacunas podem ser resolvidas com uma leitura seletiva e aprofundada, dispensando portanto um projeto de pesquisa. (UNIPAR, 2008).
Um problema científico envolve variáveis que podem ser observadas, descritas ou testadas. A formulação do problema estabelece relações entre variáveis. Deve ser formulado de maneira clara e ser fundamentado na literatura existente sobre o tema (revisão da literatura). Rudio (2000) afirma que: Formular o problema consiste em dizer, de maneira explícita, clara, compreensível e operacional, qual a dificuldade com a qual nos defrontamos e que pretendemos resolver, limitando o seu campo e apresentando suas características. Desta forma, o objetivo da formulação do problema da pesquisa é torná-lo individualizado, específico, inconfundível. (p. 94, grifo do autor)
Não existe uma única maneira de formular um problema, trata-se de um processo em que o refazer é constante. Você só poderá formular a pergunta da pesquisa se fizer uma boa revisão de literatura, refletir, discutir com o orientador, reler parte do material, esboçar algumas perguntas, submetê-las ao orientador, descartar as menos pertinentes, reformular outras, voltar a discuti-las, e assim por diante, até se fixar numa frase
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interrogativa que sintetize bem o problema de pesquisa. (VEIGA, 1996, p.7-8, grifos do autor).
O quadro abaixo, elaborado por Moreira e Calefe (2006, p. 24), serve para exemplificar como a formulação de problemas excessivamente amplos torna a pesquisa pouco exeqüível. 1. Quais os principais fatores que ajudam na melhoria da aprendizagem na escola? 2. Quais os principais fatores que melhoram a aprendizagem de uma língua estrangeira? 3. Quais os principais fatores que melhoram a aprendizagem da língua inglesa como segunda língua? 4. Quais os principais fatores que contribuem para o uso correto do tempo subjuntivo na língua inglesa? 5. Quais os principais fatores que contribuem para o uso correto do tempo subjuntivo do verbo ser na língua inglesa?
Exemplo de problema de pesquisa: Que fatores motivacionais: preocupação com a estética, ou preocupação com a saúde, exercem maior influência na decisão de jovens de classe média alta da cidade de Resende em iniciar um programa de atividades físicas em academias de ginástica?
11.2.4 Hipótese
Hipótese é uma resposta provisória ao problema de pesquisa formulado; é, portanto, uma sentença afirmativa diretamente relacionada ao problema de pesquisa. É “o que se pretende demonstrar” (SEVERINO, 2000, p. 161). Em geral, as hipóteses são formuladas partindo-se da observação, de resultados de outras pesquisas, de teorias etc. A hipótese é uma bússola para o pesquisador caminhar entre as muitas e variadas informações de que dispõe, possibilitando que atinja os objetivos da pesquisa. Propõe relação explicativa ou compreensiva entre as variáveis — variáveis são características observáveis de um fenômeno, que por definição sofrem variação de valor. Nas pesquisas com enfoque quantitativo, as variáveis normalmente são medidas; naquelas com enfoque qualitativo, normalmente são descritas ou explicadas. (TRIVIÑOS, 1987). Seguem-se algumas relações possíveis entre variáveis: - Condição: Se X, então Y.
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- Conseqüência: Uma vez que X, então Y. - Concessão: Embora X, Y. A hipótese deve ser ível de confirmação e/ou corroboração. Ex: Os fatores ligados à exigência estética, em detrimento da preocupação com a saúde, exercem maior influência na decisão dos jovens resendenses de classe média alta em freqüentar academias de ginástica.
11.2.5 Objetivos
Os objetivos são os resultados que se espera da pesquisa. Fixam os marcos para a conclusão da pesquisa: “Foram atingidos?” Os objetivos têm estreita relação com a metodologia a ser utilizada na pesquisa. A redação dos objetivos enfatiza a ação a ser realizada — com verbo no infinitivo: demonstrar, descrever, mensurar, explicar, elaborar, analisar etc. Os objetivos indicam aonde se quer chegar com o trabalho. Os objetivos subdividem-se em: objetivo geral e objetivos específicos. Os específicos servem de etapas para atingir-se o objetivo geral da pesquisa. Ex: Objetivo geral Testar, em ambiente militar, a validade das teorias dualistas e integralista na relação corpo e mente.
Ex: Objetivos específicos Coletar dados do desempenho físico e intelectual dos cadetes. Identificar os melhores desempenhos e compará-los entre si. Avaliar a relação entre desempenho físico e desempenho intelectual. Identificar qual a teoria que mais se aproxima dos resultados encontrados.
11.3 Referencial metodológico
É o relato detalhado do modo como será realizada a pesquisa e solucionado o problema proposto.
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A metodologia deverá ser exposta de maneira clara e detalhada, para permitir, se necessário, reprodução do estudo. É essencial para a credibilidade formal dos resultados encontrados.
11.3.1 Procedimentos de pesquisa
Os procedimentos de pesquisa relatam como se pretende fazer a pesquisa. Têm uma estreita relação entre a delimitação do tema, o problema, os objetivos da pesquisa, o tempo disponível para a sua realização e o o aos dados a serem coletados. Neste item do projeto, o pesquisador deve detalhar o caminho (método) que pretende seguir para alcançar os objetivos da pesquisa, respondendo ao problema proposto e confirmando ou não a hipótese de pesquisa. É imprescindível explicar minuciosamente todas as ações a serem desenvolvidas na pesquisa, tanto na fase de coleta dos dados, quanto na fase de sua análise. A clara definição do método e das técnicas a serem empregadas (em que situação e em quem, quais os critérios estabelecidos para a definição da população e da amostra, se for o caso) e das limitações da pesquisa conferem-lhe qualidade formal. Ao se definir pelo emprego de uma técnica ou instrumento de pesquisa, deve-se tentar explicitá-lo a ponto de definir previamente quais os objetivos que se espera alcançar e quais serão as condições de sua utilização. Ou seja, deve-se responder às seguintes indagações: o quê? Com quais objetivos? Onde e com quem? Com quais critérios de seleção? Como e quando? Nos procedimentos de pesquisa, deve-se informar ainda quais métodos serão utilizados, quais critérios éticos serão adotados, que limitações a pesquisa vai sofrer, como os dados coletados serão analisados
11.3.2 População e amostra
Nem sempre o termo população refere-se a pessoas, mas sim, ao universo do fenômeno a ser pesquisado e do qual se pretendem válidos os resultados da pesquisa. A população pode ser uma turma de instrução, uma classe de incorporação, como também um conjunto de viaturas ou um número de casos a serem analisados.
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A amostra é uma parcela da população a ser pesquisada. Justifica-se o uso de amostra quando a população é muito grande, ou quando há algum impedimento em ar toda a população. Uma amostra bem selecionada permite que, sem que se pesquise toda a população, chegue-se a um resultado que corresponde, com pequenas margens de erro, ao resultado que seria obtido se toda a população fosse alvo da pesquisa. Grosso modo, é semelhante ao que fazemos quando experimentamos um bolo (população). Por uma fatia do bolo (amostra) podemos identificar os ingredientes do bolo, seu recheio, o número de camadas em que se divide e qual sua cobertura. Um dos fatores mais importantes quanto à amostra é que ela deve ser representativa do todo, da população, ou seja, deve representar em escala menor todas as principais variáveis importantes da população e que são o alvo da pesquisa. Quanto menor a população, tanto maior, em relação a ela, tende a ser a amostra. Para uma definição mais precisa quanto ao tamanho de uma amostra, critérios de escolha e suas margens de erro, pode-se recorrer às ferramentas disponibilizadas pela estatística. É importante destacar que, dependendo das características da pesquisa, pode não ser possível identificar claramente a população envolvida.
11.3.3 Instrumentos de pesquisa
Os instrumentos de pesquisa a serem planejados no projeto dependem de uma série de fatores, dentre os quais destacamos o tipo de pesquisa que se pretende realizar, o objeto de estudo da pesquisa, onde e com quem estão os dados necessários à resposta ao problema proposto e quais são os objetivos da pesquisa. De forma geral, os instrumentos de pesquisa mais utilizados são os seguintes: fichamento, observação, questionário, entrevista, formulário.
11.3.4 Cronograma
O cronograma é um quadro de planejamento em que cada atividade prevista para a realização da pesquisa está relacionada com o tempo em que se espera que aconteça.
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O cronograma é útil para dimensionarmos o que pretendemos fazer com o tempo de que dispomos para realizar a pesquisa. Serve para pesquisador e orientador controlarem a execução das tarefas previstas com base no fator tempo. A forma mais usual de elaborar um cronograma é começar do prazo final de entrega do relatório de pesquisa e retroceder até as etapas iniciais da pesquisa, incluindo a elaboração do Projeto de Pesquisa. Exemplo: Fases
ago. set. out.
Elaboração do projeto
X
X
Pesquisa bibliográfica
X
X
X
X
X
Elaboração e teste do instrumento de coleta de dados
nov. dez. jan.
X
Aplicação de instrumento de coleta de dados
X
X
Análise dos dados e discussão dos resultados
X
X
Elaboração do relatório final (monografia)
X
X
X
X
fev.
mar. abr mai . o
X
X
X
X
Revisão e impressão
X
Entrega da monografia
X
11.4 Referências
Dá-se o nome de referências à indicação completa das fontes utilizadas na elaboração do projeto de pesquisa, podem-se indicar obras ainda não pesquisadas, mas já identificadas como importantes para o tema que se pretende pesquisar. Em livros de metodologia mais antigos esta parte do projeto recebia o nome de “bibliografia”, termo esse descartado pela ABNT por não representar mais a totalidade de fontes hoje disponíveis em tempos de internet. Além disso houve uma dilatação do entendimento do conceito de documento.
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Todas as fontes citadas e discutidas na revisão da literatura devem constar das referências. ite-se ainda, no caso do projeto de pesquisa, a subdivisão das referências em documentos já pesquisados e em documentos a pesquisar. As referências devem: ser alinhadas pela margem esquerda, estar organizadas por ordem alfabética, separadas internamente por um espaço simples e uma da outra por dois espaços simples. Para um exato entendimento de como realizar uma referência, recomendamos a consulta ao capítulo 9 “Referências” deste manual.
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12 REDAÇÃO DE ARTIGOS CIENTÍFICOS rtigo RESUMO
Este trabalho, fruto de pesquisa bibliográfica sobre o processo de redação de artigos com finalidade de comunicação científica e da reflexão do autor sobre a prática de pesquisa na área tecnológica, apresenta orientações acerca de como redigir a comunicação científica no formato de artigo científico. Tem por objetivo estabelecer parâmetros para elaboração e avaliação de artigos científicos. É apontada a importância de observar-se os seguintes tópicos da redação acadêmica: a linguagem do texto; a organização do artigo; a construção do título; a redação do resumo; a apresentação do tema e da sua delimitação; a descrição das fontes de dados, materiais e métodos; a apresentação e discussão dos dados; a apresentação dos resultados. O trabalho reafirma a função do artigo científico como ferramenta acadêmica de comunicação sucinta das conclusões parciais – pesquisa em andamento – e dos resultados finais de uma investigação concluída.
Palavras-chave: artigos científicos; redação; comunicação.
12.1 Introdução
A publicação de artigos é uma das atividades desenvolvidas pelos pesquisadores e deve atender ao conceito que a comunidade científica tem de seu trabalho, assim como da própria ciência. Logo, se a ciência não é definida de forma única e fixa, tampouco o são suas manifestações, variando de acordo com sua finalidade, e adquirindo conotações diferentes, segundo a área e a formação do pesquisador. Apesar disso, algumas características são comuns a todas as áreas e, conseqüentemente, devem estar presentes nas publicações; entre elas, a lógica, a clareza e a precisão. Um artigo é um relatório escrito para ser publicado; descreve resultados originais de pesquisa, cuja forma atual deriva do aprimoramento da prática acadêmica, da ética, da necessidade de difusão do conhecimento, de práticas editoriais diversas e de uma forte interação entre procedimentos de impressão e publicação. Por exemplo, o Conselho de Editores de Biologia, dos Estados Unidos, um dos mais respeitados da comunidade científica, estabelece que o artigo é uma primeira comunicação científica e deve atender a alguns critérios, como: identificar as formas de observação dos dados; apresentar os elementos que
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permitam a repetição do experimento; evidenciar o processo de desenvolvimento intelectual do conhecimento. Essas informações têm como propósito permitir que a comunidade acadêmica possa avaliar os conhecimentos validos e proceder à divulgação mais rápida dos conhecimentos. Este é o conceito de artigo científico suposto no presente texto, que tem por objetivo transmitir algumas noções elementares àqueles que pretendem iniciar-se nesta área. Não se pretende aqui assumir um caráter dogmático, nem reivindicar qualquer originalidade, mas apenas registrar alguns pontos consensuais e indicações básicas, que podem ser encontradas em diversos manuais e na literatura específica. Não se deve esquecer que cada artigo constitui uma peça única em seu gênero, com soluções próprias para o desafio de comunicar a produção da ciência. Assim, os autores que desejem adotar a seqüência de elementos aqui apresentados deverão adaptá-los aos seus respectivos temas de pesquisa. Com esse intuito, serão, inicialmente, apresentadas algumas considerações gerais sobre o momento adequado para a elaboração do artigo, os principais elementos que o compõem, assim como a linguagem apropriada a ser utilizada. Em seguida, os elementos citados serão discutidos sucintamente.
12.2 O momento da elaboração
A redação do artigo deve ser iniciada durante a realização do trabalho de pesquisa. Isso permitirá uma reflexão ímpar acerca dos resultados obtidos, a qual poderá indicar a necessidade de outros dados, medidas, entrevistas ou análises, de obtenção mais fácil enquanto o equipamento estiver montado e disponível, as pessoas íveis, as condições avaliadas relativamente inalteradas e as informações coletadas recentes na memória do pesquisador. Por exemplo, suponha que se esteja estudando as condições de vida da população de uma certa região do Estado. Se a redação do artigo for feita um ano após a coleta dos dados, ao verificar-se qualquer deficiência, alguns parâmetros (por exemplo, indicadores econômicos) poderão ter sido alterados, por diversos fatores. Talvez não se encontrem as mesmas pessoas, talvez não se disponha dos recursos ou do tempo necessário para retornar ao local, entre inúmeros outras possibilidades. Se isso ocorrer, as conclusões da pesquisa e o artigo correspondente poderão ficar inviabilizados. É também verdade que o artigo não deve ser enviado imediatamente. De preferência, deve-se observar um “tempo de gaveta”. Se o trabalho estiver concluído às
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11h30min e for postado nos correios às 11h45min, é provável que muitos erros em despercebidos. Portanto, é aconselhável guardá-lo por alguns dias e voltar a lê-lo depois desse período, ou mesmo apresentá-lo a colegas e amigos para ouvir suas críticas. As pessoas que trabalham em áreas diferentes daquela do autor do artigo são as que, freqüentemente, percebem as dificuldades e incongruências do texto. É de bom alvitre ouvi-las.
12.3 A organização do artigo
A organização do artigo deverá atender às exigências específicas do veículo-alvo para publicação. Atualmente, diversos veículos disponibilizam versão eletrônica na Internet, contendo ora apenas os títulos, ora os resumos, algumas vezes o texto integral dos artigos dos últimos números, mas, via de regra, as instruções completas aos autores de artigos. A organização de um artigo em particular depende – além das exigências do assunto e do veículo escolhido – do fato de se tratar de um trabalho teórico ou experimental, da área de conhecimento e das características individuais de cada autor. Em qualquer caso, ou autor deve lembrar que o texto será analisado e julgado por seus pares, os quais esperam que ele contenha alguns elementos básicos. É muito comum que os pesquisadores se referiram ao objeto de sua pesquisa como problema. O conceito de problema confere unidade ao artigo. Ao ler uma publicação, esperase que ela responda às seguintes questões: a) Qual é o problema da pesquisa? (A resposta está na Introdução); b) Como ele foi estudado? (A resposta está em Materiais e Métodos); c) O que foi encontrado? (A resposta está em Resultados); d) O que isso significa? (A resposta está em Discussão). Os elementos citados nem sempre aparecem exatamente com esses nomes, e o espaço relativo que ocupam varia enormemente de um trabalho para outro. Todavia, de alguma forma essas quatro questões deverão ser respondidas. A característica mais importante de qualquer artigo, independentemente do número e do nome das seções, é a sua lógica interna. Essa lógica deve presidir desde a escolha do título e a apresentação do problema até a discussão dos resultados. As seções devem articular-se de forma coerente e com vistas a um objetivo bem determinado. Nada deve aparecer gratuitamente; entretanto, os pontos relevantes não devem faltar.
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12.4 A linguagem
A comunidade científica possui seu próprio vocabulário. Antes de se aventurar a publicar sobre qualquer assunto, procure apropriar-se do vocabulário de sua área de interesse. Isso significa ter o à interpretação (ou interpretações) do mundo compartilhada(s) por essa comunidade. A capacidade de analisar um problema depende dos símbolos de que se dispõe. Nas palavras de Wittgenstein (apud ALVES, 2000), “Os limites de minha linguagem denotam os limites de meu mundo”. Ao redigir um artigo, procure expressar-se em termos apropriados, da forma mais clara, direta, precisa e simples possível. Como já se disse, a melhor linguagem é a que dá o significado com o menor número de palavras. O domínio da linguagem pode ser desenvolvido com a leitura dos bons autores. Exemplos de relatórios bem elaborados são os do prefeito Graciliano Ramos ao governador do Estado. O poder de síntese desse autor e sua capacidade para encontrar o vocábulo apropriado à situação provavelmente estão entre as qualidades responsáveis, por, recentemente, um de seus romances (Vidas Secas) ser a única obra de ficção incluída em uma coletânea de leituras do povo brasileiro, ao lado de obras de autores como Florestan Fernandes e Gilberto Freire. Serão tratados sucintamente os seguintes elementos presentes nos artigos: o título, a listagem de autores e de endereços, os resumos, a Introdução, os Materiais e Métodos, os Resultados, a Discussão, os Agradecimentos e as Referências Bibliográficas.
12.5 O título do artigo e delimitação do tema
O título é um rótulo que com o menor número de palavras possível descreve com precisão o conteúdo do artigo. Deve-se dar atenção a ele. O título será lido por muitas pessoas, seja no artigo original, seja em revisões de literatura, em artigos de revisão, em referências de outros trabalhos, resumos, índices e assim por diante. Talvez poucos cheguem a ler o artigo integralmente, mas muitos lerão o título. Não há um tamanho mínimo para os títulos, desde que consigam expressar adequadamente o assunto, mas não devem ser muito longos. Títulos muito longos são menos significativos, menos eficazes. A maioria dos periódicos limita o número de palavras ou de caracteres (muitos estabelecem o máximo de quinze palavras). Este, por exemplo, seria um título inadequado para os dias atuais: Sobre a adição do método de pesquisa microscópica por
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um novo meio, o de produção de contraste de cor entre um objeto e seu fundo ou entre partes definidas do próprio objeto. Talvez servisse como parte do resumo, mas não como título. Há títulos que não restringem suficientemente o assunto. Analisemos o seguinte exemplo: Estudo sobre a Biologia da Lagoa da Pampulha. Será esse um bom título? Talvez. Ele não é muito longo. Se for substituído por Estudo sobre observações preliminares acerca da Biologia de algumas espécies vivas que habitam a Lagoa da Pampulha, percebe-se que, apesar de mais longo, não houve ganho algum na compreensão do conteúdo. Entretanto, pode-se perguntar: Foram estudadas todas as espécies? Talvez tenham sido efetivamente estudados apenas os aguapés, apesar de se estabelecer sua relação com o meio ambiente. Nesse caso, seria preferível escrever Estudo dos aguapés na Lagoa da Pampulha. Nesse ponto, surge uma nova questão: Que tipo de estudo foi realizado? Taxionômico, bioquímico, genético, médico? Considerando tais perguntas, um título mais aceitável seria Estudo da ação dos efluentes domésticos sobre os aguapés da Lagoa da Pampulha. Ele foi mais específico, mostrando que se deseja relacionar o aporte de efluentes domésticos e os aguapés que, durante muito tempo, cobriram boa parte da superfície da Lagoa. Ao refletir um pouco mais, talvez estejamos tentados a perguntar: Que tipo de ação foi estudada? A relação entre a composição dos efluentes e a tonalidade de cor dos aguapés? A seleção de subvariedades por esses efluentes? O tamanho médio dos indivíduos adultos? Talvez nada disso. Um título mais restritivo poderia ser Estudo sobre a relação entre a taxa de crescimento dos aguapés e os efluentes domésticos da Lagoa da Pampulha. Ficou um pouco mais específico, definiu melhor o trabalho realizado. Todo artigo é o resultado (parcial ou final) de um estudo, é o fruto de um trabalho e, ainda que não o fosse, tais palavras (“estudo” etc.) em nada modificam a compreensão do título; são, portanto, completamente desnecessárias. Uma proposta melhor seria A relação entre a taxa de crescimento dos aguapés e os efluentes domésticos da Lagoa da Pampulha. O título é um rótulo, não uma sentença. Por exemplo, A ß-endorfina está associada ao excesso de alimentação em camundongos e ratos geneticamente obesos. O verbo de ligação “está” pode ser eliminado sem perda de compreensão. Além disso, a presença do “está”, na forma como foi empregado, imprime um caráter dogmático ao título, incompatível com a visão atual da comunidade científica acerca de seu trabalho. Para efeito de clareza, os títulos também não devem conter abreviaturas, fórmulas químicas, nomes de proprietários, jargões e expressões similares. Por exemplo, é preferível escrever ácido clorídrico a HCl.
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Finalmente, há que se ter cuidado com a sintaxe. Títulos do tipo Redução de infecções produzidas no homem por antibióticos podem constituir uma armadilha. Os antibióticos estão produzindo ou reduzindo as infecções?
12.6 O Resumo
Depois do título, o resumo é a primeira parte do artigo consultada pelos leitores. Um resumo bem preparado permite identificar o conteúdo básico de um documento de forma rápida e precisa, para determinar sua relevância e decidir se há interesse em ler integralmente o documento. Os resumos não devem exceder 250 palavras. Essa limitação é praticamente um padrão entre os periódicos acadêmicos. Os resumos devem apresentar, de forma concisa, as seguintes ações básicas: a) estabelecer os objetivos principais da pesquisa; b) descrever a metodologia empregada; c) sumarizar os resultados; d) estabelecer as conclusões principais. O resumo não deve conter conclusões que não apareçam no artigo. Também não é usual incluir referências bibliográficas nessa parte do trabalho. Muitos jornais exigem o resumo em mais de uma língua. Um resumo em inglês (Abstract) é geralmente obrigatório, mesmo quando o periódico aceita textos em outras línguas. A prática das publicações, tanto nacionais quanto internacionais, é que os resumos – na língua vernácula e em outras línguas – sejam apresentados logo antes do texto principal. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) determina que os resumos em línguas distintas da praticada no documento venham após o texto. Como última sugestão, uma boa prática é redigir primeiro o corpo do artigo, deixando o resumo para o final, quando, então, se saberá todo o conteúdo que foi apresentado.
12.7 A Introdução do artigo
Para apreender o significado desta seção, consultemos o dicionário (FERREIRA, 1975, p. 167):
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Introdução (Do lat. Introductione) S. f. 1.Ato ou efeito de introduzir(-se). 2. issão em um lugar. (5) Artigo, estudo, e principalmente livro, que serve de preparação de estudo para uma matéria. Introduzir (Do lat. Introducere) V. t. d. 1.Fazer entrar; levar para dentro [grifos nossos].
A despeito de ser o óbvio, às vezes esquecemos que introduzir é levar para dentro quem está fora. No caso específico dos artigos, seu propósito é fornecer informações suficientes para permitir que o leitor compreenda e avalie os resultados do estudo, sem precisar se reportar a publicações anteriores que abordem o assunto. É fazer o leitor que está “por fora” ficar “por dentro” do assunto. Lembre-se: a Introdução não é um resumo; sua finalidade é “abrir” o trabalho. Uma boa introdução deve: a) apresentar com clareza a natureza e o escopo do problema investigado; b) revisar a literatura pertinente; c) estabelecer o método de investigação, justificando sua escolha; d) estabelecer os principais resultados da pesquisa. Não se deve deixar o leitor em suspense. Se redigir uma introdução que não seja efetivamente ‘inclusiva’, o autor pode contribuir para que se desista da leitura. Ao apresentar o escopo (os objetivos gerais) do trabalho, é necessário examiná-lo com bastante cuidado. Alguns propósitos não am de abstrações, a partir das quais é impossível reconhecer se foram (ou não) atingidos. É aconselhável especificar cada item, de forma a poder reconhecê-lo quando for encontrado no texto. Se na declaração de objetivos foram incluídas afirmações do tipo: “Desenvolver um método para formar bons cidadãos”; “Construir nos alunos um sentimento de apreço à escola” ou “Resolver o problema da Lagoa da Pampulha”, como se poderá saber se a pesquisa atingiu ou não seu objetivo? Poder-se-á entender que um bom cidadão é aquele que, independentemente de sua profissão, porte sempre uma arma de fogo para defender sua cidade dos criminosos; contudo, há quem, partidário do desarmamento, advogue o contrário. Uma expressão do sentimento de apreço à escola pode ser mantê-la permanentemente fechada, para não se degradar, ou permanentemente aberta, para melhor cumprir sua função social. Resolver o problema da Lagoa da Pampulha, para alguns, é aterra-la; para outros, é envolvê-la de prédios e arranhacéus; mas há quem defenda o tratamento dos efluentes domésticos e industriais antes de serem lançados na bacia hidrográfica da Lagoa. Declarações vagas de objetivos, que dificultam avaliar se foram efetivamente alcançados, podem fazer o sucesso dos políticos, mas são um desastre em ciência. É ainda de bom alvitre situar o problema em um contexto mais amplo, para ressaltar a importância do trabalho, distingui-lo dos anteriormente publicados, destacar sua originalidade e caracterizar sua contribuição efetiva para a ciência.
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Quanto à extensão, não há limite de palavras para esta seção, mas deve-se levar em conta diversos fatores, tais como o público-alvo, o nível de especialização da revista e a novidade das técnicas empregadas. Um público de especialistas, revistas que publicam apenas trabalhos de uma área do conhecimento muito restrita e técnicas tradicionais exigem menos informações para a compreensão do trabalho que um público heterogêneo, revistas gerais ou técnicas inovadoras. Portanto, este é o local adequado para definir termos especializados e abreviaturas.
12.8 Fontes de dados, materiais e métodos
O propósito principal desta seção é fornecer detalhes suficientes para que um pesquisador competente possa repetir e analisar o experimento ou as observações. A credibilidade do artigo dependerá em grande parte dos detalhes do experimento, apresentados nesta seção. Na Introdução, o método foi apenas citado; aqui, deve aparecer uma descrição completa. Algumas vezes, esta seção é identificada apenas com o nome do método ou do referencial teórico a ser descrito, o que deixa claro seu conteúdo: Aproximação da Função Envelope, Matriz Transferência, Metodologia de Projetos etc.
12.8.1 Fontes de dados e materiais
Deve incluir as especificações técnicas, as quantidades, a fonte e os métodos de preparação. Algumas vezes, é necessário listar as propriedades físicas dos materiais usados. Deve-se evitar o uso de marcas registradas e dar preferência aos nomes genéricos. Se houver diferenças conhecidas entre os produtos de diversas fontes e se elas forem críticas, é adequado usar o nome de marca e o nome do fabricante. Pessoas não são materiais; contudo, para efeito da pesquisa acadêmica, deve-se atentar para as informações relacionadas à caracterização do grupo estudado (favorecendo a análise e a replicação do estudo), bem como para a ética na obtenção e no trato das informações. Assim, se a pesquisa é feita com pessoas, é necessário que o critério de seleção seja descrito, e uma “declaração de autorização” seja enviada com o manuscrito, se o periódico assim o exigir.
113
12.8.2 Métodos
A ordem mais usual é apresentar os métodos na seqüência em que foram empreegados, isto é, cronologicamente. Esta é a primeira seção em que geralmente se usam subtítulos. Ao se referir a medidas e análises, há que ter precisão – por exemplo, se uma solução foi aquecida, deve-se informar a temperatura. Perguntas do tipo Como?, Quanto? e Quando? precisam ser respondidas. Análises estatísticas são geralmente necessárias, mas é preciso discutir os dados, não a Estatística. Se o trabalho não se referir aos métodos estatísticos em si mesmos, eles podem ser usados sem comentários. Métodos avançados ou não usuais podem exigir uma citação. Se o método for novo, ainda não publicado ou se apresentar modificações inovadoras, deve-se identificá-lo como tal, fornecendo todos os detalhes. Se o método já foi publicado em um jornal padrão, basta dar a referência bibliográfica. Se diversos métodos alternativos forem comumente empregados, será útil identifica-los brevemente e citar a referência – vale lembrar que “Os artigos científicos permitem que as experiências sejam repetidas.” (MEDEIROS, 2000, p. 184). Finalmente, deve-se evitar o erro comum de misturar o conteúdo desta seção com a de Resultados.
12.9 Resultados
Deve-se iniciar esta seção com uma descrição geral do experimento, sem, contudo, repetir os detalhes previamente fornecidos em Fonte de dados, Materiais e Métodos. Este item destina-se apenas à identificação da origem dos resultados pelo leitor. Eles devem ser apresentados numa seqüência que embase as hipóteses de trabalho. Os resultados são a parte mais importante. As seções anteriores serviram para explicar como se chegou até eles; as seções subseqüentes, para explicar o que significam. Os resultados podem aparecer sob a forma de texto, tabelas, figuras ou gráficos. Todas as tabelas, as figuras e os gráficos devem ser numerados por ordem de apresentação e citados no texto. Não se deve apresentar mais de uma vez os mesmos resultados. Por exemplo, os valores que aparecem em uma tabela não devem ser repetidos no texto. Se houver poucos resultados numéricos, estes devem, de preferência, aparecer apenas no texto, pois a construção das demais formas eleva o custo de impressão. Lembre-se
114
de que uma tabela e um gráfico têm funções distintas. Quando for necessário o valor preciso da medida, deve-se usar uma tabela; se o que interessa for apenas a forma de comportamento de uma variável em função de outra, então o gráfico será preferível. Exemplo: mediu-se a corrente em um dispositivo em função da diferença de potencial aplicada. A tabela em que são exibidas as duas grandezas apresenta os valores com a precisão fornecida pelos aparelhos, mas pode mascarar se a relação entre elas é linear (dispositivo ôhmico) ou não-linear, o que é evidenciado mais facilmente com o auxílio de um gráfico.
12.10 Discussão
Na discussão, discutem-se, não se recapitulam os resultados. Nesta seção, deve-se: a) apresentar os princípios, relações e generalizações mostradas pelos resultados; b) assinalar as exceções e falhas de correlação; c) mostrar em que medida os resultados e interpretações corroboram (ou discordam de) trabalhos publicados anteriormente; d) discutir as implicações teóricas e as aplicações práticas do trabalho; e) estabelecer as conclusões com clareza, relacionando-as com as hipóteses enumeradas na Introdução; f) sumarizar as evidências que dão e a cada conclusão. Alguns autores preferem tratar os itens a a d da Discussão juntamente com os Resultados, em uma seção denominada Resultados e Discussão, deixando os itens e e f para uma seção específica, denominada Conclusão. Freqüentemente, o significado dos resultados não é discutido; quando o discutem, não o fazem adequadamente. Se o leitor do artigo se perguntar – E então? – após a leitura da Discussão, há fortes chances de o autor ter se deixado emaranhar pelos dados, sendo incapaz de ressaltar a ligação entre eles. Um bom teste para a Discussão (Conclusão) é compará-la com a declaração de objetivos da Introdução. Os objetivos foram alcançados, as questões propostas foram respondidas? Finalmente, deve-se procurar estabelecer o significado do trabalho, destacando sua contribuição para a ciência e para a sociedade. É necessário cativar os leitores em potencial.
(Adaptado de SILVA, Fábio W. O autor é Professor Doutor em Física e leciona no CEFET-MG.)
115
13 REDAÇÃO CIENTÍFICA
Uma vez realizada a pesquisa, é necessário apresentá-la sob a forma de um relatório científico, que recebe diferentes nomes, conforme o grau a que se destina: Tese, para doutorado, Dissertação, para mestrado e Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) ou Monografia, para pesquisa realizada na graduação. Adotaremos o termo TCC para caracterizar todo o processo de pesquisa (projeto de pesquisa, pesquisa propriamente dita e relatório da pesquisa realizada). Na AMAN, o relatório da pesquisa será denominado de Monografia. Um relatório de pesquisa é constituído de elementos pré-textuais (antecedem o texto, informando sua identificação e utilidade), textuais (expõem a matéria do trabalho) e pós-textuais (complementam o trabalho).
13.1 Elementos pré-textuais
Antecedem o texto e contêm informações que auxiliam na identificação e utilização do trabalho apresentado. Cada item é apresentado em folha separada. (Ver modelo de monografia da AMAN.)
13.1.1 Capa
Parte externa do trabalho, na qual estão as informações indispensáveis à sua identificação: nome da instituição responsável; nome do autor; título do trabalho (que identifique o seu conteúdo); subtítulo, se houver, explicitando sua subordinação ao título; local e ano. Todas as informações devem ser claras, concisas e específicas, de forma a facilitar a consulta. (Ver Apêndices A e B.)
13.1.2 Folha de rosto
A folha de rosto contém: o nome do autor; o título e, se for o caso, o subtítulo; a apresentação dos objetivos do trabalho; o local; a data. É a primeira página do trabalho a ser contada, mas não recebe a impressão do número. Sua formatação é igual à da capa, com as seguintes exceções: - posição do nome do autor;
116
- apresentação dos objetivos do trabalho, devendo-se atentar para: . recuo do parágrafo; . alinhamento justificado; . espaçamento simples; . redução da fonte de impressão – tamanho 10. (Ver Apêndice C.)
13.1.3 Folha de aprovação
Item colocado após a folha de rosto, constituído de: nome do autor; título e, se for o caso, subtítulo; natureza do trabalho (projeto de pesquisa, trabalho de conclusão de curso, tese, dissertação); objetivo (aprovação do projeto de pesquisa, aprovação da monografia, grau ou título pretendido); nome da instituição; nome dos membros da comissão avaliadora, com espaço para suas s (no projeto de pesquisa, consta só o nome do orientador); local; data. A do orientador no trabalho de conclusão de curso é condição para que este seja avaliado. No caso do projeto de pesquisa, a do orientador é a autorização para o início da pesquisa. (Ver Apêndice D.)
13.1.4 Dedicatória
Elemento opcional. Texto conciso em que o autor presta homenagem ou dedica o trabalho. A dedicatória deve estar localizada na parte inferior da página, cuja formatação segue os parâmetros da capa. (Ver Apêndice E.)
13.1.5 Agradecimentos
Elemento opcional. O autor faz agradecimentos às instituições e/ou às pessoas que contribuíram de maneira relevante para a pesquisa. São contadas sete linhas para iniciar o título. (Ver Apêndice F.)
13.1.6 Epígrafe
Elemento opcional. O autor apresenta uma citação, relacionada ao assunto abordado no trabalho, seguida de indicação de autoria.
117
13.1.7 Resumo na língua vernácula
O resumo, elemento obrigatório, é constituído de uma seqüência de frases concisas e precisas. Não é uma simples enumeração de tópicos, mas fornece uma visão sucinta e clara da delimitação do tema, dos objetivos do trabalho, da metodologia utilizada, do conteúdo e das conclusões da pesquisa. Por isso, já na primeira frase deve abordar a essência do trabalho. A finalidade do resumo é apresentar uma visão sucinta e clara do conteúdo e das conclusões da pesquisa, fornecendo ao leitor subsídios para decidir se lerá todo o texto. Não deve ultraar quinhentos vocábulos e deve ser seguido das palavras representativas do conteúdo da pesquisa – palavras-chave e/ou descritores. (Ver Apêndice G.) O resumo expõe: - a delimitação do tema; - os objetivos; - a metodologia; - os resultados; - as conclusões.
13.1.8 Resumo em língua estrangeira
Em inglês: Abstract; em espanhol: Resumen. Versão fiel do resumo redigido na língua vernácula, do qual contempla os mesmos tópicos e tem formatação e estrutura semelhantes. Igualmente ao Resumo em vernáculo, seguem-se ao Resumo em língua estrangeira as palavras-chave e/ou descritores. (Ver Apêndice H.)
13.1.9 Lista de ilustrações
Elemento opcional. São ilustrações: desenhos, esquemas, quadros, fluxogramas, fotografias, gráficos, mapas, organogramas etc. A lista segue a ordem de apresentação das ilustrações no texto. Cada item deverá ter um título específico e será acompanhado do número da página em que se encontra.
118
13.1.10 Lista de abreviaturas e siglas
Elemento opcional. Consiste na relação alfabética das abreviaturas e siglas. Na primeira vez em que a sigla/abreviatura aparece no texto, deve vir acompanhada da expressão correspondente por extenso.
13.1.11 Lista de símbolos
Elemento opcional. Consiste na relação alfabética dos símbolos – sinais que substituem o nome de uma coisa ou de uma ação.
13.1.12 Sumário
Enumeração das principais divisões, seções e outras partes do trabalho, com os mesmos títulos, na mesma ordem e tipo de letra em que aparecem no TCC, com a indicação da página na qual se encontram. (Ver Apêndice I.) O sumário é elemento fundamental para a organização e apresentação do trabalho.
13.2 Elementos textuais
Parte principal do trabalho, em que é exposto o conteúdo; estrutura-se em introdução, desenvolvimento e conclusão. A construção de cada elemento textual a a divisão em seções ou subseções. O TCC deve ter entre 20 e 30 páginas textuais (da introdução à conclusão)1. Serão apresentadas a seguir algumas indicações sobre o que deve constar em cada parte do texto. (Ver Apêndice J.)
13.2.1 Introdução
Nos relatórios de pesquisa, na Introdução são apresentados: o tema; sua delimitação (contextualização no tempo, no espaço e na discussão teórica); os objetivos gerais do trabalho; a relevância da pesquisa; a estrutura do TCC, o que será tratado em cada capítulo. 1
No caso do projeto de pesquisa, o número de páginas é variável. Não há conclusão, uma vez que se trata apenas do planejamento de uma pesquisa a ser realizada.
119
Convém que na Introdução sejam apresentadas as necessárias definições dos termos empregados no desenvolvimento, assim como o problema formulado na pesquisa, a hipótese de trabalho e a metodologia utilizada.2 Geralmente, a introdução é o último texto a ser redigido. À semelhança do resumo, é local privilegiado para que o leitor seja estimulado a ler todo o trabalho.
13.2.2 Desenvolvimento
Também chamado de corpo do assunto, é a parte principal – e mais extensa – do texto. É a demonstração lógica do trabalho de pesquisa realizado e dos resultados obtidos. As ações típicas do desenvolvimento são: expor a metodologia, a teoria e os dados, demonstrar a confirmação ou a negação da hipótese de pesquisa e interpretar os dados à luz da teoria. O desenvolvimento será desmembrado em capítulos, partindo-se do mais simples para o mais complexo, de modo a apresentar o tema central de forma clara e encadeada. É importante distribuir as partes de forma eqüitativa. Convém evitar um plano de distribuição “facilitado”, que não exija do autor um esforço de reflexão e de ordenamento de idéias. (CERVO; BERVIAN, 1996). O desenvolvimento tem por finalidades expor, demonstrar e debater o problema à luz do “Referencial Teórico-Metodológico”: os fundamentos teóricos da pesquisa, a revisão da literatura e os itens metodológicos do estudo. Divide-se em dois capítulos principais: “Referencial Teórico-metodológico” e “Resultados e Conclusões”.
13.2.2.1 Referencial Teórico-metodológico
O capítulo Referencial Teórico-metodológico é obrigatório na monografia. Nele devem constar a revisão da literatura publicada sobre o tema e os antecedentes do problema de pesquisa, ou seja, deve ser apresentado o fundamento teórico a partir do qual foi construída a pesquisa. Devem ser apresentados ainda: o problema de pesquisa; a hipótese (com a definição clara das variáveis nela presentes); os objetivos gerais e específicos da pesquisa; os procedimentos metodológicos adotados.
2
Quanto ao conteúdo de cada parte textual de um projeto de pesquisa, ver o Capítulo 11 deste manual.
120
Os itens a ser apresentados neste capítulo devem ser redigidos de forma minuciosa. Não basta mencionar, é necessário explicar: qual a questão norteadora da pesquisa (problema); a resposta provisória a esse questionamento (hipótese); a partir de que base teórica (revisão da literatura); com quais objetivos; como foi efetuada a pesquisa (escolha do método, tipo de pesquisa, metodologia adotada para a coleta, análise e apresentação dos dados).
13.2.2.2 Resultados e Interpretação dos dados (o título fica a critério do autor)
Capítulo em que os dados coletados devem ser apresentados, analisados e interpretados. Deve-se responder a algumas perguntas: - O que foi encontrado na pesquisa? (descrição minuciosa dos resultados); - Qual o significado do que foi encontrado? (com base na teoria estudada na revisão da literatura); - De que maneira o que foi encontrado preenche as lacunas, confirma ou contradiz a teoria existente sobre o assunto? - A hipótese de pesquisa foi corroborada ou rejeitada? (explicar); - Qual a possibilidade de aplicação prática dos resultados obtidos? - É possível generalizar as conclusões a que se chegou? (inferência) - Quais as limitações e/ou avanços da pesquisa realizada? O capítulo “Resultados e Interpretação dos dados” pode ser subdividido, a critério do pesquisador. Obrigatoriamente, devem ser apresentadas: - a argumentação sobre a validade da hipótese; - a interpretação dos dados obtidos com base nas teorias estudadas; - a identificação de lacunas e contradições entre a teoria e os dados; - a contribuição/relevância da pesquisa; - as generalizações e conclusões acerca do problema de pesquisa; - a aplicação do conhecimento.
13.2.3 Conclusão
É a decorrência lógica de tudo o que foi apresentado, discutido e desenvolvido no texto. Consiste na síntese completa e sistematizada dos dados coletados, da argumentação e das reflexões feitas nas partes anteriores do trabalho. Retoma os objetivos apresentados na
121
introdução e corrobora ou refuta as hipóteses da pesquisa, destacando os dados e resultados mais significativos. Para Galliano (1986, p. 134), a conclusão “[...] é o ponto para o qual convergem a análise, a argumentação e a demonstração elaboradas no corpo do trabalho. E, por ser uma síntese final, deve também ser breve e concisa”. Não se ite apresentação de um fato novo na conclusão, tampouco é conveniente a apresentação de notas de rodapé ou citações. A conclusão deve apresentar a resposta ao problema apresentado na introdução, quer validando quer invalidando a hipótese de trabalho. É essencial a definição da posição do autor frente aos resultados obtidos; contudo, há que se tomar algumas precauções: [...] fique atento para não se sentir possuidor da “grande verdade”, porque, afinal, você tem apenas um fragmento de evidência. Por fim, lembre-se de que sua tese é a sua contribuição para a massa de conhecimentos existentes. Então, ao estabelecer suas “Conclusões”, seja muito claro (VIEIRA, 1999, p. 44).
A conclusão é também o local adequado para sugerir temas (correlatos ao tema pesquisado) que possam ser objeto de novas pesquisas.
13.3 Elementos pós-textuais
Apresentados após os elementos textuais, complementam o trabalho. Há alguns itens obrigatórios e outros opcionais. Deve-se observar a seqüência de apresentação. Os elementos pós-textuais, cujos títulos ficam centralizados, “[...] devem ser numerados de maneira contínua, e sua paginação deve dar seguimento à do texto principal.” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2005, p. 8). Dos elementos póstextuais, apenas as referências são obrigatórias.
13.3.1 Referências
As referências são o “Conjunto padronizado de elementos descritivos retirados de um documento, que permite sua identificação individual”. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2005, p. 8). Inclui tanto os elementos citados quanto os apenas consultados, numa única relação. São alinhadas pela margem esquerda e organizadas por ordem alfabética. Devem ser digitadas em espaço simples e separadas por dois espaços simples. (Ver Apêndice L.) É importante observar a atualidade e a pertinência das referências, pois demonstram a qualidade da pesquisa realizada.
122
O material de metodologia de pesquisa não deve figurar nas referências.
13.3.2 Glossário
Elemento opcional, elaborado em ordem alfabética. Trata-se do vocabulário para a elucidação de palavras ou expressões técnicas de uso ou de sentido obscuro, utilizadas no trabalho. Objetiva facilitar a compreensão do sentido do que foi escrito.
13.3.3 Apêndices
Elemento opcional. Os apêndices são os questionários, as entrevistas, os roteiros de observação, os gráficos, as tabelas e as imagens que foram produzidos pelo autor do TCC, a fim de complementar sua argumentação. Esses materiais são ordenados alfabeticamente e devem receber títulos, indicados no sumário.
13.3.4 Anexos
Elemento opcional. Os anexos são documentos, quadros, ilustrações, tabelas etc. não produzidos pelo autor. São ordenados alfabeticamente e devem receber títulos, que constam no sumário. Nos anexos são obrigatórias as indicações das fontes das informações. Para melhor visualização da estrutura da monografia, do projeto de pesquisa e do artigo científico, apresentamos a seguir a tabela 2.
123
Tabela 2 – Estrutura de um artigo, de um projeto de pesquisa e de uma monografia Estrutura
Elementos
Artigo
Projeto de
científico
pesquisa
Capa
__
(obrigatório)
(obrigatório)
Lombada
__
__
(opcional)
Folha de rosto
__
(obrigatório)
(obrigatório)
Errata
__
__
(opcional)
Folha de aprovação
__
(obrigatório)
(obrigatório)
Dedicatória
__
__
(opcional)
Pré-
Agradecimentos
__
__
(opcional)
textuais
Epígrafe
__
__
(opcional)
Resumo
Monografia
em
língua
(obrigatório)
__
(obrigatório)
em
língua
(obrigatório)
__
(obrigatório)
Lista de ilustrações
(opcional)
__
(opcional)
Lista de tabelas
(opcional)
__
(opcional)
Lista de abreviaturas
(opcional)
__
(opcional)
Lista de símbolos
(opcional)
__
(opcional)
Sumário
(opcional)
(opcional)
(obrigatório)
Introdução
(obrigatório)
(obrigatório)
(obrigatório)
Desenvolvimento
(obrigatório)
(obrigatório)
(obrigatório)
Conclusão
(obrigatório)
__
(obrigatório)
Referências
(obrigatório)
(obrigatório)
(obrigatório)
Glossário
(opcional)
(opcional)
(opcional)
Pós-
Apêndice
(opcional)
(opcional)
(opcional)
textuais
Anexo(s)
(opcional)
(opcional)
(opcional)
Índice
(opcional)
__
(opcional)
vernácula Resumo estrangeira
Textuais
Fonte: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14724: informação e documentação: trabalhos acadêmicos: apresentação. Rio de Janeiro, 2002. p. 3 (com adaptações).
124
13.4 Formatação do trabalho científico
Existem normas a ser seguidas e que tornam o relatório de pesquisa (monografia, dissertação ou tese) apresentável em termos acadêmicos3. A redação acadêmica, segundo Lakatos e Marconi (1992, p. 173), “[...] é uma exposição bem fundamentada do material recolhido, estruturado, analisado e elaborado de forma objetiva, clara e precisa”. Mostraremos as principais normas para a apresentação escrita do trabalho de conclusão de curso (monografia) que visam a padronizá-lo e facilitar sua análise. Tais normas, no que couber, são válidas também para o projeto de pesquisa e para o artigo científico. Deve-se imprimir o relatório em papel branco tamanho A4 (21cm x 29,7cm), com fonte na cor preta, exceção feita às ilustrações. Utiliza-se somente o anverso das folhas para a impressão. A Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT (2002) recomenda a utilização de fonte tamanho 12 no texto, e o mesmo tipo de fonte, em tamanho 10, para citações diretas de mais de três linhas, notas de rodapé, paginação e legendas das ilustrações e das tabelas. Nos Trabalhos de Conclusão de Curso da AMAN, utilizar-se-á a fonte Times New Roman tamanho 12.
13.4.1 Margens
As margens devem ser configuradas para a seguinte formatação: esquerda e superior de 3cm, direita e inferior de 2cm. Para alinhamento da margem direita, não devem ser usados barras, travessões ou quaisquer sinais gráficos.
13.4.2 Espacejamento
No corpo do texto, deve ser utilizado o espaçamento 1,5, exceção feita às citações diretas de mais de três linhas, notas de rodapé, referências e legendas das ilustrações e tabelas, que devem estar em espaço 1,0. No final do trabalho, as referências devem figurar em ordem alfabética, separadas entre si por dois espaços simples. Para separar os títulos das subseções do texto, utilizam-se dois espaços 1,5. Recomenda-se iniciar cada capítulo em uma nova página, na parte superior, com o
3
Normas igualmente válidas para a redação de artigos científicos e de projetos de pesquisa.
125
título alinhado à esquerda, precedido de indicativo numérico em algarismos arábicos, do qual é separado por um espaço de caractere, sem ponto. Os títulos sem indicativo numérico – agradecimentos; resumos; lista de ilustrações; lista de tabelas; lista de abreviaturas e siglas; lista de símbolos; sumário; referências; glossário; apêndice(s); anexo(s) e índice(s) – devem ser centralizados. Já a folha de aprovação, a dedicatória e a epígrafe não têm nem indicativo numérico nem título. O início de cada parágrafo deve ficar recuado oito espaços da margem esquerda.
13.4.3 Notas de rodapé
As notas de rodapé são digitadas dentro das margens, separadas do texto por um espaço e por um filete de cerca de 3cm. O editor de texto Word faz a inclusão automática da nota de rodapé, bastando selecionar o local de entrada do expoente numérico. A nota de rodapé e seu expoente numérico devem estar na mesma página.4 Cabe ressaltar que, se a nota de rodapé for escrita em mais de uma linha, a partir da segunda, o texto é digitado sob a primeira letra da primeira linha, de modo a destacar o expoente.
13.4.4 Paginação
Contam-se seqüencialmente as folhas a partir da folha de rosto, devendo ser numeradas, a partir da primeira página da introdução, no canto superior direito da folha, em algarismos arábicos, sem traços, pontos ou parênteses. Havendo apêndice e anexo, são numerados em seqüência à numeração da parte textual. (Ver nota de rodapé abaixo.)
13.4.5 Numeração progressiva
Para uma melhor distribuição do conteúdo do trabalho, recomenda-se utilizar a numeração progressiva, em algarismos arábicos, para as seções do texto. As seções primárias (capítulos) podem ser divididas em seções secundárias; as secundárias, em terciárias, e assim por diante. Recomenda-se limitar a divisão das seções até a quinária. 4
Notas de rodapé devem ser evitadas. Quando necessárias, têm a finalidade de indicar bibliografia adicional, fazer observações complementares, realizar remissões internas e externas ou fornecer o original de um texto traduzido. As indicações das fontes das citações deverão ser feitas no próprio texto.
126
Visando a tornar clara essa divisão, os títulos das seções são destacados, utilizando-se os recursos de negrito, itálico ou grifo e maiúsculas. A forma de destaque utilizada no texto deve ser idêntica à do sumário. Exemplo: 1 SEÇÃO PRIMÁRIA 1.1 Seção secundária 1.1.1 Seção terciária 1.1.1.1 Seção quaternária 1.1.1.1.1 Seção quinária
13.4.5.1 Alíneas
Quando necessário, utilizam-se ainda alíneas, com a seguinte apresentação: a) o trecho final da seção correspondente, anterior às alíneas, termina em dois pontos; b) as alíneas são ordenadas por letras minúsculas seguidas de parênteses; c) as letras indicativas das alíneas são reentradas em relação à margem esquerda; d) a matéria da alínea começa por letra minúscula e termina em ponto-e-vírgula. Nos casos em que seguem subalíneas, estas terminam em vírgula. A última alínea termina em ponto; e) a segunda e as seguintes linhas da matéria da alínea começam sob a primeira letra do texto da própria alínea. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1989, p. 2)
13.4.6 Siglas
Quando aparecer pela primeira vez uma sigla no texto, esta será colocada entre parênteses, após a menção da forma completa do nome. Exemplos: Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN); Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT); Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Garantia da Lei e da Ordem (GLO); Seção de Instrução Especial (SIESP).
13.4.7 Ilustrações
Entende-se por ilustrações: desenhos, esquemas, fluxogramas, fotografias,
127
gráficos, mapas, organogramas, plantas, quadros, retratos etc. Devem estar próximas, o mais possível, da parte do texto a que se referem, obedecendo às margens do trabalho. As ilustrações são identificadas por seu título específico (desenho, fotografia etc.) ou legenda explicativa, seu número de ordem de ocorrência no texto, em algarismos arábicos (por exemplo: Esquema 3) e a citação da fonte. Essa identificação é colocada abaixo da ilustração.
Exemplo:
REQUISITOS
a) ANUNCIAR O ASSUNTO
OS
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8.
b) E COMO SERÁ DESENVOLVIDO
Idéia geral Problemas Delimitar Situar Mostrar a importância Justificar Definir os termos Documentação Metodologia
9. Idéias-mestras do desenvolvimento 10. Plano de desenvolvimento
Figura 5 – Esquema da Introdução Fonte: CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino. Metodologia científica. 4. ed. São Paulo: Makron Books, 1996. p. 82.
13.4.8 Tabelas
Tabelas são apresentações sintéticas e auto-explicativas. A identificação da tabela é apresentada, horizontalmente, acima dela. É composta por sua palavra designativa (Tabela), seu número de ordem de ocorrência no texto e pelo título ou legenda explicativa. A fonte de onde foi extraída é indicada abaixo da tabela. Caso tenha sido elaborada pelo autor do texto, coloca-se: Fonte: o autor.
Exemplo:
128
Tabela 1 – Taxa de Juros Selic - Acumulados MÊS/AN O
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
0,00 % 2,58 % 1,73 % 2,67 % 2,18 % 1,46% 1,27% 1,53%
1,97% 1,27%
Fevereiro 3,63 % 2,35 % 1,67 % 2,13 % 2,38 % 1,45% 1,02% 1,25%
1,83% 1,08%
Março
2,60 % 2,22 % 1,64 % 2,20 % 3,33 % 1,45% 1,26% 1,37%
1,78% 1,38%
Abril
4,26 % 2,07 % 1,66 % 1,71 % 2,35 % 1,30% 1,19% 1,48%
1,87% 1,18%
Maio
4,25 % 2,01 % 1,58 % 1,63 % 2,02 % 1,49% 1,34% 1,41%
1,97% 1,23%
Junho
4,04 % 1,98 % 1,61 % 1,60 % 1,67 % 1,39% 1,27% 1,33%
1,86% 1,23%
Julho
4,02 % 1,93 % 1,60 % 1,70 % 1,66 % 1,31% 1,50% 1,54%
2,08% 1,29%
Agosto
3,84 % 1,97 % 1,59 % 1,48 % 1,57 % 1,41% 1,60% 1,44%
1,77%
Setembro 3,32 % 1,90 % 1,59 % 2,49 % 1,49 % 1,22% 1,32% 1,38%
1,68%
3,09 % 1,86 % 1,67 % 2,94 % 1,38 % 1,29% 1,53% 1,65%
1,64%
2,88 % 1,80 % 3,04 % 2,63 % 1,39 % 1,22% 1,39% 1,54%
1,34%
Dezembro 2,78 % 1,80 % 2,97 % 2,40 % 1,60 % 1,20% 1,39% 1,74%
1,37%
Janeiro
Outubro Novembr o
Fonte: BRASIL. Ministério da Fazenda. Receita Federal. Disponível em:
. o em: 27 ago. 2006.
13.4.9 Equações e fórmulas
Para facilitar a leitura, as equações e as fórmulas aparecem destacadas no texto, sendo permitido usar uma entrelinha maior para comportar seus elementos (expoente, índices etc.). Quando destacadas do parágrafo, são centralizadas e, se necessário, numeradas. Caso não caibam em uma mesma linha, devem ser fragmentadas antes do sinal de igualdade, ou depois dos sinais de adição, subtração, multiplicação e divisão.
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